Politicamente não se avança porque o “business” não deixa.
Pode parecer uma inverdade, mas em Moçambique praticamente não há como não dizer que a direita e a esquerda políticas se aproximam e pouco diferem no que dizem quanto aos seus programas ou filosofia.
Temos uma situação política ditada por uma confluência de interesses que ultrapassam a esfera ideológica.
São os interesses patrimoniais da nomenclatura que vão ditando o que os políticos dizem e fazem. São estes interesses que foram servindo de base para o estabelecimento de alianças que controlam o país.
Quando se deu a privatização do parque estatal industrial e agro-industrial, os “camaradas de topo”dividiram entre eles o que existia e da maneira como quiseram. Este terá sido o momento definidor do que viriam a ser os anos seguintes.
Não há que admirar que os que beneficiaram da maré das privatizações sejam os mesmos que beneficiam do “inside trading”. São estes que montam esquemas que amarram o país aos seus interesses. São estes que movem toda a musculatura possuída para que a democracia não se instale no país. São estes que, a coberto de uma pretensa seriedade e isenção, vão consolidando as suas fortunas e garantindo que nada se altera.
São estes que apoiam a fraude, porque esta os beneficia. Não há como negar que existe todo um enredo urdido em segredo para que os moçambicanos não beneficiem do que a democracia plena lhes poderia dar.
Dizer que os “businessmen” deste país têm uma grande quota-parte sobre tudo o que se passa. Mas também há que não ter receio de dizer que o ambiente construído de favorecimento aos empresários dispostos a obedecer e a cumprir instruções directas ou veladas do poder foi algo pensado e executado com frieza.
No país, não há quem não saiba que, se você é empresário e não alinha com aquilo que sejam a “orientações” ou pedidos vindos da sede do partido no poder, começa a perder concursos públicos. Começam também investidas “inspectivas” das Finanças e, não raras vezes, a empresa acaba por falir e fechar.
Temos um presente atamancado e um futuro incerto, porque muitos dos nossos empresários de sucesso não o são.
Quem se habituou a mamar na “vaca do Estado” com vantagens prévias não admite concorrência leal nem está interessado que o campo seja nivelado e as regras sejam seguidas por todos. É assim que os leilões para apoiar campanhas eleitorais conhecem valores exorbitantes e que sejam os tais empresários de sucesso que arrematam tudo.
Não admira que o panorama e o ambiente sejam de leilão político, em que o tráfico de influências impera.
Não tenhamos dúvidas de que se vive no limbo porque alguém tem interesses concretos.
Quais são esses interesses? Abertamente se revela que os nossos políticos-empresários e ministros-empresários sabem que, mudando as regras de jogo, Os seus impérios desabam como castelos de areia.
Mentir à boca cheia, como se diz, não pode continuar a ser o caminho a seguir em Moçambique.
Temos problemas concretos que requerem tratamento imediato.
O PR tem de oferecer garantias do seu comprometimento com a agenda nacional de paz.
O PR tem de dedicar-se aos assuntos do dia e não continuar a prática do silêncio e desaparecimento seguida pelo seu antecessor sempre que houvesse um assunto quente com potencial explosivo e danoso para a sua imagem. PR deve ser sinónimo de liderança todos os dias.
Moçambique clama por um sistema judicial mais independente e proactivo.
A PGR tem de ser chamada a trabalhar e a trabalhar com qualidade. Mesmo que seja necessário rever ou produzir adendas à Constituição, isso deve ser feito, porque as consequências da inacção e ausência da PGR estão lesando milhões de moçambicanos.
O estatuto e missão da PRM devem ser questionados não pela sua existência mas pela falta de qualidade ou de resultados na sua acção. Acumulam-se casos não resolvidos, e o cidadão não vê a tranquilidade, ordem pública acontecendo. Melhoram os meios e equipamentos, mas a qualidade apresentada continua bastante sofrível.
Vivemos numa sociedade em que uns são intocáveis, e isso mina os esforços para vermos a moçambicanidade triunfando. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 29.01.2016