O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, pediu ontem total apoio do braço armado do maior partido da oposição para poder “governar à força” as autarquias provinciais, que o partido insiste criar.
“A Frelimo já não produz manifestos porque sabe que vai roubar votos e governar, pensando que (Afonso) Dhlakama vai reclamar e depois recuar. Pelo menos essa parte (das províncias autónomas) ninguém vai recuar. Quero o vosso apoio para governarmos à força”, disse Afonso Dhlakama.
Falando em Quelimane, província da Zambézia, centro do país, na abertura da conferência nacional da ala militar da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), Afonso Dhlakama, assegurou não pretender reeditar a guerra no país e apelou ao Governo a não responder à sua acção por via das armas.
Afonso Dhlakama, que também é comandante em chefe do braço militar do partido, que inclui a ala feminina e os desmobilizados de guerra, classificou o grupo de “verdadeiramente heróis vivos”, exaltando a sua fidelidade que, disse, sustenta a luta pela democracia.
“Se não tivessem aceitado lutar pela democracia, hoje estaríamos a carregar a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique, partido no poder) pelas costas. O povo é respeitado pelo regime graças a vocês. Se vocês não existissem, e se estivessem a aceitar ser corrompidos, este povo estaria a sofrer”, declarou Afonso Dhlakama, insistindo que “souberam esperar e continuam a esperar” para a edificação da democracia no país.
O responsável da Renamo deplorou as críticas do grupo, que o acusa de “comer com a Frelimo” e de “esquecer de nós”, respondendo que “se é que há um líder no mundo, um conservador, com persistência de se lembrar que iniciamos juntos a luta armada em 1977, sou eu (Afonso) Dhlakama”.
“Eu estou entre a espada e a parede, já não posso desistir depois de quase 40 anos de luta pela democracia, estaria a trair o povo e os meus colegas, que são vocês os comandos e generais, combatentes pela democracia”, frisou.
Contudo, admitiu que nos dois acordos de Paz – o primeiro assinado em Roma em 1992, e o segundo que pôs fim às hostilidades militares a 05 de Setembro de 2014 – a “Renamo foi enganada”, porque a Frelimo persiste em não cumprir com o acordado.
“Tudo o que nós combinamos em Roma a Frelimo enganou-nos” declarou Afonso Dhlakama, adiantando as reformas compulsivas dos seus homens nas Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) violam o acordo.
“Quando assinei o acordo eu não sabia que estava sendo enganado, por isso não só assinei o acordo com (ex-presidente Joaquim) Chissano, mas também assinei o acordo com (presidente cessante Armando) Guebuza, de cessação das hostilidades militares, a 05 de Setembro, mais uma vez fomos enganados”, acrescentou Afonso Dhlakama, sustentando que a resistência na reintegração dos seus homens nas FADM fere o acordo.
Afonso Dhlakama aclarou que a “estratégia da Frelimo é de arrancar armas para que a Renamo desapareça e a democracia desapareça, mas vocês estão a resistir, por isso não tenho como vos agradecer” e deixou ao critério do fórum a escolha do modelo de reintegração do braço armado nas FADM e a integração na Polícia.
A ala militar da Renamo iniciou esta quinta-feira uma conferência nacional de dois dias para traçar estratégias de segurança nas províncias autónomas, que deverá igualmente avaliar a actual situação do que classifica como “provocações” do exército moçambicano, que têm causado confrontos entre as duas partes.
A Renamo não reconhece os resultados das últimas eleições gerais e exige a criação de autarquias províncias em todo o país e gerir de forma imediata as seis regiões onde reclama vitória eleitoral, sob ameaça de tomar o poder à força.
Lusa – 21.08.2015