A polícia disse hoje à Lusa que os homens da Renamo foram tomados pelo pânico no incidente que envolveu a comitiva de Afonso Dhlakama, na sexta-feira em Manica, e presume que acabaram por disparar uns contra os outros.
"O mais presumível é que a troca de tiros tenha sido entre os próprios militares da Renamo, na sequência do primeiro tiro dado pelo homem que estava atrás da caravana", afirmou hoje o comandante da polícia de Manica, em declarações por telefone à Lusa.
O líder da Renamo disse à Lusa que foi alvo na sexta-feira de uma emboscada das forças de defesa e segurança, na Estrada Nacional 6 (EN6) em Zimpinga, distrito de Gondola, província de Manica mas a polícia rebateu esta versão, sustentando que foi a comitiva de Dhlakama que provocou o incidente ao assassinar o motorista de um "chapa" (carrinha de transporte semi-público) com a qual se cruzava.
Segundo Armando Canhenze, o primeiro tiro "assustou os outros, criando pânico no seio do grupo", o que descreve como uma situação "normal em equipas grandes e desordenadas", tendo depois ocorrido um acidente entre uma viatura da Renamo e um camião, com a caravana já desorientada e a correr em demandada"
Em suma, referiu o comandante da polícia, "ninguém sabia de onde vinha o tiro e cada um começou a dar tiros para todo o lado".
Em relação às alegações da Renamo de que foi emboscada pelas forças de defesa e segurança de Moçambique, através de civis armados, Canhenze comentou que "isso não corresponde à verdade" e que os seus efetivos estão sempre fardados.
"Os nossos homens não fazem isso, se é polícia está trajado com o devido uniforme, se é militar a mesma situação, até mesmo os guardas privados são obrigados a trajar os devidos uniformes. É até ridícula a ideia de nós metermos homens armados à civil num local", comentou.
A Renamo reagiu no sábado à versão policial de que tinha metralhado a carrinha de transporte semi-público, argumentando que não é seu hábito atacar civis e que o "chapa" foi atingido na mesma emboscada contra a caravana de Dhlakama.
Armando Canhenze concorda que a Renamo não teria a coragem de atingir civis, "mas disparou porque pensou que existissem militares no local", referindo como exemplo a sua própria experiência na tropa em que "grupos disparavam contra eles próprios devido ao pânico".
Ainda na versão policial, os agentes foram encaminhados para o local com vista a restabelecer a ordem e envolveram-se em troca de tiros com os homens da Renamo, em confrontos que se prolongaram até à noite.
O balanço de vítimas mantém-se hoje em 20 mortos, entre os quais 19 elementos da Renamo e um civil, segundo a polícia, embora o partido de oposição apenas reconheça sete baixas entre o seu efectivo e dezenas entre os alegados atacantes.
Os corpos dos homens da Renamo já foram reclamados nas primeiras horas do dia de hoje, bem como as suas viaturas abandonadas no local, informou o comandante da polícia em Manica, que continua a desconhecer o paradeiro de Afonso Dhlakama.
"Há informações de que ele anda no posto administrativo de Gondola, mas ainda não o localizámos", mencionou.
De acordo com o porta-voz da Renamo, o líder da oposição "está no mato, bem de saúde e a controlar o partido", mas não precisou o local onde se encontrava.
Na reacção ao incidente, a Frelimo, partido no poder, descreveu Dhlakama como um fora de lei e terrorista, instando-o a abandonar as armas, enquanto a Renamo acusou o Governo de tentar assassinar o seu presidente.
Este é o segundo incidente em menos de duas semanas que envolve o líder da Renamo, depois de no passado dia 12 de Setembro, a comitiva de Dhlakama ter sido emboscada perto do Chimoio, também na província de Manica, num ataque que atribuiu às forças de defesa e segurança.
Na altura, a Frelimo acusou a Renamo de simular a emboscada, enquanto a polícia negou o seu envolvimento, acrescentando que estava a investigar.
Em entrevista ao semanário Savana, o ministro da Defesa, Salvador Mtumuke, também negou o envolvimento do exército.
Moçambique vive sob o espectro de uma nova guerra, devido às ameaças da Renamo de governar pela força nas seis províncias do centro e norte do país onde o movimento reivindica vitória nas eleições gerais de 15 de Outubro do ano passado.
Lusa – 28.09.2015
NOTA:
“"O mais presumível é que a troca de tiros tenha sido entre os próprios militares da Renamo, na sequência do primeiro tiro dado pelo homem que estava atrás da caravana", afirmou hoje o comandante da polícia de Manica, em declarações por telefone à Lusa.”
Mesmo que assim seja, não dariam de imediato pelo erro? Querem tapar os olhos a quem?
O que atrapalhou a acção da UIR/FIR, e estava fora de programa, foi o aparecimento de, pelo menos, 3 viaturas civis que nada tinham a ver com a emboscada.
Que melhor prenda para o 25 de Setembro que a “cabeça” de Dhlakama!
Pelo elevado número de guerrilheiros mortos, pode-se presumir ter sido uma força de elevado potencial em armas e homens.
Mas há sempre os improváveis…
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE