Confrontos entre as forças de defesa e segurança e a guarda da Renamo provocaram hoje uma nova vaga de deslocados no povoado de Ndande, em Nkondezi (Moatize), província de Tete, centro de Moçambique, disseram à Lusa populares.
"Perto das 06:00 da manhã (04:00 em Lisboa) começou o tiroteio e a população fugiu para as matas. Outros fugiram na quarta-feira quando algumas casas foram queimadas e estão no mato", contou por telefone à Lusa Filipa Cadeado, uma comerciante da região, sustentando que a área já era pouco habitada devido ao conflito político-militar.
Na quarta-feira, disse, pelo menos seis casas foram queimadas quando as forças especiais da polícia moçambicana avançaram a sua posição para desativar uma base militar da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), maior partido da oposição.
Gabriel Ndondo, um morador de Nkondezi, contou que nesta quinta-feira o tiroteio começou quando as forças de defesa e segurança tentaram transpor o cordão de segurança da guarda do movimento, que reagrupou os seus homens numa antiga base militar na região.
Ainda não são conhecidos os danos do tiroteio desta quinta-feira.
Em declarações hoje à Lusa, António Muchanga, porta-voz da Renamo, confirmou sem detalhes os confrontos da manhã desta quinta-feira em Ndande (Moatize), afiançando que seis casas terão sido destruídas durante os preparativos da "invasão da base" da Renamo.
À Lusa, Luís Núdia, porta-voz do Comando provincial da Polícia em Tete, não confirmou nem desmentiu a informação mas remeteu explicações para mais tarde.
A Polícia iniciou a operação de recolha de armas da Renamo, no dia 09 de outubro, quando forças especiais cercaram e invadiram no bairro das Palmeiras, na Beira, a casa do líder, Afonso Dhlakama (que não é visto em publico desde a data), tendo levado 16 armas.
A réplica da operação pelas bases do movimento provocou uma nova vaga de deslocados nos distritos de Gorongosa e Inhaminga (Sofala), Moatize (Tete) e Morrumbala (Zambézia), centro de Moçambique e Funhalouro (Inhambane, sul).
Em novembro, o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, defendeu ponderação no desarmamento compulsivo da Renamo, como forma de dar espaço ao diálogo, mas o líder da Renamo, não reapareceu e ameaçou, em conferência de imprensa por telefone, governar as províncias onde reivindica vitória eleitoral a partir de março próximo.
Moçambique vive uma situação de incerteza devido à recusa da Renamo em aceitar os resultados das eleições gerais de outubro de 2014 e às suas ameaças de governar a força nas províncias onde reivindica a vitória no escrutínio, depois da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), partido no poder, ter chumbado dois projetos de lei, que defendiam a criação de seis províncias autónomas no centro e norte.
AYAC // MSF
Lusa – 31.12.2015