A polícia moçambicana disse que o incidente envolvendo a comitiva do líder da Renamo, Afonso Dhlakama, na província de Manica, foi provocado pelo partido de oposição, ao abrir fogo sobre uma viatura matando um civil.
"O que custa é descobrir quem está a fazer os desmandos, mas nós já descobrimos, são homens da Renamo [Resistência Nacional Moçambicana], estavam numa caravana, dispararam e atingiram mortalmente alguém", afirmou, em declarações à Rádio Moçambique, o comandante da polícia em Manica.
Segundo Armando Canhenze, a polícia estava ainda a reunir mais informações, mas, adiantou, "sabe-se que [homens da Renamo] alvejaram mortalmente o cidadão civil".
O comandante da polícia desconhece "as razões que motivaram aquele disparo, até atingirem aquele homem mortalmente", descrevendo "uma situação de pânico", em que os passageiros da viatura fugiram em debandada para as matas e a existência de dois feridos a precisar de socorro.
Na descrição da polícia à Rádio Moçambique, "ocorreu um incidente envolvendo a caravana da Renamo de 16 viaturas com homens devidamente fardados e armados, em número de oito em cada viatura" e que, ao passar por Gongola, antes de Inchope, "dispararam para um carro civil".
Depois daquele incidente, prosseguiu Canheze, "começaram a soar os tiros e isso cria pânico na população, é uma zona movimentada, e pessoas pensaram que era o reinício da guerra",
"A circulação de pessoas e bens tem problemas, é um assunto que tem a ver com a segurança, por isso mandei homens para se aperceberem do que estava a acontecer", assinalou ainda o comandante da polícia em Manica, acrescentando que admite abrir um processo legal visando a comitiva de Dhlakama.
"Com a nossa presença, acho que a situação vai abrandar. Mais tarde, numa altura oportuna, admito fazer procedimento legal, abrir expediente contra a caravana da Renamo para se apurar quem disparou e, de forma legal, ser responsabilizado por este comportamento maléfico", declarou.
A narrativa da polícia contrasta com a descrição dos acontecimentos feita no local à Lusa pelo líder da Renamo, que disse ter escapado ileso a uma nova emboscada em menos de duas semanas na província de Manica, centro de Moçambique.
"Como já disse, Deus existe. Mas é bonito assim, e que estejam a fazer assim [emboscadas], porque, no dia que a Renamo declarar ou pretender declarar a guerra mesmo no país, ninguém irá nos condenar", afirmou.
Dhlakama referiu que não vai vingar-se do ataque para não criar o caos no seio da população, mas apelou à Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique, no poder), "para parar, porque isso é uma brincadeira de mau gosto".
O dirigente da oposição mencionou que três dos seus guardas foram feridos, mas o jornalista da Lusa que se dirigiu para o local observou pelo menos nove mortos, entre os quais dois homens com uniformes da Renamo.
No local, estava também um "chapa" (carrinha de transporte semipúblico) acidentado, cujo motorista morreu, bem como alguns dos passageiros.
A Lusa testemunhou ainda a existência de civis feridos, em número incerto, alguns dos quais com marcas de balas.
Este é o segundo incidente em menos de duas semanas que envolve o líder da Renamo, depois de no passado dia 12 de setembro, a comitiva de Dhlakama ter sido atacada perto do Chimoio, também na província de Manica.
A Frelimo acusou por sua vez a Renamo de simular a emboscada, enquanto a polícia negou o seu envolvimento, acrescentando que estava a investigar.
Em entrevista ao semanário Savana, o ministro da Defesa, Salvador Mtumuke, também negou o envolvimento do exército, afirmando que "a natureza vai encarregar-se de fazer a justiça".
Moçambique vive sob o espetro de uma nova guerra, devido às ameaças da Renamo de governar pela força nas seis províncias do centro e norte do país onde o movimento reivindica vitória nas eleições gerais de 15 de outubro do ano passado.
HB (AYAC) // JMR
Lusa – 25.09.2015