Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Palavreado cansativo no parlamento jamais será trabalho.
Onde se espera trabalho diligente e criativo, qualidade e desempenho dos nossos deputados, estes oferecem-nos mediocridade e silêncio.
Gastam-se tantas horas lendo discursos, que muitos dos deputados acabam dormitando ou mesmo dormindo. Fala-se de projeções macroeconómicas e de racionalização, mas de austeridade efectiva pouco ou nada se vê.
A presente sessão parlamentar é típica de parlamentos atípicos onde a maioria parlamentar pouco mais serve do que para carimbar o que o Executivo traga.
No lugar de termos uma assembleia vibrante com debates incisivos, continuamos assistindo a troca de favores e de insultos.
Multiplicam-se comissões parlamentares e procura-se dar um ar de normalidade copiando modelos orgânicos internacionais, mas, no fim, quando se fala de trabalho, ele não surge nem se vê.
Tempo e recursos gastos repetidamente sem resultados com impacto na vida dos representados por estes dispendiosos representantes.
Um parlamento que se transformou numa “sarjeta” ou valeta para onde são drenados recursos escassos.
É preciso que os moçambicanos manifestem a sua repulsa por este órgão tão oneroso. Um grupo de cidadãos com salários e mordomias bem acima da média, transformado em prisioneiro de orientações e instruções partidárias, deve merecer tratamento correspondente ao que faz.
Cabe aos moçambicanos mobilizarem-se e repudiarem de maneira pública que suga recursos e não produz. Se a sua única capacidade é concordar por unanimidade na alocação de benefícios para si próprio, é tempo de dizer “não”.
Nada acontecerá se não se fizer coisa alguma face à monstruosidade e crueldade demonstrada por parlamentares medíocres.
Não são todos medíocres. Há honrosas excepções em todas as bancadas existentes, mas a maioria são “ervas daninhas” sugando fertilizantes que deveriam estar alimentando as plantas cultivadas.
Longas apresentações de utilidade duvidosa são o prosseguimento de uma prática antiga de relatórios bonitos que não traduzem trabalho bonito.
Após maratonas de escuta de discursos pomposos e escritos por cultores da língua portuguesa, não admira que muitos deputados não resistam e acabem dormitando e mesmo dormindo.
É preciso romper com o ciclo de mediocridade parlamentar através de acções enérgicas. A cada visita que os deputados façam aos seus círculos eleitorais devem encontrar os cidadãos prontos para exigir deles.
Respostas ao que estão fazendo e os resultados alcançados. Perguntas objectivas sobre o falhanço de iniciativas pacificadoras. Razão de ser de tanto adiamento do que todos sabemos deveria estar impulsionando o desenvolvimento do país.
Só os moçambicanos poderão mudar Moçambique.
Mas mudar significa trabalhar. Mudar significa entrega a uma luta quotidiana de modo total e completo.
Compreende-se que o estomacalismo parlamentar possui raízes partidárias que importa cortar. Os cortes devem ser feitos na altura própria, da mesma maneira que a poda das árvores é feita em épocas próprias.
Votar em eleições é um primeiro passo para deputar o parlamento de elementos inúteis. Há que mostrar aos partidos políticos que, se suas escolhas para deputados são medíocres, o voto irá para outros. A varinha mágica que os cidadãos possuem é o seu voto, e aí está o segredo para a vitória de uma agenda que tenha impacto na vida dos cidadãos.
Compatriotas, não se pode dar oportunidade para que as forças retrógradas, saudosistas dos tempos áureos do partido único, vençam e imponham uma regressão política a todo um povo.
Alguns “pronunciamentos” politicamente correctos de algumas figuras de proa dos tempos dos campos de reeducação revelam preocupação com a possibilidade de a posição se tornar oposição. Isso já teria acontecido se tivesse havido concertação e coordenação real em tempo real entre a oposição. Outra faceta que importa explorar é a cooperação política internacional, buscando suprir lacunas, especialmente ao nível das tecnologias de informação e tecnologia.
Não se pode ir para o próximo ciclo eleitoral sem domínio completo do “hardware” e “sofware” eleitoral em uso.
Não se pode permitir que existam possibilidades de minar o “procurement” eleitoral.
Com chumbos ou com sem chumbos, a luta política deve prosseguir com criatividade e inteligência.
Não se pode cair na fita dos falcões da guerra, porque estes sabem que com guerra interrompe-se o ciclo político democrático e impõem-se medidas excepcionais que garantiriam a sua permanência no poder sem necessidade de eleições.
É preciso ter muito cuidado e frieza na leitura dos acontecimentos.
Há ânimos exaltados que gostariam de AMMD escolhendo e enveredando pela guerra. Há gente da ala radical da Frelimo que gostaria de ver AMMD declarando guerra, porque isso iria ao encontro da sua agenda de manutenção e controlo do poder. A “III República” talvez sonhe ressuscitar através da guerra.
Informar e educar o eleitorado deve ser trabalho de todos os dias, e nisso os políticos têm de mostrar que possuem fibra e talento. Defender a soberania não deve ser subterfúgio
para amordaçar compatriotas e incentivar o assassinato político.
Tolerância, responsabilidade, trabalho, seriedade, superam em efectividade a retórica barata e formalismo putrefactos. Não queremos religião no parlamento nem que este se transforme numa igreja em que cada passo é coreografado e executado milimetricamente. Queremos criatividade e brilho real de mentes que se batem todos os dias em defesa da agenda nacional e dos interesses dos seus representados. O resto é indigesto. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 11.12.2015