Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Amarrado, controlado, manietado, domesticado?
O mais alto magistrado da nação precisa urgentemente de libertação. Os estatutos da Frelimo são e estão contra a libertação do PR. As cordas que prendem e anulam a existência do PR estão nos estatutos que foram redesenhados com vista a garantir que o poder efectivo não mudasse de mãos mesmo que mudasse o nome do timoneiro.
Este facto associado à resistência interna que decerto encontrou quando assumiu o cargo de presidente da Frelimo por “renúncia” de Armando Guebuza torna as suas tarefas mais complicadas.
Só que o país não pode dar-se ao luxo de ter um PR ausente. Um PR que não fala com os seus concidadãos.
Alguma coisa deve ter sido decidida nos meandros da Frelimo sobre o que o PR pode ou não pode fazer. JAC e AEG enquanto presidentes da República e da Frelimo tiveram espaço de manobra e poderes reais. Quando o mesmo será outorgado ao actual PR?
Quando alguém disse que sem a Frelimo FJN nada era, tinha razão.
O país está refém de interesses pessoais que não estão dispostos a largar as rédeas do poder, por mais que digam o contrário.
É preciso chamar o conclave dos “generais do Norte” à mesa para que se decidam a desamarrar o PR, e é legítimo chamá-los, porque têm muitas palavras a dizer neste enredo todo.
Se a distribuição de pastas ministeriais, aparentemente negociadas entre as diferentes alas com poder na Frelimo, pareciam satisfatórias para as partes, isso deveria dar sossego às alas e libertar o PR.
Da maneira como o cenário está montado, temos um país sem timoneiro real. Há clareza ou continuidade nos pelouros económicos e sociais pouco expressivos, mas abunda indefinição nos pelouros de soberania. Ou será que o PR abdicou das suas funções de comandante-em-chefe a favor de terceiros?
O PR deve explicações ao povo moçambicano sobre as últimas ocorrências e sobre o que ele realmente quer no apregoado diálogo com a Renamo e outros partidos da oposição.
As resistências à mudança vão fazer com que a Assembleia da República chumbe qualquer proposta da oposição tendente a discutir com profundidade a actual crise política que o país vive.
Também não vai aceitar, como se viu, qualquer proposta de alteração pontual da CRM ou a sugestão ou proposta de que os governadores provinciais sejam eleitos.
Essa perspectiva de poder monolítico afoga as aspirações democráticas vezes sem conta ventiladas.
É um tudo ou nada contraproducente e uma manobra que evidencia que existem pessoas que não estão preparadas para serem da oposição. Pessoas que não assumem que a democracia tem custos e um deles é a partilha do poder.
Está faltando sentido de Estado e de patriotismo que muitos “camaradas” dizem que têm. Está ficando vincado que a era dos tristemente famosos “imperativos” não terminou com a saída de AEG de cena.
É a Frelimo que está demonstrando falta de liderança como partido.
Este partido não pode procurar soluções que ponham em perigo a paz. E este partido é suficiente adulto para não precisar de ajuda ou assessoria de prelados religiosos de utilidade duvidosa. Outra questão que importa salientar é que, enquanto não decisão firme sobre as reais pretensões da Frelimo, continuaremos tendo instabilidade cada vez mais generalizada.
Frequentemente se ouve de certos quadrantes que a Renamo é um factor de desestabilização com as suas reclamações e exigências, mas, na verdade, é a indecisão que reina na Frelimo que desestabiliza o país.
Quem retira ou esvazia o poder do PR é a Frelimo e não a Renamo.
Um corta-fitas não é o que o presidente homologado deve continuar a ser, se na verdade se quer estabilidade e paz em Moçambique.
É estranho que, depois de tantas reuniões pré-campanha e pós-eleições, não se consiga definir no seio da Frelimo o que deve ser a ordem interna e de onde provêm os comandos.
Essa coisa de estatutos de um partido é como a CRM, deve ser alterada em benefício da democratização do país.
O PR não terá tarefa fácil ao liderar com os pesos-pesados de seu partido, mas, se tiver a coragem de ir colocando as suas pedras nos lugares vitais, vai conseguir libertar--se das amarras que o asfixiam.
Cabe a ele compreender que tem duas opções: ser marionete ou ser o PR que o país precisa e exige neste momento grave da sua história.
Ele jamais se deve esquecer de que há uma legião de pessoas esperando enriquecer pela sua proximidade para com ele. Gente que sem escrúpulos faz e fará tudo para encaminhá-lo para situações das quais será o único responsável se algo correr mal ou menos bem.
Outra coisa que parece evidente é o PR foi rodeado uma equipa de assessores e conselheiros com pouco valor prático e com ciência discutível.
Quem deixa o PR ficar mal na fotografia não merece continuar como seu assessor ou conselheiro. Ele representa, quer queiramos, quer não, todo um povo. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 29.10.2015