DESAPARECIDOS EM COMBATE:
Ultimamente, tenho recebido diversas mensagens de familiares de combatentes, vítimas durante os confrontos entre exército colonial e a Frelimo, durante a luta pela Independência de Moçambique!
Quanto a esta situação atrás referida, a minha resposta é a seguinte:
1º Não sei qual foi o critério que o Governo da Frelimo tomou, quando assumiu poder no país, após Independência?
Digo isso, porque eu ,comandante Zeca Caliate, fui forçado a abandonar a Frelimo, nas vésperas da dita Independência, desse mesmo país.
2º O que eu sei, é, que quando fazia parte da Frente de Libertação de Moçambique - Frelimo e, era comandante da base central, conhecida por Kassuende, no 1º sector na mesma Província de Tete, fazia relatório completo sempre que tombava um combatente e, descrevia todos os dados desse individuo, desde a data e local de nascimento, a província donde era originário, bem como a data do seu ingresso, nas Forças Populares de Libertação de Moçambique - FPL.
3º Descrevia minuciosamente as circunstâncias em que o combatente encontrou a morte, desde o local do ataque , se foi num quartel do inimigo ou numa emboscada ou mesmo, na nossa própria base, alvo de ataque por forças inimigas, ou ao tentar recuar, quando foi alvejado numa emboscada montada por nós, no bombardeamento da força aérea inimiga etc... e, se não nos foi possível a retirada do corpo , justificar os motivos, talvez por fogo inimigo intenso e, se não foi constatado por outros companheiros descrevia tudo ao pormenor. Era rigoroso nesses casos e posteriormente enviava o relatório, para a secção das operações, que era uma afiliação, do Departamento da Defesa da Frelimo.
Ali, o relatório com todos dados do individuo, suponho eu, era arquivado.
4º Devo acrescentar que, no 4º sector na região sul, da província de Tete, que estava sob o meu comando, tive um caso exemplar da morte do meu adjunto, comandante do sector, que se chamava Armando Tivane.
Morreu numa emboscada, montada por comandos do exército colonial!
Quando isso aconteceu, fiz relatório e enviei para secção das operações, sedeada em Nachingwea, Tanganica, que era dirigida, por Sebastião Marcos Mabote, e que quando chegou Independência de Moçambique, soube mais tarde, que foi contactada a família de Armando Tivane e o governo da Frelimo, deu todo apoio aos seus familiares e, foi classificado como herói nacional. Hoje existem em Moçambique, ruas em memória de Armando Tivane e pode ser talvez, o caso dos vossos familiares.
5º O que eu não sei explicar, é, que quando a Frelimo chegou ao poder em Moçambique, como resolveu vários caso desta natureza, com os outros familiares dos que também tombaram em combate, no percurso da luta pela Independência Nacional?
6º Mas atenção, existe uma história semelhante, de um empregado que trabalha para uma empresa, cujo dono , quando seu condutor teve um acidente com o camião que conduzia, o dono da empresa, ficou aflito, não com o motorista, mas sim com seu carro e, reagindo sobre esse acidente, perguntou em primeiro lugar, qual era estado do seu camião, se estava ou não, em bom estado? Depois é que perguntou pelo estado do seu motorista.
Por isso, duvido que esse tipo de problemas a Frelimo os resolva de igual por igual e, cada um à sua sorte!
7º Querendo responder objetivamente, à ultima mensagem do Sr. Gabriel Hilário Hollande, filho de um combatente de luta pela Independência Nacional, que operava na base Chirungwe, 2º sector Furancungo, na província de Tete . Seu pai, era enfermeiro e, por azar encontrou a morte numa emboscada. Como tens essa referência, do Cara Alegre Tembe, aconselho a dirigir-se ao Ministério da Defesa de Moçambique e, com os dados que tens, podes ter a sorte, de ver este assunto esclarecido,
Boa sorte.
8º Eu, comandante Zeca Caliate, nunca estive no 2º sector, que pertencia à zona de Furancungo.
Como disse atrás, no princípio comandei a base central da Frelimo, que se denominava por Kassuende, do 1º sector, desde o começo dos confrontos entre a Frelimo e exército colonial em 1968 a 1969. Depois, em 1970 até Setembro 1973, fui nomeado comandante do 4º sector, da região sul da Província de Tete, onde escapei à morte, que os dirigentes da Frelimo tinham planeado e, tive de fugir. Por isso, não serei útil para seu caso. Se quiser mais esclarecimento sobre a minha pessoa, procure encontrar no meu livro, denominado “Odisseia de um Guerrilheiro”, onde ficará a saber sobre a minha verdadeira história. Eu sei, que é muito difícil encontrar essa edição, dentro de Moçambique, mas pode encontrá-lo, usando o mesmo contacto do iphone.
Zeca Caliate, General Chingòndo um dos sobreviventes da teia do mal Frelimo!
Europa, 05 de Julho de 2015
(Recebido por email)