Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Se guerrearem, perdem os dois e ganham os de sempre?
Será verdade, ou é mais uma teoria de conspiração mal elaborada? A aparente falta de consequência discursiva e de acções, no que se refere à equipa governamental coadjuvada pelo seu partido, pode ser produto de falta de alinhamentos num partido que estava habituado a governar sem contestações.
Não é acaso que existe um desfasamento visível entre a equipa económica do Governo e os órgãos que lidam com questões de soberania.
Não terá sido muito fácil concertar e encontrar os elementos aceitáveis entre as partes para serem membros da equipa governamental existente.
As mudanças até aqui operadas são indicativas de que tudo ainda é possível e que não tem a configuração final do Governo desejado pelos actuais detentores do poder.
Devido à forte relação entre a Comissão Política da Frelimo e a linha seguida pelo Governo, deve-se depreender de que só quando se realizar uma sessão do Comité Central da Frelimo destinada a discutir o seu futuro é que haverá clarificação de muitas coisas. Moçambique está efectivamente refém do CC da Frelimo, e disso convém não se ter dúvidas.
Filipe Jacinto Nyusi, AMMD reclama e, com ele, largos segmentos de moçambicanos são que quem também ganhou fique sem nada.
Algo que parece simples, se houvesse pragmatismo, está virando em jogatina legalista e constitucionalista sem substância. Não vão ser estes alegados legalistas e especialistas que vão trazer concórdia alguma.
Estes senhores querem continuar a comer “na sombra da bananeira” que os detentores do poder deixam.
Quanto às perguntas do título, tem validade no que possam ser as consequências de qualquer passo dado em falso pelos dois líderes.
Havendo guerra, nem FJN nem AMMD serão vencedores, pois como as anteriores guerras não houve vencedor senão uma solução que foi bem ou mal negociada.
Uma das perguntas que sobressaem é a sensação de “controlo” em que se encontra o PR. Quem paralelamente possui ascendente sobre o PR deve ter decidido o que este tem de fazer e tocar.
Este estado de coisas dificulta edilui de modo efectivo os poderes presidenciais. A sua agenda de paz perde valor e significado.
Quanto a AMMD, existem segmentos que gostariam de o ver continuando a sacrificar-se em movimentações militares espontâneas para alegadamente demonstrar que tem poder.
A contenção exercida por AMMD também não agrada aos elementos radicais existentes na Renamo.
E para além disso há muitos milhares de moçambicanos que, sem serem membros activos da Renamo, votaram nela, esperam, exigem que o seu voto tenha significado.
As leituras que os políticos de topo fazem em qualquer dos partidos não algo linear em que se possa cegamente. Há muitos erros que provocaram dissabores no passado e houve erros operacionais e de estratégia que possibilitaram que a mentira eleitoral triunfasse.
Há interesses velados que se escondem nos corredores do poder.
Os travões manifestos aos esforços a pacificar o país são uma mina retardada que pode
explodir a qualquer momento.
De modo directo, convém que se diga que existe experiência e conhecimentos detalhados sobre as causas das sucessivas crises nacionais.
E repetir que existe um forte sentido de propriedade exclusiva do país por parte de um selecto grupo de cidadãos não nos deve cansar, pois aí está uma das causas das aparentes desinteligências e excessos complicando os cenários e possíveis “saídas airosas” para as partes em conflito.
A rejeição do diálogo e a pretensão de supremacia político-militar já foi de forma reiterada também rejeitada pela sociedade. Pode ainda ser com a firmeza desejada, mas alegra saber que a sociedade civil se está emancipando do apadrinhamento dos partidos políticos.
Não se pode parar de denunciar pretensões ditatoriais de quem quer que seja no espectro político nacional.
Os movimentos urbanos político-culturais surgem e avançam, mas são negativamente contrariados por filosofias consumistas que inundam a comunicação social televisiva.
Se tivéssemos tanta pujança política de jovens como se dedicam à imitação” da cultura americana, teríamos outros resultados políticos.
Também não se pode esquecer que são os jovens que têm sido utilizados como membros de brigadas de choque e de impedimento de actividade política da oposição.
Toda a orquestração de fraudes de natureza político-eleitoral teve como base central a anuência de jovens professores e académicos aliciados e pertencentes ao braço juvenil da Frelimo.
Reconhecer a verdade não é acusar, mas também contribuir para mudanças estruturais fundamentais.
Se queremos um próximo ciclo eleitoral livre de fraudes, teremos que manter a paz e fortificar o edifício judicial e parlamentar.
Não se obtém perfeição à primeira, mas os moçambicanos estão dando passos essenciais ao manifestarem-se contra a guerra fratricida ou qualquer tentativa de adulterar o panorama nacional.
Não queremos novos colonos nem alguém que se proclame proprietário de Moçambique.
(Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 16.11.2015