VOLVIDOS mais de cem anos após a sua morte, 31 da transladação dos seus restos mortais de Portugal para Moçambique, na base de um acordo rubricado em 1985 entre os presidentes Samora Machel e Ramalho Eanes, aquando da celebração do décimo aniversário da independência nacional, descendentes de Ngungunhane apelam à imortalização desta figura, tendo em conta o seu potencial e percurso histórico.
Referem ainda que as entidades de direito devem fazer um pouco mais ainda para conferir grandeza a esta figura e elogiam alguns escritores nacionais que têm feito algo em prol da divulgação dos feitos históricos protagonizados por Ngungunhane.
Segundo Joel Nhumaio, um dos descendentes de Ngungunhane, por sinal seu bisneto, há uma necessidade de se resgatar a imagem do imperador de Gaza, através da realização de vários eventos de índole político e cultural, como forma de enaltecer os seus feitos na luta de resistência à ocupação colonial.
Para Joel Nhumaio, Ngungunhane é uma figura incontornável na esfera da luta de resistência contra a ocupação colonial, daí que a celebrar a vida e os seus feitos deveria ser algo de âmbito nacional, através da realização de vários eventos semelhantes, por exemplo, ao Guaza Muthine, efeméride que simboliza uma forte batalha travada a 2 de Fevereiro de 1895 entre os guerreiros nacionalistas e a tropa colonial portuguesa em Marracuene.
Nhumaio reconhece os esforços desenvolvidos pelo Governo através do Presidente Samora Machel em 1985, aquando da transladação dos restos mortais de Ngungunhane para Moçambique, mas sente que muita coisa devia ser feita, sobretudo ao nível do nosso currículo escolar, de modo a permitir aos mais novos conhecerem a sua obra.
“Por exemplo pensa-se que Ngungunhane aquando da sua captura junto das sete esposas e filho em 1895 por Mouzinho de Albuquerque não deixou família. Isso não constitui a verdade porque existimos nós. Achamos, pois, que em seu reconhecimento e na esteira das festividades de mais de cem anos da sua morte, assinalados no passado mês de Dezembro, é momento para uma reflexão conjunta sobre a vida e obra deste herói da resistência. Isso iria estimular a família deste grande herói da resistência, conferindo uma mais-valia à história deste povo heróico”, considerou a fonte.
De recordar que Ngungunhane chefiou o segundo maior império de África do século XIX. Um império que no seu esplendor se espraia do rio Incomáti à margem esquerda do Zambeze e do Oceano Índico ao curso superior do rio Save.
O Império de Gaza é fundado pelo povo nguni (vátuas ou aungunes, na terminologia colonial), um dos ramos dos zulus. Os nguni eram excelentes guerreiros, conhecedores das tácticas e técnicas de combate, grandes organizadores de exércitos.
No que diz respeito à família, Joel Nhumaio disse que a este nível estão sendo preparadas várias actividades para o presente ano, começando pela construção duma muralha no distrito de Bilene, província de Gaza, com imagens do imperador de Gaza, familiares e seus seguidores, consequentemente uma grande cerimónia tradicional de evocação dos seus espíritos.
NOTÍCIAS – 16.01.2016