Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected] )
“As potências ocidentais hoje não precisam de Estados fracos, recorrem a Estados fortes para os destruir e reinar.” Extraído de uma conversa com um amigo angolano
A resposta é esta: está a comer o nosso camarão, beber a nossa cerveja e a dormir na sombra das nossas bananeiras. O Ocidente está a assistir, impávido, o armamento da Renamo que a cada dia que passa endurece ameaças contra o Estado moçambicano. O Ocidente nada diz, nada faz e nada sente para analisar e pronunciar-se, publicamente, a iminência de guerra em Moçambique. Estão a espera do massacre entre irmãos para emitir apelos de paz. É este o momento, enquanto as palavras substituem as armas, para agir e sensibilizar os políticos a unirem-se pela paz.
O Ocidente desempenha um papel preponderante, na esteira da diplomacia, para mitigar uma situação que levará o dobro do tempo para acabar. Abrir-se-ão feridas cicatrizadas ou em vias de cicatrizar por culpa da falta do diálogo entre os homens. Compreendo que não cabe inteiramente ao Ocidente resolver a contenda entre a Frelimo e a Renamo, mas pode influenciar as duas lideranças a encontrar os melhores caminhos para dar aos moçambicanos um sonho reparador.
O Ocidente está complacente e como dizem os brasileiros “está nem aí” para o problema. As congregações religiosas seguem às pegadas. O denominador comum são os interesses económicos.
Hoje a palavra honestidade, filantropia, altruísmo, têm pouco valor porque o egoísmo impera e contamina até os berçários dos recém-nascidos. As questões económicas florescem na alma dos políticos, da sociedade civil e de muitas congregações religiosas em detrimento da paz.
Certa vez deliciei-me e ainda hoje encanto-me com as palavras da cantora Isabel Novela quando disse “Não estou preocupada em ganhar dinheiro, mas sim em perder aquilo que eu sou.” Aquilo que somos mede-se pelos interesses económicos.
Ambição curta, porque ao “bicho homem” há uma implacável justiça divina: não nos é permitido viver para sempre.
Ainda bem que os matusaléns ficaram para a história, pois o que seria dos pobres se os carcereiros da sua felicidade não tombassem?
A factura dessa desapiedade pela paz trará consequências nefastas para o país. O Ocidente tem interesses em Moçambique e alimenta a nossa economia.
A demora em tapar a panela de pressão pode resultar em anos de trabalhos perdidos. As congregações religiosas, no lugar de chorar pelos dízimos, deviam fazer vigílias pela paz. À sociedade civil que se reúne e forma uma colónia nas redes sociais de assuntos puramente marginais, é tempo de dedicar-se na preservação da paz. Gasta-se muito tempo em fiscalizar a moda e polir o egocentrismo, ao invés de alimentar a paz.
Não há no país uma única Universidade, um único instituto, enfim, uma única escola com o nome de paz. A única coisa que conheço que simboliza a paz é a Praça da Paz, que infelizmente, virou floresta densa e abrigo de marginais. Qualquer dia abrir-se-á uma época especial de caça para acabar com as cobras, incluindo humanas que por lá abundam. A Praça da Paz transformou-se em mercado informal onde os moçambicanos vendem espólios dos mortos do “velho continente”. Até a pomba branca recebeu uma nova pintura: a imundice.
O Ocidente não questiona (porque contribui para as contas públicas), prefere fechar os olhos e “enganar” os nossos dirigentes com prémios duvidosos. Nada.
As palestras, os simpósios, os seminários, as conferências, os encontros só servem são logorreias para troca de elogios, presentes e elevar a estupidez.
Como estudante e funcionário das Relações Internacionais aprendi em amiúde que a diplomacia é um trabalho de discrição e resultados, a velocidade que se emprega é do bicho preguiça, mas é necessário que haja sinais. A diplomacia, especialmente a cultural, pode influenciar a cabeça do líder da Renamo, Afonso Dhlakama, para desistir da ideia de incendiar o país.
Dizia o meu amigo e poeta Nkulu que “A Diplomacia Cultural tem a capacidade de penetrar em mentes mesmo áridas e de difícil sucesso.” É possível convencer a Dhlakama a negociar com o presidente da República Filipe Nyusi.
Nada ainda está perdido, desde que haja vontade e interesse supremo pela paz. A idade de muitos políticos está a caminhar para o poente, não seria justo deixar um país senil e débil para as gerações futuras.
Este é o meu apelo.
P.S.1: Tenho recebido muita correspondência de dentro e fora do país. Nem sempre consigo levar ao debate as ideias de todos os leitores, porque os minutos fazem-me falta para obrigações académicas que se acumulam à medida que o tempo passa. É no meio académico, ponto nevrálgico para construção e desconstrução do pensamento, ou seja, polos de interpretação de conhecimentos, que muitas dessas correspondências são debatidas em seminários. Um Zicomo (obrigado) a todos e até para semana.
P.S.2: Estamos perante uma crise política, julgo ser o momento ideal para que o chefe do Estado, Filipe Nyusi, fale ao país para explicar o pulsar da democracia. Não pode esperar pelo informe anual, deve interagir já com o povo, através de uma comunicação ao país. Pode até fazê-lo através do site da presidência da República, mas não deve ficar calado nem mudo.
WAMPHULA FAX – 31.08.2015