A TALHE DE FOICE
Por Machado da Graça
O que se passou no sábado passado em Manica é uma história muito mal contada. E o mais estranho é que é muito mal contada dos dois lados.
Senão, vejamos:
Mal a notícia do atentado contra a coluna de Afonso Dhlakama começou a chocar o país e a comunidade internacional, apareceu logo a versão de que não teria havido atentado nenhum, mas sim o rebentamento de um pneu que terá feito capotar um carro.
Só que, por um lado, há a foto de um carro todo perfurado por balas e, por outro, há o relato dos jornalistas, que seguiam na caravana, que não põem em dúvida a existência do tiroteio.
Mas, depois, temos a notícia da Agência France Press. Essa Agência contactou, em Chimoio, o Inspector Manuel Lourenço. E ele contou a história de um posto de controlo policial que mandou parar um carro não pertencente à comitiva de Dhlakama. Como o carro não parou a força policial começou a disparar contra ele e como, por azar, a coluna da Renamo ia a passar nesse momento foi atingida por alguns tiros. Portanto, os tiros tinham sido disparados pela Polícia mas por engano.
Mais tarde a France Press contactou o comandante da PRM em Manica, Armando Mude, que afirmou que os tiros tinham sido disparados por indivíduos não identificados.
Entretanto, o porta-voz do partido Frelimo defende a tese de que terá sido uma coisa interna da Renamo para ter um pretexto para iniciar a guerra. Não explica é por que razão, então, a Renamo não iniciou imediatamente a guerra e, pelo contrário, assistimos a Dhlakama, calmo e sorridente, na Beira, a desvalorizar o ataque e a continuar a falar de Paz.
Isto do lado do Governo/Frelimo.
Vejamos agora o lado da Renamo:
Os jornalistas que seguiam na caravana falaram de um ferido grave, o motorista de um dos carros. Ora nunca mais se soube de tal pessoa.
Parece não ter dado entrada em nenhum dos hospitais de Chimoio e a Renamo não o apresentou aos órgãos de informação, como seria natural que fizesse.
O mesmo se passa com quatro atacantes feridos e capturados pelos homens da Renamo. São referidos pelos jornalistas que iam na coluna mas depois desaparecem sem deixar rastos. O que seriam testemunhos fortíssimos em apoio às acusações de Afonso Dhlakama à Polícia e ao partido Frelimo, parecem nunca ter existido.
E o pacato cidadão fica sem saber o que, de facto, aconteceu, num momento em que uma chispa destas pode deitar fogo ao país.
Eu diria que os dois lados devem parar de fazer coisas destas que só servem para mostrar o cinismo dos apelos à Paz com que nos inundam a todas as horas.
Não há paciência para assistir a estes jogos de guerra feitos com armas reais nas mãos.
SAVANA – 25.09.2015
NOTA:
Caro Machado da Graça: Já tem mais uma “emboscada” para decifrar.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE