O diálogo político entre o Governo e o partido Renamo permanece um processo com “muitas palavras e poucas obras” no que respeita ao fim da crise político-militar, que há três anos tira o sossego dos moçambicanos e arrasta o país para a incerteza. Após os mediadores nacionais terem reaparecido publicamente e rompido um silêncio de meses e exigido, em resposta aos pronunciamentos depreciativos e desabonatórios contra si pela Renamo, que líder desta formação política, Afonso Dhlakama, “escreva a dizer que não precisa” mais deles nas conversações, o maior partido da oposição acusa-lhes de terem faltado à verdade ao omitirem que Dom Dinis Sengulane orou para que os atacantes de Afonso Dhlakama conseguissem matá-lo.
“Gostaríamos de, contrariamente ao que se propala, afirmarmos e reiterarmos que a nossa chamada para essa missão [resgate de Dhlakama] foi para testemunhar (…) a retirada do presidente da Renamo das matas, cabendo às partes, estou a falar da Renamo e do Governo, toda a coordenação e operacionalização. As alegações de conivência e maus-tratos que nos são atribuídos não representam a verdade, muito menos os valores e responsabilidades que aceitamos durante todo este processo”, disseram os observadores e a resposta não tardou.
No seu boletim oficial, a “Perdiz”, o partido liderado por Dhlakama diz, através do seu porta-voz António Muchanga, que “em Gorongosa, no local onde encontrámos o presidente Dhlakama, ele [Dom Dinis Sengulane] orou para o atacante do presidente Dhlakama. O Reverendo Anastácio Chembeze e o Sheik Abibo ignoraram esse facto que religiosamente é relevante. Omitiram as declarações do Dr. Lourenço do Rosário no jornal Savana, onde este encorajava os generais da Renamo a abandonarem o líder Dhlakama”.
De acordo com António Muchanga, Dom Dinis Sengulane não só orou para o “atacante matador, como também no fim-de-semana seguinte esteve em Xai-Xai, na Igreja Anglicana, onde se pronunciou publicamente sobre o desarmamento da Renamo, pelo que não constituem verdade as declarações segundo as quais eles andaram no silêncio por dois meses. Aliás, esta preocupação deles foi manifestada no encontro de há um mês e meio no Hotel Cardoso, onde o porta-voz foi Dom Dinis e Sheik Abibo (…)”.
Com o seu silêncio demasiado e propositado, os mediadores da tensão político-militar criaram condições para especulações do tipo são cúmplices do Executivo, em particular num pretenso plano de eliminar Dhlakama, facto que ganhou maior consistência quando eles estiveram presentes no cerco da casa deste líder e desarme dos seus seguranças, a 09 de Outubro, na cidade da Beira. Todavia, os visados alegam que foram “colhidos de surpresa”.
Para a Renamo, lê-se na sua publicação semanal, “lamentavelmente, os nossos clérigos não dizem o que o Padre Couto disse no encontro do Hotel Cardoso, pelo que o nosso apelo é cada pessoa assumir as suas responsabilidades. (…) A verdade é uma eles já não são mediadores do diálogo entre o Governo e a Renamo. Se o problema deles é a carta [de demissão formal], a mesma pessoa que os endereçou a carta [em 2014] vai o fazer”.
Recorde-se de que toda esta gritaria surge em consequência da conferência de imprensa da última segunda-feira (21), na qual a “Perdiz” defendeu que os mediadores nacionais, entre eles Dom Dinis Sengulane, Anastácio Chembeze, Lourenço do Rosário e Padre Couto, devem ser substituídos porque não cumpriram a sua missão de fazer com que o Executivo e Renamo alcançassem a paz, supostamente porque “eram aprendizes, não tinham experiência e o processo foi dar naquela vergonha que todos vimos”.
No mesmo encontro, o maior partido da oposição propôs que se indicasse o Presidente sul-africano, Jacob Zuma, e a Igreja Católica Romana como observadores das conversações, ora encalhadas.
@VERDADE - 27.12.2015
Recorde aqui o regresso das matas de Afonso Dhlakama: https://youtu.be/VH4nbMwKG5E