Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected])
“Todo o poder se justifica, seja ele bom ou mau. Todo o poder procura legitimar-se a si próprio.” Extraído de uma conversa com o Professor Silvério Rocha e Cunha
Eu às vezes tenho tido reflexões que o futuro confirma. Quem me conhece, sabe o que sou e reconhece esta veia crítica que agrada a uns e cria azias para outros. Quando alguém se torna, por mérito próprio, fazedor de opinião pública, não deve ocupar o espaço a si reservado nos jornais para criar uma falsa paz, numa espécie de sociedade de paz perpétua, caracterizada pela ausência de crítica e auto-crítica, onde todos fazem o coro a uma única voz: Ámen. A história tem demonstrado que o dogmatismo é uma socapa e muitos são os que o criticam, porque revela-se nocivo à saúde mental.
Não tenho receio de expor as minhas ideias, mesmo sabendo que existe uma cavalaria de pessoas que inspiram intenso ódio contra mim. Mas nada disso me incomoda, porque, como disse Xanana Gusmão “As causas justas nunca se firmaram com facilidade. As justas têm-se imposto pela força de vontade dos seus combatentes, pela heroicidade dos que se batem pelo ideal que proclamam”. Posso até jurar que o propósito destas minhas Centelhas não é o de desencadear uma acção persecutória contra quem quer que seja, pois para isso não tenho nem vocação nem mandato para o fazer.
Os que não se alegram com os meus débitos dirão que é uma acção persecutória contra Afonso Dhlakama, quiçá por ser o monarca do segundo maior partido da oposição em Moçambique, mas aqueles que perscrutam a informação e estudam os factos, pautarem pelos juízos de valores, concordarão comigo que o líder da Renamo é o primeiro responsável pelo fraco desenvolvimento político e social do país, porque não ama a paz.
Em outras palavras, Dhlakama está a minar o estado da nossa democracia. Quem evita o diálogo e quem esquiva das conversações, não está apto para liderar os destinos da nação. Na política (aprendi isso durante a peregrinação académica nas terras lusas) é preciso ter a calma e a paciência de um relojoeiro para conquistar o poder. Uma guerra injusta, sem razão de ser e que não traga benefícios libertários para o povo, nunca é a melhor saída para a resolução dos conflitos, porquanto causa danos irreparáveis aos pilares que suportam o Estado moçambicano, destrói preciosas vidas humanas e atrasa o progresso do país.
Imaginemos que Dhlakama decida “incendiar” o país como tem propalado, não restará pedra sobre pedra para ele construir o seu futuro palácio presidencial. O povo que votou em Nyusi e na Frelimo pegarão em armas para restituir a justiça. Desta forma, o país cairá numa espiral de conflito armado e a Somália, que é considerado um Estado falhado, será inferior a Moçambique em matéria de destruição. Alguns belicistas da Renamo estão com pressa de chegar ao poder e querem fazê-lo recorrendo às armas, esquecendo-se de que as cicatrizes causadas pelas guerras rancorosas dificilmente são curadas. Veja-se o caso da guerra entre Israel e a Palestina. É o expoente máximo da vergonha humana.
José Hermano Saraiva, um destacado historiador português, dizia que “Uma guerra tem duas utilidades: serve para uns morrer e para outros ficarem ricos.” Morrerão os desfalecidos (lembrando que o exército moçambicano é constituído por operários e camponeses, ou seja, filhos de pobre), enquanto outros, as elites, ficarão “podres de ricos.” Não pense, caro amigo leitor, que os caminhos da perdição da Renamo trarão “leite e mel”, porque não será legal e fundar-se-á na inconstitucionalidade. A Renamo não tem machambas de diamantes, não tem barris com pepitas de ouro, não tem dinheiro que pague a todos salários competitivos, sendo por isso que não passará de impostor.
Os que seguem a Dhlakama carregam uma gigantesca frustração. É justa. A Frelimo em algum momento da sua história esqueceu-se da componente social. Alimentou a estatística económica, mas marginalizou os aspectos sensíveis da sociedade: habitação, emprego, agricultura, justiça, etc. A Frelimo criou um exército de frustrados. Isto deve ser condenado. O pior de tudo, é que os erros não estão a ser corrigidos. Saem e entram ministros. Os ministros menos competentes que deviam estar nas “prateleiras do esquecimento”, como símbolos de abuso contra o povo, são resgatados para dar testemunhos. Virou moda viral consultar-se os antigos dirigentes que delapidaram o erário público. É preciso dizer basta a essas situações.
É claro que não me esqueci da pergunta que faz título a esta Centelha “quem vai ganhar, entre o lobo bom e mau”? Ganhará aquele que o presidente Dhlakama mais alimentar. Zicomo (obrigado).
WAMPHULA FAX – 26.08.2015