O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, disse domingo que vai formular hoje um convite ao líder da Renamo para discutir a paz no país, mas o principal partido de oposição condiciona a reunião a uma agenda concreta.
"Se for um encontro para um chá, o presidente da Renamo [Resistência Nacional Moçambicana] dispensa, porque ele tem açúcar quanto baste. Só irá acontecer a reunião se houver uma agenda concreta", afirmou em declarações à Lusa, o porta-voz do movimento, António Muchanga, referindo que até ao fim da manhã de hoje ainda não tinha sido recebido nenhum convite.
Filipe Nyusi anunciou no domingo, durante uma conversa com crentes da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), em Maputo, que ia convidar hoje o presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, para um encontro, salientando que as diferenças políticas não se devem sobrepor à aspiração do povo pela manutenção da paz.
"Fui aqui pedido para dar mais atenção ao dossiê da paz. Aceito, porque assumi o compromisso e digo que, mesmo amanhã [hoje] vou fazer formalmente um convite ao líder da Renamo para falarmos", afirmou Nyusi,
"O povo não está de um lado, está de todos os lados. O povo é este e é também aquele que segue o líder da Renamo. É o mesmo povo que se junta e forma o povo moçambicano e esse povo quer paz e desenvolvimento", frisou.
Paralelamente, o porta-voz da Renamo adiantou hoje à Lusa que o partido suspendeu a sua participação no diálogo de longo-prazo que mantém com o Governo, devido à alegada falta de seriedade por parte do executivo moçambicano.
"A Renamo está a implementar a decisão [anunciada na sexta-feira por Afonso Dhlakama] de suspender as negociações com o Governo por falta de seriedade", afirmou António Muchanga.
O Gabinete de Informação, adstrito ao gabinete do primeiro-ministro moçambicano, comunicou hoje o cancelamento da sessão das negociações entre o Governo e a Renamo, sem especificar as razões do adiamento.
Na semana passada, as duas partes realizaram a 114.ª ronda do processo negocial, entrando no ponto sobre "questões económicas", o quarto da agenda, sem terem conseguido acordo em relação ao tema mais importante das negociações, que tem a ver com o desarmamento do braço armado da Renamo.
No âmbito das negociações, iniciadas em abril de 2013, as duas partes chegaram a acordo sobre a aprovação de um novo pacote eleitoral, assinaram o entendimento sobre o fim das hostilidades militares e aprovaram um acordo sobre a despartidarização do Estado.
A Renamo não reconhece os resultados das últimas eleições gerais ganhas oficialmente pela Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) e exige governar nas províncias onde reivindica vitória, sob ameaça reiterada de tomar o poder pela força.
Nas últimas semanas, as partes têm estado envolvidas em confrontos na província de Tete, os últimos dos quais, segundo a Polícia da República de Moçambique, no sábado, com cinco emboscadas atribuídas a homens armados da Renamo contra uma unidade policial.
Num encontro com desmobilizados da Renamo na sexta-feira em Quelimane, Zambézia, o partido de oposição anunciou que ia criar um novo quartel para o seu braço armado nesta província e reiterou a sua intenção de criar a sua própria polícia.
PMA/HB // EL
Lusa – 24.08.2015