O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, disse hoje que a proposta de agenda para um encontro sobre paz em Moçambique com o Presidente Filipe Nyusi é uma brincadeira e exigiu a aplicação dos acordos já existentes.
"A agenda dele [Presidente da República] brincou comigo", declarou Dhlakama num comício do líder da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) em Namacurra, província da Zambézia, acrescentando que sentia "pena da Frelimo [Frente de Libertação de Moçambique, partido no poder] e do senhor Nyusi como presidente da Frelimo".
Dhlakama tinha devolvido na segunda-feira um convite dirigido no mesmo dia pelo Presidente moçambicano para discutir a situação de paz, alegando falta de uma agenda concreta.
Em resposta, Nyusi reformulou o convite e elencou como temas a análise do Acordo de Cessação de Hostilidades, assinado há um ano, a avaliação do decurso do diálogo de longo-prazo entre as duas partes em Maputo e ainda temas diversos, "podendo e querendo a Renamo agendar ou listar outros assuntos".
O líder do principal partido de oposição exigiu hoje no seu comício a aplicação integral do Acordo Geral de Paz, que terminou em 1992 com uma década e meia de guerra civil entre Governo e Renamo, e também do Acordo de Cessação de Hostilidades, assinado a 05 de setembro de 2014 para acabar com novas confrontações na região centro.
Dhlakama acusou o Governo de violar os entendimentos já existentes, referindo-se a alegadas movimentações do exército e ataques a bases da Renamo nas províncias de Inhambane, Gaza e Tete.
"O Acordo [Geral de Paz] de Roma foi violado, o acordo de 05 de setembro foi violado. Neste momento é a Frelimo que ataca a Renamo e a Renamo limita-se a defender-se, porque não pode ficar em sentido a levar porrada", declarou.
Na exposição escrita que disse já ter enviado para Nyusi, Dhlakama argumentou também que o Governo moçambicano acabou unilateralmente com a missão de observadores militares, nascida para fiscalizar a implementação do Acordo de Cessação de Hostilidades e o desamamento da Renamo, e que terminou o seu mandato sem resultados.
"Quem acabou? Foi a própria Frelimo que violou o acordo, que começou a atacar as forças da Renamo, movimentando canhões e blindados, fazendo exatamente aquilo que estava proibido no tal acordo e que em seguida tomou sozinha a decisão de terminar a EMOCHM [Equipa Militar de Observação da Cessação das Hostilidades Militares", salientou.
"Agora vou analisar o quê? Vou a Maputo falar o quê com Nyusi?", prosseguiu Dhlakama, acrescentando que abandonar o seu povo para se deslocar à capital moçambicana para discutir estes assuntos iria fazer com que parecesse "um bebé".
O presidente do principal partido de oposição referiu-se ao diálogo de longo-prazo com o Governo no Centro de Conferências Joaquim Chissano, em Maputo, lamentando que já dure há anos para "todas as segundas-feiras escutar o Pacheco [José Pacheco, chefe da delegação governamental] insultar a Renamo".
A Renamo anunciou na sexta-feira que suspendeu a sua participação nesta plataforma de diálogo, alegando falta de seriedade do executivo, mas hoje Dhlakama admitiu rever a sua posição caso sejam aplicados os acordos de paz já existentes.
Até lá, frisou, "a Renamo não tem interesses em o Dhlakama ir a Maputo apertar a mão ao Nyusi", porque "isto é para aldrabar a comunidade internacional, sobretudo os investidores de Moçambique, para dar a entender que Nyusi e Dhlakama são amigos, que não há problemas".
Moçambique vive momentos de incerteza devido às ameaças do principal partido de oposição de governar à força nas seis províncias do centro e norte onde reivindica vitória nas últimas eleições gerais, num modelo de autarquias provinciais já rejeitadas no parlamento pela Frelimo.
HB/AYAC // EL
Lusa – 27.08.2015