Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Moçambique está numa espiral de violência ou de violência em fermentação, tudo por causa de leituras repetidamente erradas de alguns protagonistas.
Olhando para o que os órgãos de comunicação públicos dizem todos os dias, parece que Moçambique caminha para o mar alto.
Toda a pompa e circunstância evidenciada e cultivada nos banquetes oficiais e oficiosos nas capitais provinciais e especialmente em Maputo são indicativos firmes de que a elite político-financeira nacional é míope, ou comporta-se como tal.
Uma ofensiva de desarmamento compulsivo da Renamo engendrada nos meandros político-militares da Frelimo manda dizer que a Frelimo quer continuar a ser partido único. O que alguns dos seus fundadores e líderes têm dito em público não esconde as suas pretensões e imposição de um “status” em que os outros partidos políticos sejam simplesmente paisagem para embelezar um pluralismo político vazio.
Moçambique está ficando claramente um país das aparências. Existem evidências de que o “cão não larga o osso”. E o mais grave é que os detentores do poder se tornaram os “proprietários de facto de Moçambique”.
Por mais curvas e discursos que sejam proferidos, nada disso alterará as peças no tabuleiro do xadrez nacional.
Dizem uma coisa e têm uma máquina montada para fazer o contrário.
Alguém se lembra das dificuldades criadas para legalização das candidaturas dos membros dos partidos da oposição para a operação de Outubro de 2014? Mas, na Beira, os serviços governamentais de oficialização de candidaturas chegaram a deslocar-se para as sedes da Frelimo e lá procederam ao trabalho. Facilitar para uns e dificultar para os outros tem sido a táctica utilizada em todos os ciclos eleitorais.
Depois, os “paladinos da democracia” dizem que as eleições foram “justas, livres e transparentes”. Os analistas de serviço na comunicação social pública lançam-se aos púlpitos declamando “poesia política” enganosa e intragável.
A formatação de mentes levada a cabo durante décadas já tem resultados visíveis.
Encheram o país de “doutores improdutivos” e francamente ignorantes. Alguns nem falar sabem e, quando parece que brilham, o que na verdade brilha são os fatos que envergam, pois das suas bocas ou lavra saem nulidades e inconsistências.
O que alguns órgãos de comunicação social televisivos apresentam como analistas são produtos do “copy/paste” universitários que, para além de encherem os telespectadores de referências livrescas, se inibem de dizer a verdade. Sabem que a verdade seria o fim das mordomias. Seria o fim de carreiras de “engraxadores e polidores”. Seria o fim do “eldorado”.
E o mais grave é que, de entre a escória “académica”, haja quem vai buscar conselheiros e assessores para o PR, para os ministros. Realmente há que escolher gente de confiança para certos cargos, mas não se pode deixar de lado a competência e o conhecimento. Encher o Governo de ministros e vice-ministros só para preencher quotas e equilibrar interesses de grupos poderosos do partido no poder pode parecer a fórmula de estabilização, mas é uma aposta cancerígena que tira criatividade ao Governo.
Um ministro que durante décadas não conseguiu diminuir as importações de alimentos não pode continuar ministro só porque pertence à Comissão Política da Frelimo. Se os ministeriáveis são material de segunda ou terceira e ocupam os cargos pode amizade e confiança, acaba entregando o país a ministros medíocres, com as consequências que daí advêm. Não é precisa lupa para ver que alguns dos ministros que temos são por conveniência de alguém e para assegurar interesses específicos de alguém.
Moçambique não é um feudo nem pode tornar-se um feudo dos “libertadores”, como se insiste e se implementa.
Ter um país a dois ou três tempos é uma forma de fazer política atípica e perigosa.
Não se pode esperar que os nossos parceiros externos nos socorram a cada derrapagem provocada por visão afunilada dos governantes.
Uma das fraquezas monumentais que existem é o nosso Parlamento, onde os deputados votam em obediência ao que o partido decidiu. Votam sem estudar os “dossiers”, e raramente os conhecem.
Nesta IV República, temos a agravante de que existe um “Governo-sombra” que gravita à volta de um “conclave secreto”. Há quem tem de dizer a última palavra, e esse ou esses estão meramente preocupados em cimentar e aumentar as suas contrapartidas privadas.
Há que sermos honestos e dizer que “governar tornou-se em governar-se”.
Quando se fala da agenda nacional, é o mesmo que “alavancar” negócios privados via CTA, FACIM ou MOZEFO. É o “reino das boladas”, em que o Estado paga e os lucros ficam em mãos privadas. Agora vão comprar autocarros para Maputo, e a FEMATRO, que sabemos o que é, vai gerir e lucrar.
Quantas operações destas já se fizeram?
Os avanços políticos tardam porque a perspectiva em voga é a “bolada” como forma de governação.
Moçambique e as suas “forças vivas” precisam de situar-se e defender o que lhes pertence.
Muito do que parece difícil e complexo não chega a sê-lo. Há quem exagera por conveniência.
A musculatura beligerante exibida por certos sectores afectos ao partido Frelimo faz parte de uma agenda de defesa patrimonial.
Esconder e ignorar não elimina os problemas existentes. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 30.11.2015