Enquanto agentes da Polícia e professores recebem ninharias, o deputado da Renamo António Muchanga diz que há dirigentes do MPDC que auferem quase um milhão e meio de meticais por mês.
O primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário, disse na passada quinta-feira, dia 23, no parlamento, na sessão de perguntas ao Governo, que não é altura de melhorar os salários dos funcionários públicos, nomeadamente da Polícia e dos professores, alegando que a economia moçambicana ainda não permite. Carlos Agostinho do Rosário respondia à questão da Renamo de saber qual é a base de fixação de salários mínimos e máximos praticados em cada sector de actividade. A resposta do primeiro-ministro não convenceu
a Renamo que diz que há um enorme desnível entre o mínimo e o máximo. Segundo a Renamo, o mínimo situa-se aquém do esforço do trabalhador e do real custo de vida no país. A Renamo diz que há na Função Pública os que ganham pouco, e outros que levam “sacos” de dinheiro para casa. O deputado da Renamo António Muchanga, sem citar nomes, diz que há funcionários do MPDC (Porto de Maputo) que auferem 1.300.000,00 meticais por mês. Muito recentemente, os funcionários daquela empresa paralisaram as suas actividades em reivindicação de melhores salários. Em resposta, a empresa convocou os serviços da Unidade de Intervenção Rápida.
“Os argumentos apresentados para justificar a política salarial que vigora no país não podem ser aceites, porque o mesmo Governo que diz não ter dinheiro para remunerar bem os polícias, professores e pessoal de saúde tem recursos para pagar bem a PCA’s e administradores das empresas públicas”, disse António Muchanga durante a sessão de perguntas ao Governo.
Para rebater a tese do Governo sobre a falta de recursos, Muchanga recorre aos salários astronómicos que o Estado paga a dirigentes do MPDC. Segundo Muchanga “alguns membros do Conselho de Administração ganham até 1.300.000,00 (Um Milhão e Trezentos Mil) meticais por mês”. Um docente N3, por exemplo, da categoria “E”, ganha 4779,00 (Quatro Mil e Setecentos e Setenta e Nove) meticais, quer dizer, 272 vezes menos do que aqueles membros de Conselhos de Administração, o que significa que um professor terá que trabalhar durante 22 anos da sua vida até conseguir receber tanto quanto um membro de um Conselho de Administração recebe em um só mês. Muito recentemente, os professores tiveram um aumento de 10%. Segundo o primeiro-ministro, esse aumento é tudo o que a economia moçambicana pode dar.
“Dirigentes comem com conja e povo come com colher de chá”
“Não faz sentido que no mesmo Estado haja funcionários que comem pela medida grande enquanto outros comem pela medida pequena, o que se assemelha a dirigentes que comem com a concha ou colher de pau, e o povo a comer com colher de chá”, disse Muchanga, para quem esta maneira de fazer a gestão dos recursos públicos “é danosa e está a criar conflitos que estão “há 8 meses sem as suas remunerações.” Trata-se de guardas que terminaram o curso em Novembro de 2014, mas que, até hoje, não auferiram os seus ordenados.
Muchanga chama atenção para o facto de alguns servidores públicos, como a Polícia e os guardas, trabalharem com situações delicadas, de risco. E, por isso, entende o deputado, “devem ter maior cuidado e concentração [por parte do Governo], dada a delicadeza do seu trabalho.” (André Mulungo)
CANALMOZ – 28.07.2015