Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Um balanço difícil mas necessário, porque, se nada se faz, corre-se o risco de ver instalada mais uma situação de desestabilização generalizada.
Moçambique vive momentos conturbados, e as embaixadas influentes mantém-se num silêncio estranho. Talvez estejam praticando diplomacia silenciosa. Pode ser que estejam engajadas na diplomacia económica, ou que estejam combinando ambas. Mas uma coisa é certa, o público pouco ou nada sabe do que estão fazendo.
Quem cala consente, como diz o ditado. E calar face ao agudizar da violência com contornos políticos pode colocar em risco importantes interesses geoestratégicos e económicos. Calar pode favorecer a regressão política que num passado recente contribuiu para a morte de milhares de inocentes.
Calar pode ver aumentar o número de refugiados nos países vizinhos.
O ocidente, normalmente muito rápido a pronunciar-se face a situações de violência e abusos dos direitos humanos, está numa encruzilhada.
Existe o sentimento de que a sua manifestação pode ser vista como uma forma de potenciar ou favorecer uma parte para que prossiga com as suas acções ou que esteja engajado em acções promotoras de “regime change”.
Outro aspecto é de que qualquer discordância pública com o Governo pode levar a uma maior aproximação deste com a China.
Aqui entra em cena a diplomacia económica, muito importante para qualquer dos parceiros de Moçambique.
A posição geográfica de Moçambique talvez seja o seu maior activo, pois o que possui em termos de recursos naturais que interessem aos seus parceiros externos não é determinante para a tomada de posições políticas.
Não são o gás nem o carvão que desequilibram a balança. A madeira que existia já foi maioritariamente escoada para a China.
Não se pode dizer que exista cumplicidade estratégica entre Maputo e os seus parceiros, mas o facto é que em qualquer situação que se registe no país os seus parceiros sempre terão vantagens. Regressando a violência, mais barato serão os contratos que as multinacionais assinem com o Governo.
Quem tem a perder com a eclosão da violência ou a contínua instabilidade será sempre Moçambique e os moçambicanos, pois os riscos de fazer negócio aumentarão e, com eles, os custos associados ao país.
Se agora é caro obter crédito internacional, os juros serão maiores se a violência generalizada eclodir.
O fenómeno chinês já está afectando Moçambique, pois a postura belicista de alguns círculos próximos ao Governo contou com Pequim para se rearmar. A musculatura bélica que vem sendo demonstrada custou dinheiro e significa endividamento público. A fraqueza e precariedade institucionais facilitam acções que se mostram lesivas dos interesses nacionais. O Governo tomou várias decisões sem que o Parlamento tenha sido consultado, e daí resultaram avultadas dívidas.
Esse progressivo assalto aos cofres do Estado tem influído negativamente no diálogo político nacional.
Uma das partes ter-se-á convencido de que poderia dizer “não” à outra parte, porque tinha o poder militar e policial dissuasor.
Por questão de diplomacia económica, os parceiros externos calaram-se e têm-se mantido assim mesmo, face a graves violações dos preceitos democráticos que alguns deles dizem defender.
Moçambique está sendo uma vítima da falta de liderança internacional e da falta de convergência estratégica entre as potências de hoje. O conjunto dos membros do Conselho de Segurança vão fazendo leituras parciais tendo em conta interesses específicos de cada um deles.
Outros palcos internacionais apresentam-se como mais importantes ou de uma maior urgência em relação a Moçambique.
As reticências dos parceiros externos têm motivações específicas e diferentes. Cada vez que os chineses “dão” alguma coisa, preocupa as chancelarias ocidentais, que têm de responder aos seus parlamentos.
E como o poder legislativo é forte naqueles países, várias decisões de cortar ajuda directa ao Governo de Moçambique foram tomadas, com as consequências respectivas.
Outro aspecto a ter em conta é que os parceiros aprendem a lidar connosco. Eles sabem que os moçambicanos se satisfazem com pouco, e ao longo dos anos têm conseguido sacar vantagens colossais na esfera económica.
Perguntem ao Brasil por que se cala, e veremos o carvão de Moatize falando. Perguntem aos EUA porque se calam, e teremos o gás de Cabo Delgado falando. A VALE e a ANADARKO, a ENI e as outras companhias envolvidas na exploração de recursos como a Kenmare têm linha directa com as chancelarias dos seus países. Sabem que “fazer ondas” não ajuda nos seus negócios.
E depois ninguém se esqueça que a tendência de “nossos amigos”, quando nos matamos entre irmãos, é olharem para o lado. Foi assim no Ruanda e tem sido assim no Sudão.
A realidade manda dizer que, se não formos nós a promover uma cultura de paz e de entendimento, os outros jamais virão em nosso socorro.
Quando muito, vê-los-emos aterrando como abutres para “consumirem os cadáveres”, que são os nossos recursos, ao desbarato, como tem sido até aqui.
São as nossas lideranças, ou mais precisamente a falta delas, que marcaram a diferença e a promoção de crises como forma de ser e estar na política nacional. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 26.01.2016