Ainda estamos a trabalhar!
- Falta de vontade política, é como a oposição parlamentar interpreta o tipo de respostas que têm estado a ser dadas pelas autoridades governamentais
Numa altura que a Polícia da República de Moçambique (PRM) continua a apresentar uma imagem pública completamente nublada, uma vez mais, o titular da pasta do Interior, voltou, esta quarta-feira, na Assembleia da República (AR), a recorrer a lamentações e promessas de um “futuro melhor”. Sempre na ladainha da simplista justificação do “estamos a trabalhar”, o ministro do Interior, Basílio Monteiro, encontrou justificação confortável para fugir da pergunta feita pela bancada parlamentar da Renamo que, na verdade, queria saber do ponto de situação em relação à investigação do bárbaro assassinato do Professor Doutor, Gilles Cistac.
Na habitual sessão de perguntas ao governo, a bancada parlamentar da Renamo exigiu que o ministro do Interior desse o real e detalhado ponto de situação em relação à investigação que iniciou (ou deveria ter iniciado), logo depois da ocorrência que ceifou a vida daquele que fora director adjunto para investigação e extensão na Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane (UEM).
Gilles Cistac foi o primeiro académico nacional a defender publicamente e a provar com argumentos técnico/jurídicos que os deputados da Renamo não perdiam o mandato na AR em caso de não tomarem posse. Cistac foi também o primeiro académico nacional a defender, publicamente, o projecto da autarcização provincial, defendida, até hoje, com unhas e dentes, pela Renamo e Afonso Dhlakama.
Barbaramente assassinato por volta das 9 horas do dia 3 de Março do corrente ano, a Renamo questionou a Basílio Monteiro como estavam as investigações do caso, passados 122 dias depois da ocorrência.
A Renamo queria assim ter informação detalhada e esclarecedora das reais circunstâncias e razões subjacentes no assassinato por considerar que 122 dias é tempo suficiente para as autoridades policiais darem informações mais substanciais.
“A este respeito, gostaríamos de informar que o governo da República de Moçambique reitera o seu repúdio e condenação veemente a este e outros actos similares” – assim começou Basílio Monteiro, para continuar nos seguintes termos: “neste sentido, o Ministério do Interior, no quadro das suas atribuições e competências, está a trabalhar através dos ramos competentes da PRM, com vista a identificar e neutralizar os autores do assassinato do professor Gilles Cistac e consequente esclarecimento das circunstâncias em que este crime e outros da mesma natureza foram cometidos tendo como vítimas cidadãos moçambicanos e de outras nacionalidades”- avançou Basílio Monteiro, provocando vaias e apupos das duas bancadas da oposição, por considerarem que a justificação revela falta de vontade política por parte do governo do dia.
“Queremos reafirmar a vossas excelências o empenho e determinação do Ministério do Interior em tudo fazer com vista ao seguimento das diligências necessárias com vista a localização dos suspeitos de todos os crimes para posterior responsabilização criminal dos mesmos” – reiterou Basílio Monteiro, para mais apupos das duas bancadas da oposição, mas com palmas dos deputados da bancada parlamentar da Frelimo.
Logo após à morte e tendo em conta que as ideias defendidas publicamente por Gilles Cistac iam completamente de acordo às pretensões da oposição e claramente contra os pontos de vista do governo e do partido Frelimo, publicamente ficou a imagem de que o governo e a Frelimo estavam por detrás do assassinato. Aliás, dias antes, circulavam nas redes sociais apelos para o assassinato de Gilles Cistac, ao mesmo tempo que usando os meios de comunicação social públicos (Rádio Moçambique e Televisão de Moçambique), vários analistas “independentes” e pró-regime avançavam com uma frente que visava matar o carácter de Gilles Cistac, apelando ao ódio e ao racismo.
Dias antes da morte, recorde-se, Cistac remeteu uma queixa na Procuradoria-Geral da República denunciando estar a receber ameaças de morte e dias depois, a família do finado remeteu uma queixa na procuradoria francesa.(Ilódio Bata)
MEDIA FAX – 02.07.2015