UM estudo levado a cabo pela Administração Regional das Água do Norte (ARA-Norte) na província de Cabo Delgado sugere que o problema da insuficiência de água para o abastecimento à cidade de Pemba pode ser definitivamente ultrapassado com a construção de uma barragem sobre o rio Megaruma.
Com efeito, pesquisas feitas permitiram concluir que aquele curso escoa anualmente um total de 883,1 milhão de metros cúbicos de água, quantidade considerada suficiente para justificar a construção daquele tipo de infra-estrutura.
O rio Megaruma não só está em condições de suportar a construção de uma barragem para abastecimento de água à capital provincial de Cabo Delgado como também para a irrigação dos campos agrícolas localizados no seu perímetro e instalação de uma mini-hídrica para a produção de electricidade destinada ao bombeamento da água.
“Nós desenvolvemos um estudo sobre as potencialidades do Megaruma em termos do que ele é capaz na retenção de água para abastecimento, especialmente à cidade de Pemba, num espaço temporal de mais de 25 anos, como também na irrigação dos campos agrícolas e produção de electricidade para o seu próprio funcionamento” - disse o chefe do Departamento Técnico na ARA-Norte, João da Piedade Macombe.
O rio Megaruma nasce no posto administrativo de Mapupulo, no distrito de Montepuez, província de Cabo Delgado, a cerca de 540 metros de altitude. A área de drenagem da bacia de Megaruma possui uma extensão de 5489,9km2, o que lhe confere estatuto da terceira maior bacia da província de Cabo Delgado depois de Messalo e Montepuez.
O curso do rio drena as suas águas para os distritos de Namuno, Montepuez, Ancuabe, Chiúre e Mecúfi, antes de, finalmente, desaguar no Oceano Índico, a três quilómetros a norte da desembocadura do rio Lúrio.
De acordo com Macombe, o estudo que temos estado a fazer referência sugere que para além da barragem de retenção da água deve-se construir uma estação de tratamento com capacidade de 77 mil metros cúbicos de água, suficiente para responder à demanda dos munícipes e das actuais infra-estruturas e outras que forem instaladas na cidade de Pemba.
UM RECURSO CADA VEZ MAIS ESCASSO
A água potável constitui neste momento um dos recursos naturais mais escassos para quem vive e trabalha na cidade de Pemba, capital da província de Cabo Delgado.
Com efeito, calcula-se que apenas 106 mil pessoas das cerca de 200 mil que actualmente vivem na urbe têm acesso à água potável fornecida pelo Fundo de Investimento e Património de Abastecimento de Água (FIPAG), entidade que gere o sistema. O mesmo é constituído por campos de furos localizados em Metuge, uma conduta adutora de aproximadamente 42 quilómetros, reservatórios intermédios e duas estações elevatórias, centro distribuidor e rede de distribuição de aproximadamente 285 quilómetros.
Os gestores da cidade, nomeadamente o presidente da edilidade, Tagir Carimo, já assumiram publicamente que a solução do problema de abastecimento de água a Pemba está acima das capacidades financeiras locais.
“Temos de interceder junto dos governos Provincial e Central para a mobilização de cerca de 35 milhões de euros para a operacionalização do projecto de construção de uma barragem sobre o rio Megaruma, no distrito de Chiúre” - tem dito Tagir nos contactos que faz com as populações.
O crescimento demográfico e infraestrutural que a cidade de Pemba tem estado a registar nos últimos tempos é apontado como estando na origem do problema de escassez da água.
Segundo Tagir, o número de pessoas aumentou na cidade de Pemba e o mesmo aconteceu com relação aos estabelecimentos, casos de hotéis, restaurantes, lodges, casas de aluguer, entre outros, cujo funcionamento passa pelo consumo de enormes quantidades de água.
“Tudo isso faz com que o actual sistema de captação e abastecimento do precioso líquido não consiga responder à demanda” - refere Tagir.
Para mitigar a crise a edilidade tem estado a construir alguns furos em locais onde tal empreitada se mostra exequível, uma vez que a maior parte dos bairros históricos da cidade de Pemba foram construídos sobre rochas e abaixo do nível das águas do mar.
Para a zona da Cerâmica, por exemplo, foi identificada uma nascente de água. Foram investidos três milhões de meticais para a colocação de uma bomba, o que fez com que cerca de três mil pessoas que ali vivem passassem a dispor do precioso líquido.
No mês de Janeiro corrente o Governo Distrital de Pemba entregou, por seu turno, três fontes de abastecimento de água às populações dos bairros de Natite e Ingonane, infra-estruturas que custaram dois milhões de meticais.
O administrador do distrito de Pemba, Issa Tarmomade, explicou na ocasião da entrega dos furos mecânicos que a intervenção do seu Executivo tinha por objectivo minimizar o problema da falta de água potável nas comunidades daquelas áreas residenciais, que se arrastava há dois anos, em virtude da impossibilidade do FIPAG de fazer chegar aquele produto aos seus clientes.
Entretanto, alguns residentes do bairro de Ingonane criticaram o Governo por alegadamente ter demorado na identificação de soluções para a minimização do problema da falta de água em Pemba.
Awa Kutura assegurou-nos que há muito sabia de que o lençol freático do seu bairro tem água suficiente para abastecer a população daquela zona residencial. “A empresa FIPAG não está a aguentar fornecer água aos bairros da cidade, então o Governo devia fazer fontenários como fez aqui e acho que este tipo de infra-estruturas não custa muito dinheiro assim. Veja que mensalmente somos obrigados a pagar água que não consumimos. O FIPAG e o Governo sabem disso e não penalizam a empresa FIPAG que faz tudo a seu bel-prazer porquê?” – questionou Kutura.
Funcionam no distrito de Pemba 63 fontes de abastecimento de água, beneficiando um total de 33 mil pessoas.
ASSANE ISSA
NOTÍCIAS – 30.01.2016