Centelha por Viriato Caetano Dias ( [email protected] )
“Tal como o poder político, também alguma comunicação social é muito forte com os que lhe parecem ser fracos e cobardemente fraca com os fortes cujos poderes a manietam”. Citando Artur Baptistada Silva, cidadão português
É conhecido por alguns a minha liça contra os ideais belicistas da Renamo. Não consigo conceber que um partido que se considera ser uma “maternidade” da democracia no país, abdica dos métodos pacíficos de resolução de conflitos, para atiçar o ódio entre irmãos e adubar a instabilidade político-militar existentes, capitalizando ainda mais os problemas que enfermam o povo moçambicano.
A gesta moçambicana está carregada de infinidade de páginas sobre a crueldade da guerra, por isso reforço o meu apelo para que a Renamo opte sempre pelo diálogo e que use, sabiamente, a liberdade que tem como partido político, reivindicando, democraticamente, o que entender como errado, não só para a correcção dos problemas comuns dos moçambicanos, mais também e fundamentalmente, para o engrandecimento desta maravilhosa pátria amada.
No leque das suas reivindicações, é difícil discordar de um facto tão cristalino, que me causa pura consternação e chamusca a imagem do Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi. A actuação da Rádio Moçambique – Antena Nacional (RM) é desastrosa para com os partidos da oposição, contrariando, destarte, os esforços do Presidente Nyusi na construção de um Estado pluralista, caracterizado pela ausência de promiscuidade entre os seus órgãos. A RM pauta pelo estrabismo político e falta de profissionalismo, quando tenta silenciar as acções dos partidos da oposição.
É absolutamente vergonhoso. Por vezes, chega-se a confundir a RM com um dos braços políticos do partido no poder. Paga com os impostos de todos os moçambicanos e para servir os superiores interesses da nação, infelizmente, a RM é um exemplo nítido de partidarização do Estado. Nos noticiários, enfim, na generalidade dos seus programas, nota-se um comportamento tendencioso em sublimar o partido no poder, em detrimento dos partidos da oposição. Em igual circunstância, a RM aplica o velho truque de “um peso, duas medidas.”
Porquê? Porque pretende-se prestar falsa solidariedade a um partido maduro por forma a perpetuar refeição a quem está na pilotagem desta aberrante campanha. Por razões de carácter não acredito que o Presidente Nyusi tenha dado deferência à RM para dirigir imprecações contra os partidos da oposição, especialmente à Renamo. Não revejo no Presidente este comportamento, muito menos na actual direcção da Frelimo, porquanto ambos estão profundamente comprometidos com a paz.
A RM possui bons profissionais (alguns deles são referências mundiais em matéria de jornalismo), mas estão a desvirtuar esse profissionalismo e carácter pessoal, quando, complacentemente, aceitam a destruição dos valores da RM. Eu sou do tempo em que a RM era de todos e para todos.
Era isenta na informação. Isenta nas reportagens. Isenta nos debates. Isenta na opinião. Isenta no ser e estar. Isenta no pensamento e nas acções. Era, por assim dizer, uma rádio que abraçava a todos (mesmo aqueles que tudo fizeram para não o merecer). Sempre tiveram um espaço, um lugar, um amigo sorridente, uma escola, um microfone.
Naquele tempo (longe de mim qualquer saudosismo) a verdade e o profissionalismo não estavam hipotecados ao vil metal. Não havia leis em abundância, mas o respeito constituía o denominador comum. E hoje? Está tudo ao avesso.
Nem a previsão do estado do tempo escapa, porque preocupa-se com a banalidade. A RM também já não aglutina os interesses dos moçambicanos, porque ocupa-se das publicidades roedoras dos valores morais da sociedade.
A RM deixou de ser sinónima de festa e transformou-se num ambiente de cemitério. A quem interessa este estado clínico da RM? Se tivéssemos um organismo regulador e/ou um provedor do ouvinte, à semelhança do que acontece em Portugal, julgo que a RM estaria muito bem caminhada.
Os programas de renome que durante anos gracejaram a simpatia do povo, hoje caíram no descrédito. Afora isso, é uma RM que não promove as músicas moçambicanas de raiz. Promove, sim, a música jovem moçambicana com nuances de outras culturas que nada tem a ver com Moçambique. É raro ouvir com regularidade Lázaro Vinho, Carlos Figueira, Dom Máximo, Mussa Rodrigues, Zena Bacar, Camal Givá, Magid Mussa, Thaz, Xadreque Mucavele, Tito Chichava, João Chitima, Fany Mpfumo, etc., etc., etc. É desta forma que queremos construir um Moçambique melhor? Zicomo(Obrigado).
PS: Aproveito o ensejo para mandar um grande abraço ao locutor Paulo Brito, que parece ser o único que, apesar do revés, continua a pautar pela valorização daquilo que é genuinamente moçambicano.
WAMPHULA FAX – 27.07.2015