Editorial
O descalabro do processo de diálogo entre o Governo e a Renamo, no Centro de Conferências Joaquim Chissano, a reprovação- de forma liminar- pela Assembleia da República do projecto da Renamo sobre as autarquias provinciais e o recente cerco à residência de Afonso Dhlakama na Beira, afinal de contas, escondem o desejo camuflado de recurso fácil à violência como forma de alcançar objectivos inconfessáveis, estando a nação moçambicana, neste momento, com pouquíssimas chances de continuar a garantir a paz e estabilidade política.
O Presidente da República, Filipe Nyusi, disse recentemente num jantar que ofereceu ao corpo diplomático acreditado em Moçambique, governantes e outras individualidades que ele era pela paz.
Que jamais vergará até alcançar a paz efectiva por via do diálogo.
Disse ainda que estava disponível a encontrar-se com o líder da Renamo para discutirem essa mesma paz. Arrancou aplausos dos presentes e a sua mensagem foi difundida por todos os órgãos de comunicação social.
Jamais a paz e o diálogo mereceram tanto destaque, nos discursos dos governantes da Frelimo. Contudo, entre o dizer e o fazer vai uma grande distância.
Esta semana, sem motivo aparente, o Governo ordenou para que enormes efectivos militares cercassem a sede da Renamo em Maputo.
Para nós, a acção das forças governamentais configura uma autêntica declaração de guerra contra a Renamo, o que ocorre numa altura em que o Chefe desse Governo proclama intenções de se encontrar com o mesmo líder, cuja sede foi sitiada, para discutir a paz e a estabilidade política do País.
Desde sempre que temos vindo a dizer que a crise político-militar em Moçambique tem tido reflexos nefastos no estado da economia. Há quem diga que a dificuldade de se encontrar resolução para uma paz efectiva deve-se a determinadas correntes internas da Frelimo, identificadas como adversas à cedências a Renamo. Sendo que algumas inclinam-se mesmo pelo recurso ao uso de força para vergar a Renamo.
Na hora de despedida o embaixador cessante dos Estados Unidos da América, Douglas Griffiths, enviou uma nota de imprensa com um conjunto de conselhos.
Destaca-se o facto de ter dito que “a democracia é difícil”. Isto é, há que incluir todos os moçambicanos na busca de melhores soluções para o País.
Portanto, custa imenso descortinar o discurso oficial de Filipe Nyusi sobre a inclusão, quando no terreno as acções desenvolvidas são de autêntica exclusão. É como se esse punhado de camaradas que é adverso à inclusão, cedência, tivesse uma garantia secreta de que só ele pode manter a paz e prosperidade neste País. Moçambique é de todos os moçambicanos.
Moçambique não é de partidos políticos e muito menos de “camaradas”. O povo moçambicano precisa da estabilidade política para continuar a desenvolver o seu trabalho.
Oficialmente o Presidente da República fala de inclusão, diálogo para preservar a paz, mas manda atacar o seu directo interlocutor para a paz.
Dom Jaime Gonçalves já havia dito que não pode haver paz efectiva quando há vencidos e vencedores. Não pode haver uma democracia e inclusão quando os principais actores para que isso se efective se desconfiam.
Há-de ser uma paz e democracia precárias. Aliás, é o que se tem observado até agora. A nossa paz e democracia assentam em pilares frágeis que vergam a um soprar do vento. 2015 termina hoje. O povo moçambicano, para o ano que começa amanhã, não vai mais aceitar as desculpas do Governo de Filipe Nyusi, sobretudo as de que encontrou os cofres estatais vazios.
Por isso as realizações foram poucas. Nyusi, em abono da verdade, tem-se revelado um comandante inexperiente para esta fragata. Chefia um Governo que só se queixa e nunca apresenta soluções. O povo moçambicano não elegeu um líder para se queixar. Elegeu um líder para que apresentasse soluções para os diversos problemas que o afligem.
No seu discurso inaugural, Nyusi falou de combate, sem contemplações, contra a corrupção e os corruptos.
Nada fez até agora. Fortunas continuam sendo feitas à sorrelfa e turbinadas com dinheiro público. São identificáveis as pessoas que levaram a economia deste País a agonizar. O que o Governo de Nyusi fez? Nada. Para nós, numa situação igual, não nos resta mais nada do que dizer que o Presidente da República é também conivente.
É perturbante a indiferença e o disfarce com que as autoridades governamentais deste País lidam com questões sensíveis de manutenção da paz estabilidade política. É repugnante a forma como este País está a ser governado. Moçambique, provavelmente, se não existisse não havia que o inventar. É um sítio onde a excepção virou regra. E coitado do povo moçambicano que nem tem como responsabilizar quem desgoverna a sua vida.
DIÁRIO DE NOTÍCIAS – 31.12.2015