Algo todos estão saturados de ouvir repetidamente os mesmos discursos sobre os mesmos temas, promessas em palavras e sem efeitos na realidade que vivemos no quotidiano.
O que diz a Constituição sobre a agricultura? O que apregoam todos os discursos do distrito à nação sobre a revolução verde? O que ensinam todos os dados e indicações estatísticas acerca das carências alimentares previsíveis num futuro próximo para Humanidade? O que constatamos sobre as bolsas de fome no nosso país, as importações de cereais, hortícolas, vegetais, legumes, batata e arroz que tanto custam ao erário nacional?
Quais as realidades?
Mataram-se as Casas Agrárias, quer nas zonas verdes urbanas, quer no campo. A elas estava confiada a missão:
De distribuir insumos, das sementes aos pesticidas e adubos;
Ensinar o produtor a produzir os adubos orgânicos e a usá-los, em vez de queimar o capim, as folhas, a palha do coco, deitar fora o estrume dos animais;
Transmitir conhecimentos para sucessivamente passar-se à tracção animal e depois à mecânica;
Construir açudes e pequenas barragens para irrigar as terras, prevenir as inundações e minimizar os efeitos das secas;
Integrar em actividades produtivas os técnicos agrários, os agrónomos e veterinários, em fez de os deixar apodrecer nos trabalhos da burocracia.
Reconheço que para concebermos as Casas Agrárias muito vimos e aprendemos do que o apartheid fez para promover os agricultores boers. Dava-lhes ensinamentos, comprava e processava a produção em todos os distritos e, ao comercializar, uma parte do lucro revertia para quem vendera o milho, o trigo, a batata etc. Quisemos, começamos e depois os de fora do país mandaram parar. A Grécia começou aqui! Obedecemos a Bretton Woods e a Europa, para nosso mal.
Comida, paz e segurança fazem parte das exigências mínimas de qualquer sociedade e das pessoas.
Sempre aqui se afirmou que a Agricultura é a base do desenvolvimento e a Indústria o seu factor dinamizador. Precisamos que o discurso se torne realidade, que o têxtil dinamize o algodão, as moageiras façam viver o milho, o trigo e o arroz. Esperemos que o governo saído das eleições de 2014 comece a responder com acções e não com palavras.
Quem periga a paz e a segurança de que necessitamos para viver, trabalhar, descansar? Não afirmou nestes dias o Ministro do Interior na Assembleia da República de que no país há uma média diária de 41 crimes?
À cabeça dos inimigos da paz e segurança estão as criaturas que a Rodésia e o apartheid nos recambiaram para o nosso país. Autênticos sociopatas deleitam-se na morte e destruição em nome da tal democracia aprendida nos bancos dos ultra-colonialistas e racistas da Rodésia e da Inteligência Militar do velho regime de Pretória.
Os polícias que se amontoam durante o dia para pedirem refresco sob o pretexto de controlarem o trânsito e desaparecem tão logo anoitece.
A indiferença total pela violação contínua das normais mais básicas de trânsito pelos ditos chapa tão superlotados como apressados? Ultrapassando de qualquer maneira, parando onde bem lhes apraz, sem luzes, pneus gastos, travões inexistentes? Quantos matam eles por semana?
Bairros inteiros muito povoados sem qualquer patrulha e os moradores queixando-se de assaltos, violações, roubos e até assassinatos tantas vezes com armas emprestadas pelos agentes da lei e ordem ou até das Forças Armadas.
Raptos até de gente com poucas posses, para venderem órgãos ou exportarem para o trabalho sexual em países vizinhos.
Dramas do quotidiano não apenas nas cidades, mas também nas zonas rurais.
O que dizer da prestação pelos serviços públicos pagos pelo nosso bolso?
Respeita-se o prazo máximo legal de 90 dias para despachar um documento?
Não se extraviam documentos?
Os ditos balcões únicos mostram-se mesmo únicos e expeditos?
Em que distritos se pode pedir um BI, obter uma carta de condução, matricular um veículo, despachar uma mercadoria mesmo se fronteiriço com outro país? Conseguimos pagar os nossos impostos em qualquer distrito e lá receber as pensões a que temos direito? Receber atempadamente o nosso correio, enviar um telegrama? Existe acesso à banca? Basta de distritos fantoches.
Falam-nos de mil soluções para a circulação urbana.
Quando existe uma linha férrea ligando a Matola a Maputo há necessidade de se apregoar que se construirá um metro, quando bastaria aumentar a frequência dos comboios e haver carruagens decentes? Quanto vai custar? Que comichões nesse empreendimento inútil?
Já se decidiu e se iniciou a Ponte para a Catembe. A que preço? Em alternativa não sairia muito mais barato 4 ou 5 ferries operando 24 horas por dia? Claro que as comichões se mostrariam bem inferiores. Assim pagaremos a ponte com o suor do rosto dos cidadãos!
Para quando um transporte público municipal que, com qualidade sirva todos os bairros e substitua os perigosos chapas e my love? Que haja transporte privado de qualidade, com viaturas adequadas, inspeccionadas, respeito das lotações, seguros verdadeiros, motoristas profissionalmente qualificados e com horários sim, mas isto não pode lograr qualquer sucesso com o que está permitido e tolerado de violação total das normas mais básicas do Código de trânsito. Estaria condenado à falência desde o primeiro dia.
Por favor, menos discursos, mais seriedade, acções e coerência e para isso o meu melhor abraço,
P.S. Boa a revisão do Código Penal obsoleto. Excelente a despenalização do aborto e da homossexualidade. Péssimo que que a idade do consentimento para relações sexuais não fique nos 18 anos. Regozijar-se-ão os primitivos nas zonas rurais e os tarados urbanos. Com horror li que se condenou um agente da ordem pública a uma pena suspensa, quando raptou e violou uma adolescente de treze anos! Que recurso fez a procuradoria? Como despenalizar um crime tanto mais grave quanto a farda ficou poluída?
A França, Portugal e a África do Sul vizinha estão a insurgir-se contra o chamado UBER. À praga dos chapa e my love, não acrescentemos outra, por favor. À honestidade e justiça real um abraço,
SV
O PAÍS – 14.07.2015