Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected] )
“Quando um governo está corrompido, o povo é o primeiro a sofrer as consequências da corrupção, e é, igualmente, o primeiro a detectar a corrupção.” David Aloni Selemani in “Ensaio para uma Filosofia Política da Pedagogia, p. 108”
Nos últimos meses é notório observar-se, com alguma tristeza, um “enxame” de polícias de trânsito que pululam pelas principais artérias da cidade de Maputo. Há mais polícias parasitas concentradas nas maiores avenidas da cidade capital do que a totalidade de viaturas que circulam nelas. Seria um acto de glória e de patriotismo se estivessem a prestar grandes e relevantíssimos serviços à Nação. Estão, sim, a criar assados aos automobilistas, passando multas inexistentes, baseando-se em falsas leis que aquelas férteis mentes criam com o fito de fazer “cair um refresco” ou, por outra, obrigar os automobilistas a “falar como homens”.
A presença dos polícias parasitas não inibe a violação do código de estradas (e nem isso lhes preocupa, dado o elevado interesse pelo dinheiro), mas sim complicam ainda mais o calvário dos automobilistas ao circular pela cidade de Maputo. Não estão nas vias públicas para manter a ordem e garantir a tranquilidade públicas, exactamente porque a desordem atrai-os a porem em prática a extorsão. Existem alguns vídeos divulgados pelos cibernéticos que comprovam a apetência da nossa polícia de trânsito pelo “vil metal”.
Escondidos em velhas árvores de acácias (regadas de xixi e excremento humano), parecendo galagalas colossais das películas de Hollywood, os agentes parasitas da polícia de trânsito escolhem a dedo os veículos a interpelar.
O tipo de automóvel, a natureza da carga e o estado clínico da viatura são alguns dos potenciais factores que polarizam os apetites insaciáveis dos agentes parasitas. É preciso ter paciência chinesa e ser um osso duro de roer para conseguir escapar das mandibulas caninas desses agentes.
O “batalhão” é constituído geralmente por 5 a 7 polícias de trânsito, acompanhados por mais ou menos igual número de polícia de protecção – PRM (vulgo cinzentinhos), fortemente armados e de temperamento arrogante, que montam barricadas do tamanho de Quilimanjaro, tão-somente para entupirem às vias de acesso, causando longas filas, além de “beijos” acidentais entre as viaturas. O cúmulo da aberração em tudo isso é ver, em pleno congestionamento, polícias com radares para controlar velocidades.
Em situações dessas, os “semáforos humanos” (os polícias) transformam-se em pesadelos que fazem explodir a santa paciência de qualquer automobilista e dos demais prejudicados. É normal encontrar igual número de agentes nos entroncamentos de avenidas cuja função é caçar erros dos automobilistas.
Uma pequena desatenção dos automobilistas transforma-se em pecado capital. O que devia ser um caso de repreensão verbal, atendendo também o carácter mobilizador da polícia, dá lugar ao pagamento de coimas.
O país não precisa de tantos polícias armados nas ruas e avenidas das urbes. Há outros meios pacíficos recomendados para dissuadir o crime e não fazer dos polícias animais de carga de akm e do chamboco. Observo que a concentração de polícias numa determinada zona de Maputo deixa órfãs, em matéria de segurança, outras tantas.
Ao invés do aglomerado de 5 polícias de trânsito em cada 50 metros na Avenida Eduardo Mondlane, pode-se ter apenas uma brigada móvel composta por 5 agentes, desde que se montasse câmaras e radares fixos de segurança, tal como acontece em outras cidades capitais.
Porquê? Porque gasta-se recursos do Estado em nome de uma falsa vigilância ou segurança, aumenta-se o descontrolo dos agentes e restringe-se a presença policial em aglomerados populacionais onde a regulamentação do trânsito evitaria muitos óbitos. Não deixa de ser curioso que quando chove os polícias parasitas rapidamente abandonam a zona, ausentando-se das suas tarefas, deixando a cidade capital “deserta”, o que pressupõe haver infiltrados na corporação. Tudo ficou facilitado a partir de momento em que se acabou com a cultura institucional de uso de distintivos.
Na passada quinta-feira, 10/09, a Direcção da PRM a nível da cidade de Maputo anunciou que nos últimos cinco anos foram expulsos da sua corporação 671 agentes afectos ao Comando da Polícia da República de Moçambique (PRM) na cidade de Maputo, pelo envolvimento em actos criminais e indisciplina. Para ser mais precisos, tendo como fonte o Jornal Notícias do dia 11/09, “Em termos de crimes os 671 agentes foram expulsos por extorsão (75), roubo (53), furto qualificado e simples (16), homicídio voluntário e involuntário (13), ameaça com recurso a arma de fogo (1), injúrias (6), extravio de arma (11), violação sexual (1), abuso de autoridade (5) e ofensas corporais (9). Foram ainda expulsos por crimes de cárcere privado (1), abandono de lugar (58), burla (21), abandono de posto (127), suborno (3), retirada de presos (16), faltas ao serviço (72), desvio de bens apreendidos (10), extravio de processos criminais (6), simulação de rapto (1), diligências ilegais (9), consumo de bebidas alcoólicas (22), negligência (3), desobediência (20), entre outros crimes e irregularidades.”
Posto isto, convido ao amigo leitor a tirar suas próprias conclusões. Zicomo (Obrigado)
WAMPHULA FAX – 14.09.2015