UNIVERSIDADE Católica de Moçambique (UCM) juntou ontem diversas personalidades nacionais e estrangeiras, num evento enquadrado nas celebrações dos seus 20 anos de existência.
Tomaram parte no acto figuras como o antigo Chefe do Estado, Joaquim Chissano, o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, a governadora de Sofala, Helena Taipo, o antigo Arcebispo da Beira e mediador dos Acordos de Roma, D. Jaime Gonçalves, o actual chefe da Igreja Católica na Beira, D.Cláudio, e o presidente do Conselho Municipal da Beira, que é também presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Daviz Simango, e ainda o antigo presidente da Comissão Nacional de Eleições, Brazão Mazula. Seguiram-se depois os discursos, tendo o primeiro dos quais sido o de D. Jaime Gonçalves que fez um historial do surgimento da Universidade Católica de Moçambique. Coube depois a vez ao antigo Chefe do Estado, Joaquim Chissano, que dissertou sobre o tema “A legalização da Universidade Católica (o que estimulou o Governo moçambicano a legalizar a UCM). Chissano falou também do processo democrático no país, sublinhando que a democracia em Moçambique era um facto, embora não seja um “fato pronto-a-vestir” pois, sofreu sempre uma evolução. “Nós temos que enraizar sobretudo os instrumentos para a edificação dessa democracia. Portanto, exige-se que todos estejamos juntos, unidos e discutamos sem imposições as ideias que possam perdurar no nosso processo democrático”.
Entretanto, à margem da sua intervenção, o antigo Presidente da República concedeu uma breve entrevista a jornalistas na qual lhe foi colocada a questão sobre se iria conversar com Afonso Dhlakama para persuadi-lo, tendo em conta que o líder da Renamo recusou recentemente um encontro com o Presidente Filipe Jacinto Nyusi.
“Não me restaria mais nada dizer a ele, porque eu já lhe disse várias vezes que a minha opinião é que ele deve se encontrar com o Chefe do Estado para conversarem. Para discutir exactamente aqueles pontos que parecem impossíveis, inconvenientes, porque só se encontrando é que podem falar.
No caso, não deu na primeira vez, pode dar na segunda, e nesta se também não der a terceira pode ser. Aliás, as conversações de Roma, que ele (Dhlakama) sabe bem, tinham como lema valorizar aquilo que nos une e minimizar aquilo que nos divide. Portanto, há-de haver uma coisa ou outra que vai parecer em conta com a nossa unidade. Há percepções sobre as quais só mais tarde é que se chega à conclusão de que afinal de contas não há problemas onde parecia haver problemas. Isso aconteceu durante as conversações. Portanto, não me custaria nada falar com ele”.
Vai falar com ele aqui? - questionaram os jornalistas, ao que Chissano respondeu: “Não me importaria. Não vim com nenhum mandato para isso mas, como estamos aqui num espaço aberto, tal como estou a falar convosco, se houver espaço vamos conversar e a conversa vai dizer qual é a via que vamos seguir”.
Sobre a mensagem que deixava aos moçambicanos, neste momento, o antigo Presidente da República reafirmou o que sempre disse: “Continuar a fazer aquilo que estamos a fazer. Todos estarmos unidos numa palavra - paz. Queremos a paz, somos pelo diálogo. Todos devemos ser isto até que as partes (Governo e Renamo) tenham diálogo. Esse diálogo deve abranger a todos nós. Estamos a construir a democracia e essa democracia pode levar anos, mas a cada ano vamos melhorar alguma coisa”.
A uma pergunta sobre o que achava da participação de Afonso Dhlakama neste evento, Joaquim Chissano referiu que a presença do líder da Renamo num encontro como este não era nova na UCM, pois na inauguração também esteve.
“É uma força viva da sociedade, portanto o movimento dele, bem como ele próprio, têm de se ter em consideração. Veio precisamente viver este intercâmbio de ideias e vamos ouvi-lo a falar neste encontro”.
O evento de ontem foi igualmente uma oportunidade para um reencontro entre Afonso Dhlakama e Daviz Simango que, como se sabe, este último foi membro da Renamo atè à altura em que se desentenderam, tendo então Simango fundado o MDM.
ANTÓNIO JANEIRO
NOTÍCIAS – 15.09.2015