Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected] )
“Não é, pois, o conflito que está errado, mas a forma como ele é tratado, pela violência.” Luís de Brito, Director do IESE.
Hoje fala-se tão pouco da malária, da tuberculose, do analfabetismo, dos acidentes de viação, da seca e inundações, enfim, da fome que mata silenciosamente milhares de moçambicanos por ano. Em compensação, predomina os crimes de sangue que resultam em mortes de pessoas, muitas delas inocentes. Grande parte dessas mortes – a avaliar pelos termómetros da imprensa e da sociedade civil – provém de querelas políticas puramente evitáveis. A luta de adamastores, polarizada pela intolerância política, conduz-nos para o pior destino: hecatombe. Pouco a pouco a sociedade moçambicana vai afundando como um navio gigante, devagar e devagarinho, mas, ao mesmo tempo, levando consigo o passado e o futuro do país para o fundo do mar.
Eu não sou perito em assuntos policiais (não sei se sou perito de coisa alguma), por isso aguardo com enorme expectativa a perícia da PRM para esclarecer os contornos do baleamento do deputado e secretário-geral da Renamo, Manuel Bissopo, ocorrido no dia 20 do mês em curso, antes de fazer acusações, muitas delas desprovidas de lógica mental. As deduções emocionais, às vezes, nos conduzem a emitir pronunciamentos que mais tarde a nossa consciência obriga-nos a pedir penitência. O que eu posso dizer sem medo de errar é que qualquer que seja a causa do crime contra Bissopo, a culpa irá sempre recair para o partido Frelimo que é o principal inimigo da Renamo. Difícil será remover da consciência dos mais incautos a ideia de que quando se morre ou se baleia alguém de um partido, o silogismo deve recair sobre o partido oposto, a quem se milita. Ideia errada. Porque como seres humanos, pecadores, além da função que desempenhamos, fazemos inimigos pela nossa simples forma de pensar, de agir, de ser ou até mesmo pela falta de empatia: “não fui com a cara daquele gajo”. Ora, Bissopo pode ter sido vítima desse ódio.
Por outro lado, admitindo o que os termómetros dizem sobre as liças políticas, então estamos perante uma situação grave.
A experiência que tenho (que não é muita e nem pouca) manda dizer que quando há um atentado contra dirigente máximo de um partido político, é porque as armas estão a ser limpas nas casernas para a mobilização da guerra noutro campo de batalha que não seja no parlamento. A Renamo é dos poucos partidos em África que conheço que possui um departamento de segurança. Os paladinos desse partido estarão, neste momento, em prontidão combativa para fazer valer a honra do el comandante Bissopo. Pior será quando a Renamo decidir ripostar, pois o fará contra um inimigo errado que é a população inocente. O meu maior medo reside na teimosia que os partidos têm de quererem resolver os problemas pela via da violência (militar e verbal). Se antes o perigo de um conflito generalizado acontecer era menor, com o baleamento de Bissopo e a morte do seu ajudante de campo, o vulcão entrará em erupção, lançando suas lavras contra o “maravilhoso povo”.
Para isso, meus amigos, eu nem preciso ter a cabeça no lugar para pensar no pior. A acção renamista de Março terá um pretexto: baleamento de Manuel Bissopo. Ainda assim, porque só é verdade aquilo em que a gente acredita, eu acredito que o bom censo vai prevalecer. A par disto, existe uma outra situação que me inquieta. Tenho de dizê-lo aqui, porque é algo que me incomoda. Cresce para o pior a manifestação de uma certa imprensa escrita moçambicana que irradia, de edição em edição, de página a pagina, de verbo a verbo, o terror no país. São mais violentos em suas acções que a própria Renamo, porque antecipa a morte de uns e obriga tantos outros a deslocarem-se para os países vizinhos. Parecendo que não, do ponto de vista de incendiar o país, eu vejo anemia nas acções da Renamo (quem pretende atacar o poder não avisa), ao contrário dessa imprensa, vejo nela vitamina para que o país volte novamente a guerra. Essa imprensa ignora os esforços de desenvolvimento e assume-se como porta-voz da oposição, cujo objectivo não é o de fazer política em águas límpidas, contrariando as directivas de governação do partido no poder, mas sim aniquilar esse poder. Um amigo meu de nome Horácio Picado Nkubvala Kudhanessa Dimas, lá das bandas de Tete, disse-me que as armas da Renamo foram transferidas para uma determinada imprensa que não vê meios para atingir o único fito que os sustenta: acabar com a Frelimo.
Os sinais estão à vista e a olhos nus. Eu não sou apologista de que o governo mande fechar essa imprensa, como sou contra uma sociedade sem centelha, tal como diria o professor Carlos Serra “Uma sociedade sem diferenças, sem variabilidade histórica e sem conflitos é uma sociedade impossível”. Contudo, entre uma imprensa pobre e uma imprensa que só lança chamas contra o país, escrevendo mentiras ou atiçando o ódio, prefiro a pobreza que é uma condição social alterável. A imprensa que lança chamas não muda, nem que passem cem anos, é geracional. É uma questão de voto que prestam a Caim e Lúcifer, seus enviados especiais neste “Vale de Lágrimas”. ZICOMO (Obrigado).
WAMPHULA FAX – 25.01.2016