O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, permanece na cidade da Beira, centro de Moçambique, e só reaparecerá em público quando se sentir seguro com a sua escolta pessoal, disse hoje à Lusa o porta-voz do maior partido de oposição.
"O presidente da Renamo [Resistência Nacional Moçambicana] só pode aparecer em público quando tiver segurança e ele só se sente seguro com a sua escolta", afirmou António Muchanga.
Dhlakama não é visto publicamente desde o dia 09 de Outubro, quando forças policiais cercaram a sua residência na cidade da Beira e prenderam por algumas horas sete elementos da sua guarda.
A operação policial ocorreu um dia depois de o líder da oposição ter reaparecido na serra da Gorongosa, ao fim de duas semanas em parte incerta, na sequência de dois incidentes envolvendo a sua comitiva e as forças de defesa e segurança.
O cerco à residência da Beira só terminou quando o líder da Renamo aceitou entregar o armamento na posse da sua guarda ao grupo de mediadores que já o tinha acompanhado na saída da Gorongosa e que por sua vez o deixou à responsabilidade da polícia.
Desde então, Afonso Dhlakama não é visto em público, levantando-se várias especulações sobre o seu paradeiro.
António Muchanga reafirmou hoje à Lusa que o seu líder permanece na cidade da Beira e acrescentou que "nem sempre é o presidente do partido que fala" e que há outros órgãos e dirigentes que o fazem.
O porta-voz do partido de oposição declarou também que não houve avanços na proposta da Renamo em manter a escolta de Dhlakama, após um período de formação na Polícia da República de Moçambique.
"Se a situação está num impasse eu não sei, sei que colocámos a proposta e ainda não temos resposta", afirmou António Muchanga.
No dia 09 de outubro, líder da Renamo disse que mandou entregar as armas da sua guarda para evitar um banho de sangue junto da sua casa na Beira.
Remetendo uma posição de fundo para uma conferência de imprensa que nunca chegou a acontecer, Dhlakama sinalizou naquele dia que o próximo passo deveria ser a reintegração dos homens armados do movimento nas forças de defesa e segurança.
"Para mim, [o incidente] é o começo da reintegração. Estamos a insistir que, depois disto, o passo seguinte, já para a semana, haja unidades da Renamo e da Frelimo a serem treinadas na polícia", declarou.
Antes dos acontecimentos na Beira, registaram-se três incidentes em três semanas com a Renamo, dois dos quais envolvendo a comitiva do presidente do partido.
A 12 de Setembro, a caravana de Dhlakama foi emboscada perto do Chimoio, província de Manica, num episódio testemunhado por jornalistas e que permanece por esclarecer.
A 25 do mesmo mês, em Gondola, também na província de Manica, a guarda da Renamo e forças de defesa e segurança protagonizaram uma troca de tiros, que levou ao desaparecimento do líder da oposição para lugar desconhecido.
Uma semana mais tarde, forças de defesa e segurança e da Renamo confrontaram-se novamente em Chicaca (Gondola), com as duas partes a responsabilizarem-se mutuamente pelo começo do tiroteio.
Moçambique vive novos momentos de incerteza política, provocada pela recusa da Renamo em reconhecer os resultados das eleições gerais de 15 de Outubro do ano passado e pela sua proposta de governar nas seis províncias onde reclama vitória, sob ameaça de tomar o poder pela força.
Lusa – 27.10.2015