Tomaz Salomão recua aos últimos 40 anos e aponta o futuro. Diz que um entendimento entre o Governo e a Renamo é fundamental, e comenta o alerta amarelo à dívida e o futuro da SADC
Antes da Independência (1972 e 1974) participou nos movimentos estudantis anti-guerra colonial (Moçambique, Angola e Guiné-Bissau). O que faziam para acelerar a independência desses povos e a de Moçambique em particular?
Vivíamos uma conjuntura difícil. A Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE) era um instrumento de repressão terrível. Os movimentos estudantis caracterizam-se pela rebeldia e, por isso, eram vistos como alvos pela PIDE. Agíamos no contexto da Associação Académica de Moçambique e tínhamos os nossos líderes, como Ivo Garrido, detidos com outros estudantes por terem tomado posição na sequência de contactos que tínhamos com estudantes de outros quadrantes e professores portugueses trazidos da metrópole para as colónias devido à atitude anti-colonial. Tudo isto fazia com que o despertar da guerra anti-colonial crescesse entre nós. Aliás, o estudante, quando atingia 18 anos, era obrigado ao recenseamento militar e, depois, tinha que passar de classe; se não, ia para tropa e, por isso, alguns colegas nossos morreram. E perguntávamos “na guerra onde?”. E diziam: “em Cabo Delgado, Niassa, Tete”… Isto foi despertando nos estudantes uma atitude que era associada às informações anti-coloniais que recebíamos na Europa e fazia crescer uma atitude anti-fascista. Por via disto, e gradualmente, de maneira secreta, fomos sabendo que havia uma coisa que se chamava “Voz da Frelimo”, que transmitia às quartas-feiras, às 18h15. E de modo muito clandestino e forma humilde íamos ouvindo a Voz da Frelimo. Aprendi a fazer isso em 1972 – 1973, quando comecei a ouvir a voz da Rosália Tembe e do falecido Rafael Magune.
Foi por rebeldia juvenil que, em 1974, participou activamente contra o movimento África Livre, que se opunha à transferência do poder para a Frelimo prevista nos Acordos de Lusaka.