AGUDIZA-se o cenário de incerteza política em Moçambique, com a Renamo – o maior partido da oposição – a exigir a governação nas províncias onde reclama vitória eleitoral, sob ameaça de tomar o poder pela força.
Os sinais desse facto tornam-se cada vez mais evidentes e perigosos, quando o líder desta formação política, Afonso Dhlakama, anuncia a instalação de quartéis na província da Zambézia e o consequente recrutamento de jovens para a formação militar e/ou policial. Com que objectivo? Da província de Tete chegam-nos informações quase que diárias de ataques perpetrados por homens armados da Renamo contra posições das Forças de Defesa e Segurança, o que põe em risco a paz, já de “per si” ténue, devido à não aceitação por Afonso Dhlakama e seu partido dos resultados das últimas eleições gerais.
De todos os cantos do país multiplicam-se manifestações repudiando de forma vigorosa a ausência de diálogo entre os políticos com vista à manutenção da paz efectiva para o país e para todos os moçambicanos. O antigo Chefe do Estado Joaquim Chissano mostrou-se igualmente disponível para mediar um encontro entre o Presidente da República, Filipe Nyusi, e o líder da Renamo, apelando-os para que aprendam a gerir conflitos.
Mesmo sem mandato para o efeito, Chissano conversou com Dhlakama esta semana, na cidade da Beira, durante a conferência dos 20 anos da institucionalização da Universidade Católica, dando o seu contributo para se ultrapassar o actual cenário político. Do antigo estadista moçambicano ficou-nos a lição de que Nyusi e Dhlakama devem encontrar-se tantas vezes quantas forem necessárias para discutirem aquelas coisas que parecem impossíveis, mesmo aquelas que parecem inconvenientes, pois só assim se pode encontrar um bom senso e uma aproximação. A lição foi mais profunda ainda, quando o ex-Presidente da República insinuou que o Governo tem de procurar um meio-termo para encontrar soluções neste conflito de ideias com o partido Renamo, qualificando o seu líder de uma “força viva necessária”.
De facto, quanto a nós, não se deve temer o presente conflito alheando-se ao diálogo; deve-se, isso sim, ter a coragem de o gerir de forma eficaz e na base da fórmula “conflito-solução” para que de facto o país alcance a paz necessária para o seu desenvolvimento.
E a lição parece-nos ter sido bem assimilada, pois na mesma conferência dos 20 anos da UCM Afonso Dhlakama anunciou a sua disponibilidade para o diálogo, pecando, porém, por condicionar tal facto a uma agenda concreta, quando se sabe de antemão que o que se pretende é ultrapassar a presente contradição, sem criar outra. Ou seja, o líder da Renamo deve compreender que impor condições para o diálogo não resolve o problema. Pelo contrário, complica ainda mais uma crise que não deve ser menosprezada nem minimizada. O povo está cansado da guerra, quer a paz sem limite, uma paz permanente para que possa definir o rumo da sua vida.
O Chefe do Estado, Filipe Nyusi, tem-se desdobrado em iniciativas tendentes a se encontrar com Afonso Dhlakama para juntos dissiparem o estado de “guerra lactente” que prevalece no país. Nos seus encontros com diferentes segmentos da sociedade e mais recentemente em diferentes confissões religiosas Filipe Nyusi tem manifestado a sua prontidão para o encontro sem pré-condições não só com o líder da Renamo, mas também com todos os moçambicanos, ciente de que cada um desempenha papel preponderante na manutenção de uma paz efectiva em Moçambique.
Esperamos, pois, que Afonso Dhlakama se orgulhe da sua identidade de moçambicano e que tudo faça em prol da preservação da paz, mesmo tendo em conta que as diferenças de ideias e de opinião não devem constituir motivo para desavenças, mas sim elemento que nos torna mais ricos para a consolidação da nossa moçambicanidade.
NOTÍCIAS – 18.09.2015