A emboscada à comitiva de Afonso Dhlakama por volta das 19 horas de sábado, na zona do rio Boamalanga, quando esta ia em direcção à cidade de Chimoio, capital provincial de Manica, pode ter sido um sinal bastante claro de que o país caminha, uma vez mais, para uma situação de nova e verdadeira instabilidade militar. O pior nisto é que ninguém sabe quem atacou. Só se sabe que a comitiva de Afonso Dhlakama foi atacada.
Assim também faz semanalmente o porta-voz do Comando-Geral da Polícia que, reiteradamente anuncia e denuncia que as Forças de Defesa e Segurança (FDS) foram atacadas neste e naquele ponto. A identidade do grupo atacante não é conhecida, mas há sempre suspeitos. E as autoridades moçambicanas sempre suspeitam que os atacantes sejam os chamados “homens armados” da Renamo.
Pouquíssimas vezes os dirigentes da Renamo reconhecem participação, mas sempre se defendem com base no argumento de que tudo foi em jeito de “auto-defesa” ou resposta ao ataque inimigo, ou seja, ao ataque das FDS.
Para o caso da noite de sábado, a Renamo também só sabe dizer que foi atacada, mas não consegue precisar a identidade dos atacantes. Mesmo na conferência de imprensa dada por Afonso Dhlakama à chegada, à cidade de Chimoio, não houve confirmação da identidade dos atacantes.
Houve, isso sim, suspeita de que os atacantes tenham sido agentes da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), a força moçambicana de elite e especializada para operações anti-motim.
A suspeita é justificada com base no que se conseguiu ver do uniforme do grupo atacante. Fardamento igualzinho ao usado pela Unidade de Intervenção Rápida, segundo observação dos atacados e de jornalistas que estavam na comitiva de Afonso Dhlakama.
Portanto, estamos num cenário em que enquanto os políticos não encontram inteligência suficiente de trazer de volta a paz e tranquilidade efectivas ao país, bandos armados “desconhecidos” se aproveitam para fazerem das suas. Por enquanto, o ataque e as emboscadas são entre eles (os grupos armados, onde os conhecidos são os atacados e os desconhecidos são os atacantes) mas, certamente, amanhã, os bandos avançarão para ataque a populações indefesas.
Populações que nada tem a ver com os reais interesses dos dirigentes políticos. Populações que querem unicamente a paz para continuarem a fazer as suas vidas tranquilamente.
O apelo que toda a pessoa do bem pode fazer nesta altura é unicamente exigir que os políticos ponham a mão na consciência e encontrem formas de resolver o diferendo que os opõe, isto antes de “os bandos armados desconhecidos” começarem a atirar com o povo, que afinal é o patrão de quem governa.
Pensamos nós que trazer a paz e tranquilidade de volta para o país não se afigura como “missão possível”. Os políticos muito bem sabem o que devem fazer para que os moçambicanos vivam em paz. Um dos pressupostos para que isso de facto aconteça é que os políticos devem deixar de lado, completamente de lado, os seus interesses, os interesses partidários e os interesses dos seus próximos, passando para um cenário em que efectivamente os interesses do país sejam considerados supremos, ou seja, acima de qualquer outro interesse.
MEDIAFAX – 14.09.2015