EDITORIAL
Os mediadores do diálogo político entre o governo e a Renamo convocaram, esta quarta-feira, a comunicação social para falarem dos últimos acontecimentos no âmbito da busca de caminhos que possam aproximar as partes e, por conseguinte, devolver-se, ao país, um ambiente de verdadeira paz, segurança e tranquilidade públicas.
A convocação da conferência de imprensa foi antecedida por discursos que, interpretados, podem poderão ter criado algum desconforto no seio dos mediadores (conhecidos) do diálogo político moçambicano.
Duas situações.
Primeiro foi o Chefe de Estado que, na última sexta-feira, em sessão pública, avançou em acusações graves contra aqueles que os chamou “intermediários”.
Depois foi a vez de o porta-voz da Renamo, na segunda-feira, não ter hesitado em classificar como “aprendizes” os “mediadores” do diálogo.
Recebida a informação, o público interpretou e identificou os “intermediários” referidos por Filipe Nyusi. Para o público são eles: Lourenço do Rosário, Dom Dinis Sengulane, Filipe Couto, Anastácio Chembeze e o sheik Abibo. Os jornalistas, de forma particular, também entenderam que os “intermediários” desconhecidos, apontados por Nyusi, eram os “mediadores” que publicamente foram apresentados e são por todos nós conhecidos. E esta ligação tem toda a lógica de ser.
Primeiro porque nunca nos foi apresentado um só intermediário. Segundo porque não estaríamos a forçar nada se dissermos que semanticamente não existe grande distância entre o real significado das palavras “intermediário” e “mediador”.
Na verdade, um simples estudo da sinonímia nos sugere que “intermediário” é sim sinónimo de “mediador” e “mediador” é sim sinonimo de “intermediário”.
Entretanto, os mediadores disseram ontem que era errado relacionar a sua actividade, na qualidade de mediadores, com a função dos intermediários referidos pelo Presidente da República.
Portanto, pouco ou nada poderiam comentar em relação aos intermediários referidos por Filipe Nyusi.
Este tipo de discurso parece ser mais de conveniência (do politicamente correcto) e não realista. Fora do politicamente correcto, seria legítima uma demonstração clara de preocupação e indignação por parte do grupo de mediadores, tendo em conta que, muitas vezes, funcionam sim tanto como mediadores tanto como intermediários.
Aliás, nem publicamente e nem oficialmente se conhece alguma lista de intermediários, mas sim e unicamente é conhecida a lista de mediadores.
A indignação é um direito constitucional que, sem qualquer medo, deve ser accionada nestas situações, pois, permite-nos desabafar e, daí, perdoarmo-nos.
MEDIA FAX – 24.12.2015