Centelha 1 por Viriato Caetano Dias ([email protected] )
“Na estrada da vida, nenhum homem está imune ao tropeçamento. Se pedires para que se pinte a paisagem, cada um escolhe e dá a cor que preferir, mesmo que a pintura seja desmentida pela realidade. As cores que nos atribuem nem sempre são verdadeiras, porque o fundamental é destruir a imagem dos outros” Extracto de uma longa conversa com o amigo Nkulu
O que mais me anima nesta árdua e ingrata tarefa de emitir opiniões é o de saber que ninguém neste tenebroso “Vale de Lágrimas” é perfeito e todos nós, seres humanos, estamos susceptíveis ao erro. Podemos estar enganados, é preciso não ter a certeza de coisa nenhuma, porque ninguém é perfeito.
Mesmo nas mais antigas e tradicionais sinagogas, o dogmatismo religioso é questionado, o que prova que na vida não há verdades nem mentiras absolutas que durem para sempre.
A libertinagem começa quando algumas pessoas, que deviam ser mais humanas e baluartes da moralidade dado o nível académico que ostentam, extravasam os limites da relatividade do conhecimento e do direito à liberdade de expressão para atacar o próximo.
É normal que uma ideia, uma governação, um programa, até mesmo um projecto de vida, por mais brilhantes que sejam, não acolhe consensos neste mundo de constantes interrogações, mas isso não deve resultar no espingardeamento da honra alheia, da dignidade, incluindo da inocência de quem as defende. O homem pode até entregar a outra face (perfilhando Cristo), mas não admite que alguém o desonre, pois não há pior dor que a desonra.
Convenhamos, caros leitores, houve e ainda há excessos na interpretação crítica da governação do antigo presidente da República, Armando Emílio Guebuza. Alguns pronunciamentos, feitos no esplendor da raiva, foram autênticos golpes à sua honra, a honra da sua família, inclusive o respeito que a maioria dos moçambicanos nutre por este estadista. É evidente que Guebuza não é perfeito, qualquer observação sobre o seu consulado deve ser feita no quadro dos valores morais e legais que cimentam a nossa democracia. Ao contrário disso, atacam-no com a violência possível, perigando os pilares da aludida democracia. Não é esta a forma que se busca a razão, mesmo quando ela exista, pautando pelo insulto e vilanias. Neste aspecto, não me canso de citar Cesare Bertulli: “Até ao procurar-se aquilo que se julga um direito próprio, deve ser sempre feito por meios pacíficos.”
Quando partes do nosso corpo está sujo, não cortamos como alguns académicos prescrevem, antes lavamos.
Assemelha-se a uma governação, não é justo que se destrua a pessoa (aquele que governa) só porque as suas acções aparentam ser erradas, mas sim corrigir as políticas que cozem essa governação. Acredito que todos os moçambicanos querem e desejam o bem-estar do país, a receita e os resultados é que podem ser diferentes. Há várias formas de se chegar ao reino dos céus, cada um é livre de trilhar o seu caminho. Os mais fáceis levam sempre à perdição, daí a necessidade de compreender as ladeiras da vida, o homem, os adamastores da política, etc., antes de emitir qualquer pronunciamento grosseiro, que mais tarde obrigue ao visado a ininterruptos pedidos de perdão.
Um académico deve saber respeitar ideias diferentes, tal não significa submissão.
Uma recensão crítica, positiva, coloca o país nos caminhos da prosperidade.
É o direito que assiste a ambos: aquele que governa e o governado. Ao contrário disso, é a negação do outro.
Como sabem, os defeitos também residem no excesso. O radicalismo extremo e desprezo a tudo que é feito pelo governo moçambicano azedam a alma e apodrecem o coração, traços que não pertencem os académicos.
Quem tem preconceitos irredutíveis, fossilizados, em relação ao partido Frelimo e ao seu governo, só vê defeitos nas medidas tomadas. Sim, há uma mão externa nisso, porque não existe conflitos internos que não tenham uma qualificação externa. Bem disse o amigo Nkulu que “Para o Ocidente, quem incita violência recebe tratamento VIP. A diferença é que nós não temos Guantánamo, cadeiras eléctricas e outros 'arquivos' do esquecimento, para os indesejáveis. Até nos mandam perfumar excrementos, só porque pertencem à oposição, em nome da democracia e da paz frágil e falsa, que devem ser mimadas!”.
Primeiro foi Joaquim Chissano. Apodaram- no de ter sido demasiadamente complacente nos momentos em que o país exigia dureza nas decisões. Passou e o tempo o ilibou, sendo hoje chamado de “obreiro da paz”. Mais recentemente, Armando Guebuza foi o espingardeado, depois de ter recebido milhares de elogios, tais como “pai da nação, filho mais iluminado de Moçambique, etc., mas o tempo que é o melhor mestre também o ilibará, porque as obras levarão Moçambique aos caminhos do desenvolvimento. O presidente Nyusi não escapará do mesmo julgamento desses académicos. E não tenho a mais pálida dúvida que também será ilibado pelo tribunal do tempo.
Sobre este assunto, o poeta social Nkulu disse-me, em amiúde, o seguinte: “O presidente Nyusi não fez um governo constituído por santos, fê-lo com base em homens e mulheres patriotas andantes, vivos, com virtudes e defeitos. São estes homens que corporizam o actual executivo moçambicano. Se o Presidente quisesse santos, não os encontraria neste 'Vale de Lágrimas', porque já partiram deste mundo e povoam o quase despovoado paraíso celestial. Em nenhum momento da história de Moçambique independente e do mundo houve governos constituídos por santos. Posso estar errado, quem os conhecer que mos apresente” Zicomo (Obrigado).
WAMPHULA FAX – 22.09.2015