A escolha das Ilhas Dispersas como tópico desta segunda reflexão sobre “Segurança Marítima: Moçambique, a África Austral e o Oceano Índico” foi uma opção particularmente difícil, desde logo porque implicou abordar um tabu: quatro ilhas estratégicas do Canal de Moçambique tradicionalmente envoltas em mistérios e pruridos nacionalistas; mas foi também a opção que, na antecâmara de exóticas extracções marinhas, me pareceu ser o corolário lógico do tema abordado no primeiro ensaio “Corredores Mineiro-Energéticos 2020”1. Situadas no Canal de Moçambique, as Ilhas Dispersas (ou Éparses, em jargão colonial francês) desde há muito que balizam as navegações neste corredor nevrálgico, mas há algo que as sugere como uma das chaves de um futuro Afro-Índico. Lendárias, mas sempre enigmáticas, estas quatro ilhas abrigam incalculáveis tesouros que, por riquezas do destino, emergem como fontes de um amanhã de hidrocarbonetos certamente, mas também como hipótese de outros futuros marinhos. Tal como o seu nome indica, as Ilhas Dispersas não são um conjunto geográfico, e muito menos identitário; desde sempre sem dono e desabitadas, estas ilhas, ilhéus, rochedos e atóis (Bassas da Índia, Europa, Juan de Nova, Gloriosas) foram tomadas por potências coloniais há pouco mais de um século e, inexplicavelmente, nunca foram restituídas a África – será essa, talvez, a sua maior singularidade contemporânea. A posse das ilhas Éparses tem sido objecto de contenciosos arrastados, e ocasionalmente quezilentos, entre Madagascar e a França mas, curiosamente, creio que ambos países pecam por defeito quando, nos seus negócios, ignoram absolutamente os eventuais direitos marítimos de Moçambique.
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