"Por isso, celebremos a festa não com o velho fermento, (...) e sim com os asmos da sinceridade e da verdade". 1 Coríntios 5:B
Claro que sou, sim senhor Cristão e praticamente, mas acima de tudo sou orgulhosamente Africano! Sexta-feira passada foi festa, em muitos países de orientação Cristã; a comemoração do 25 de Dezembro,Natal, que celebra o nascimento de Jesus Cristo, figura central do Cristianismo, mas incutido nas mentes dos Moçambicanos pelo Governo colonial Português, como dia no qual "todo o Povo" deve comer, beber à fartura e "explodir" todas as parcas economias! Recordo-me como se fosse ontem, todas as poupanças de doze meses, tinham de ser "queimadas", alegadamente para recebermos condignamente o "Menino Jesus", A castanha de caju "TiKanju", a semente de Hafura "Ti Khusu", e Café "Khofi", (na língua da minha mãe), eram as nossas fontes de receitas. A troca de uma lata de castanha de caju de 20 litros, por Vinte e cinco escudos (25$00), permitia-nos obter um calção, um "hayekani" camiseta e sapatilhas brancas. Tudo bem. Mas eu como N"Txiopí de gema, (Machope como queiram). Povo que já antes de o colono cá penetrar, tinha na Circuncisão (Wu kwera ouN 'jungi), e dança de Timbila ou Ngalanga valores culturais da Tribo, ninguém mais veio explicar-me em que época do ano ou em que ocasião se deverão realizar.
Afinal, quais eram as nossas principais festas, como Povos (Khoisan, Emakuwa, Vao, Tsonga ou Ndawu por exemplo), antes da comprida garra colonial abocanhar-nos. E que a nossa história como POVO, unido do Rovurna ao Maputo e do Zumbo ao Indico, com as nossas crenças, as nossas tradições, e os nossos Tabus, e seus significados está longe de ser conhecida. Neste momento, ela (nossa história), apenas está um verdadeiro "embrião". Infelizmente poucos sãos, os "Cientistas Sociais" (se é que os temos), preocupados em trazer-nos na memória o que fomos ou como éramos, antes da nossa entrada nessa tenebrosa "noite milenar" colonial.
Aliás, que se saiba, são poucas as escolas superiores, que têm Faculdades de cursos de ciências sociais e humanas como a Teologia, que estuda a análise das religiões num contexto histórico específico e a sua influência sobre os processos antropológicos e sociológicos; O Etnodesenvolvimento, um princípio que compreende o respeito à autonomia dos povos indígenas que éramos com o objectivo de definir uma participação qualificada dos povos indígenas nas questões referentes à protecção das suas culturas, características e credos; a Arqueologia, que estuda as sociedades humanas por meio de objectos que foram produzidos e utilizados no passado; Donde, até hoje, festejamos entusiasticamente o Natal e outras efemérides iminentemente europeias e ou asiáticas, esquecendo que também nós como Povo, temos os nossos dias e os nossos lugares sagrados.
Conheço compatriotas que, "morrem" por ir a Portugal para visitar a famosa Capelinha das Aparições de Fátima, ignorando ou desprezando completamente que aqui muito pertinho, em Gaza, (Chikhumbane), só para dar exemplo, temos a "Mata Sagrada de Chirindzeni" (Pahlelureni ka Mathavele), venerada e protegida pela população local, constituída por uma rica diversidade biótica e abiótica: um jardim natural, árvores de grande porte, plantas medicinais; macacos, serpentes e aves e uma nascente de águas cristalinas.
Natal sim, mas sobretudo como Festa da Família Moçambicana no seu todo!
Kandiyane Wa Matuva Kandiya
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JORNAL DOMINGO – 27.12.2015