500 Anos: Timor-Leste e Portugal,
Facto inédito no Mundo em que um Povo colonizado toma a iniciativa em celebrar a chegada dos colonizadores nas suas praias e o início de séculos de colonização. Não cabe aqui fazer uma reflexão exaustiva sobre 500 anos da experiência histórica entre os nossos dois povos pois um tal exercício imporia muitas mais paginas e outros já o fizeram.
Por mim eu só diria, orgulho-me de fazer parte de um povo e de uma liderança sem preconceitos nem complexos em relação a Portugal ou a qualquer povo.
As nossas relações atuais com a Indonésia, Austrália e EUA, são igualmente reveladores da nossa maturidade em forma e substancia como abordamos e gerimos as experiências do passado e os imperativos do presente como Estado soberano.
O pragmatismo nos aconselhou nas nossas decisões, mas igualmente se impõe a nossa convicção e sensibilidade de não guardarmos ressentimentos pelo passado mais trágico e dele nos tornarmos reféns.
Portugal teve um papel central, decisivo, na nossa vitoria. Ela não teria sido possível sem a ação diplomática concertada dos Países de Expressão Oficial Portuguesa - a CPLP - e, em particular, de Portugal, que soube assumir com dignidade e determinação as suas responsabilidades como Potência Administrativa de Timor-Leste.
A partir de 1991 o Estado Português, através de todos os seus Órgãos de Soberania - Presidência da República, Governo, Parlamento Nacional - fizeram da causa de Timor-Leste uma Causa Nacional. Nunca uma acção diplomática Portuguesa foi tão consensual, tão intensa e tão apoiada pela opinião publica nacional, por todas as correntes políticas e sociais.
E a diplomacia portuguesa que eu testemunhei pessoalmente durante duas décadas revelava grande inteligência, dignidade, persistência e coragem.
A seguir a 1999, em termos comparativos de PIB, o apoio de Portugal a Timor-Leste, nos anos difíceis de penúrias de TL, e anos seguintes de reconstrução nacional e desenvolvimento, superou o de muitos outros Países mais ricos.
Os governantes Timorenses devem diversificar e intensificar as relações com Portugal, privilegiando investidores e parcerias com Bancos e empresas publicas e privadas Portuguesas, nas áreas de construção de infra-estruturas, agro-pecuária e segurança alimentar, transportes marítimos e indústria naval, para dotar TL, numa primeira fase, de capacidade técnica e humana de manutenção de uma frota nacional, podendo expandir depois para projetos mais ambiciosos de manutenção de navios de recreio e outros de pequeno e médio calado.
Devemos expandir e melhorar a existente cooperação nas áreas tradicionais como a educação.
A cooperação na área de defesa entre TL e Portugal tem sido de muito sucesso porque em parte e felizmente as FFDTL tem tido lideres capazes e coerentes que tem sabido valorizar as relações entre TL e Portugal.
Associo-me inteiramente as celebrações dos 500 anos da nossa Historia Comum. Timor-Leste diz ao Mundo, vivamos todos, sem preconceitos e complexos, juntos continuando a erigir alicerces de solidariedade e da paz.
Na impossibilidade, totalmente compreensível, da presença do Chefe de Estado e do Governo, representa Portugal nas celebrações o Presidente do Tribunal Constitucional, Prof. Dr. Joaquim de Sousa Ribeiro.
Nós saudamos essa decisão sábia de Portugal em designar figura tão prestigiada para representar Portugal. O Presidente do Tribunal Constitucional Prof. Dr. Joaquim de Sousa Ribeiro é muito bem-vindo a Timor-Leste, terra que, como escreveu Luiz Vaz Camões," o Sol Logo em Nascendo Vê Primeiro".
Noticia a LUSA que as celebrações incluem a inauguração de um novo monumento em Lifau, ao lado do padrão que assinala a chegada dos portugueses a Timor-Leste, a 18 de agosto de 1515, e que, outrora, tinha escrita, em azulejos no chão, a frase "aqui também é Portugal".
O Presidente São-Tomense, o Primeiro-Ministro Cabo-Verdiano e o Príncipe do Mónaco confirmaram já que vão estar presentes nas celebrações, que decorrem em Lifau e em Ponte Macassar, a capital do enclave.
O extenso programa das comemorações, que decorrem em Oecusse, Díli e noutros pontos de Timor-Leste, inclui exposições, palestras e um concerto do português Tony Carreira e do cabo-verdiano Tito Paris.
José Ramos-Horta
Obs. A concepção artística original do monumento e de todo todo o ambiente integrado foi da autoria do conhecido designer Joaquim De Brito. Formado no Reino Unido, Joaquim De Brito, foi o autor e executor de inúmeras exposições internacionais, para além de Lisboa, Luanda, Roma, etc. Foi Joaquim De Brito que concebeu a primeira participação de Timor-Leste, de muito êxito na Expo' 98 em Lisboa, e mais tarde a presença de TL na Expo de Shanghai, também de inegável êxito.
In https://www.facebook.com/officialramoshorta/posts/1001416749910209
NOTA: A seu tempo outros farão o mesmo. Parabéns a Timor-leste!
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE