O principal local de partida de escravos, antes da abolição do fenómeno, para outras partes do mundo, com destaque para as Américas, denominado Jardim de Memórias, na cidade insular da Ilha de Moçambique, província de Nampula, está já a beneficiar de obras de restauração, no âmbito dos esforços que estão a ser feitos com vista, particularmente, a conservar a história secular sobre o abominável tráfico em Moçambique.
De há algum tempo a esta parte, aquele sítio apresentava sinais de abandono, facto que constituía motivo de apreensão dos residentes da Ilha de Moçambique e não só, por considerarem que o Jardim não estava a merecer o devido tratamento conquanto local de disseminação da história de exportação de seres humanos no país.
A situação tornava-se mais preocupante quando se sabe que o local é um dos mais visitados por pessoas que chegam à ilha, sobretudo turistas nacionais e estrangeiros curiosos em perceber como é que se processava efectivamente a exportação de escravos que chegou a ser o principal comércio daquela que foi a primeira capital de Moçambique.
O director do Gabinete de Conservação da Ilha de Moçambique (GACIM), Celestino Girimula, disse que as obras ora em curso, referentes à primeira fase do empreendimento, têm suporte financeiro do Estado e de algumas organizações das ilhas Reunião, cujos escravos também transitaram por aquele jardim.
Girimula explicou que, depois de concluídas as referidas obras, o jardim poderá dispor, pela primeira vez, de um centro de interpretação de documentos históricos e culturais, considerados muito importantes, não só de Moçambique, como doutros países vizinhos como Ilhas Reunião, Maurícias e Seicheles, cujos povos têm afinidades nesses aspectos.
A existência desse centro vai permitir que os estudantes e outras pessoas interessadas em conhecer matérias históricas, relacionadas especialmente com o tráfico de escravos, possam fazer consultas nos documentos que estarão disponíveis.
“Por isso, o objectivo destas obras é de conservar a memória sobre o fenómeno de tráfico de escravos a partir da Ilha de Moçambique para outras partes do mundo, principalmente para Indico e Américas. Na verdade, o Jardim de Memórias é um local que não pode ser subestimado, precisa de ser conservado para que as gerações vindouras conheçam a história sobre o tráfico de escravos”, realçou Girimula.
De acordo ainda com director do Gabinete de conservação da Ilha de Moçambique, o projecto de restauração do jardim contempla, também, o melhoramento da rampa de escravos de Mossuril, onde se juntavam antes de serem levados para Ilha de Moçambique, e de onde partiam para vários destinos das Américas.
Recorde-se que o Gabinete de Conservação da Ilha de Moçambique foi criado em 2006, tendo iniciado as suas actividades no ano seguinte, com as atribuições de planificar, coordenar e orientar as actividades de pesquisa, protecção, conservação e restauro do património histórico e arquitectónico.
WAMPHULA FAX – 18.11.2015