A Renamo diz que são aprendizes e Nyusi diz que andam a procura de protagonismo
- No início da tarde desta quarta-feira, em conferência de imprensa, o grupo deverá mostrar o seu total desagrado e posicionamento em torno dos pronunciamentos que se têm ouvido nos últimos dias
Um ambiente de mal-estar está a tomar conta do grupo de mediadores do chamado diálogo político que coloca frente-a-frente e à mesma mesa as delegações da Renamo e do governo, isto no âmbito da busca de caminhos que possam devolver um clima de paz e tranquilidade efectivas ao território nacional.
É que na última sexta-feira, durante o habitual brinde do fim do ano, o Presidente da República, sem pestanejar nem gaguejar, ter acusado os mediadores do diálogo político moçambicano de estarem a contribuir negativamente para o não andamento do processo.
Na justificação, Nyusi disse que alguns membros do grupo, mais do que servirem de fiéis intermediários e mediadores que aproximam as partes, têm estado, nos últimos tempos, a procurar protagonismo, realidade que faz com que o diálogo continue a não produzir os efeitos desejados.
Filipe Nyusi evitou citar nomes, mas o que se sabe é que no grupo de mediadores estão figuras renomadas e consensuais do mundo académico e religioso.
Lourenço do Rosário, reitor da Universidade A Politécnica; Dom Dinis Sengulane, bispo emérito da Diocese dos Libombos; o reverendo Anastácio Chembeze em representação da igreja metodista, o padre Filipe Couto em representação da igreja Católica e o Sheik Saíde Abibo em representação da comunidade muçulmana, são as ilustres figuras que fazem parte da mediação das conversas bi-partidas entre a Renamo e o governo.
Depois dos pronunciamentos públicos de Filipe Nyusi não tardou o incendiário porta-voz da Renamo, António Muchanga, vir publicamente, em plena conferência de imprensa, também sem pestanejar nem gaguejar, chamar o grupo de mediadores, sem excepção, de ser composto por mediadores “aprendizes”.
Muchanga ainda justificou que a falta de experiência de mediação que caracteriza o grupo pode ser comprovada no tipo de resultados conseguidos.
Ou melhor, na falta de resultados substanciais desde que o diálogo político iniciou.
Como não podia deixar de ser, os visados não receberam com agrado os pronunciamentos. No sentido de mostrar o seu desagrado estes deverão reagir publicamente, em conjunto e em conferência de imprensa, no início da tarde desta quarta-feira.
De forma particular, os mediadores devem reagir em torno dos pronunciamentos do porta-voz da Renamo, que chamou o grupo de “aprendizes”, mas haverá, certamente, espaço para dizerem alguma coisa em relação ao facto de o Chefe de Estado os ter acusado de estarem mais à busca de protagonismo do que, necessariamente, a busca de soluções para se ultrapassar os actuais pontos em discussão no diálogo político.
Nisto, o mediaFAX falou telefonicamente, na manhã desta terça-feira, com o reitor d‘ A Politécnica, Lourenço do Rosário. Bastante cauteloso, Do Rosário simplesmente mostrou dúvidas em relação a real proveniência do discurso de António Muchanga, particularmente no que diz respeito à acusação de o grupo ser composto por “aprendizes”.
Para Lourenço do Rosário, António Muchanga é uma pessoa emocionada.
Porém, Do Rosário evitou aprofundar o assunto sob alegação de que o grupo de mediadores irá reagir em bloco sobre os recentes pronunciamentos de Muchanga.
Igualmente, falamos com o reverendo Anastácio Chembeze, parte das figuras do processo negocial entre o governo e a Renamo. Este disse que já está a par dos pronunciamentos do porta- voz da Renamo, colocando a hipótese de o grupo reagir em conjunto esta quarta-feira.
Conforme noticiamos na edição desta terça-feira, a Renamo, na voz do seu porta-voz, propõe a reativação do diálogo político com a mediação do actual presidente da África do Sul, Jacob Zuma e da Igreja católica Romana.
A escolha de Jacob Zuma é sustentada pelo facto de este ter liderado, com êxito, o processo político zimbabueano e a igreja católica romana pelo facto de, também com êxito, ter conseguido liderar o processo de pacificação que culminou com a assinatura do Acordo-Geral de Paz, em Moçambique.(B. Luís)
MEDIA FAX – 23.12.2015
NOTA: Seria interessante se não reagissem ao pronunciamento do PR.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE