Por Capitão Manuel Bernardo Gondola
Começo com a colocação mais geral da definição da palavra paz. Segundo o dicionário prático ilustrado da língua portuguesa publicado sob a direcção de A Almeida Costa e A. Sampaio e Melo. Segundo este dicionário, a paz é um estado de um país que não está em guerra. Sendo assim; a paz favorece o desenvolvimento económico de um país. A paz, é um tratado que se mantém, ou tratado que restabelece este mesmo estado; estado de paz.
Por outras palavras, a paz significa tranquilidade da alma, estar em paz com a consciência. Do mesmo modo, a união também é paz, ou a concórdia nas famílias ou seja, entendimento nas famílias também é paz.
Por exemplo, o sossego em si; quando você está tranquilo também é paz.
Contrariamente, hoje a maioria dos moçambicanos não tem sossego. Se calhar poucos tomaram o pequeno-almoço, poucos terão almoço, e muitos dificilmente terão o jantar.
Paz pode ser tranquilidade, silêncio profundo. Fazer as pazes reconciliar-se de acordo com o referido documento. No caso de Moçambique, o maior ganho da paz foi sem dúvidas o reencontro entre famílias separadas durante os longos 16 anos de guerra. As famílias reencontraram-se.
No meio, a paz possibilitou a livre circulação de pessoas e bens através do país. Mas, se a paz é a união e concórdia dirigentes políticos, membros de partidos políticos diferentes são divididos pelas ideologias. Não se falam, não se cumprimentam. São inimigos.
De modo que, volvidas mais de duas décadas de paz, o reencontro não reuniu famílias; para ser leve, nem tão pouco provocou entendimento entres as famílias divididas ideologicamente. Os moçambicanos ainda são inimigos, se hostilizam. Tudo isso começa com os conflitos dentro do próprio individuo.
Lamentavelmente, a população moçambicana continua profundamente dividida entre patriotas e antipatriotas, combatentes da liberdade da pátria e combatentes pela democracia, moçambicanos genuínos e não genuínos, os de sul e os de norte. Enfim…
Por outro lado, ignoramos no que se constituí realmente, onde se localiza e como se expressa a paz. Assim, a peça da história possui oito virtudes principais, descritos abaixo para a manutenção e, a busca da paz começando pelo;
O poder de introverter
Que é habilidade de se desembaraçar do mundo a nossa volta. O primeiro passo é restaurar a calma é encontrar a concentração interna (paz), de modo a tirarmos a atenção de tudo que é externo. Assim, como as tartarugas tem a capacidade de pôr, a cabeça, os braços e as pernas dentro da sua carcaça, será que nós seriamos capazes de fazer o mesmo com os nossos sentidos? Isto só será possível quando valorizarmos os períodos de solidão e introversão. É necessário tempo para reflectir, isto é, deixar os nossos sentimentos para trás por um certo tempo. É importante saber se não formos os mestres dos nossos sentidos, ou seja, se não os dominarmos, acabaremos por ser escravos deles.
O poder de empacotar
É habilidade ou virtude de parar de pensar coisas desnecessária. Esta virtude moral consiste em terminar com todos os pensamentos destrutivos, não só…mas também, ficar livre de todas as cargas e sobressaltos. Tomemos como exemplo: passado é passado. Por esta razão, aprenda a esquecer o inútil e permaneça constantemente livre.
Você vê, enquanto não esquecermos o passado não poderemos experimentar a alegria do presente. Lembrar constantemente o passado como tem acontecido, significa torna-la seu presente. Deste modo, qual será a forma de encarar o futuro? A maior violência que a pessoa pode cometer contra si mesma é manter a mente entulhada de pensamentos negativos. Por conseguinte, se quiser libertar-se dos maus pensamentos, nem permita que eles entrem na sua mente. Quanto mais a mente estiver absorvido com coisas valiosas, mais fácil se torna empacotar o peso do passado.
O verdadeiro poder de empacotar depende inteiramente da sua forma de pensar e do modo como encara as situações. Ou seja, conforme for a sua forma de pensar e agir, serão as suas experiências e de acordo com isso, será a sua experiência.
O poder de tolerância
É, a virtude de não sermos afectados por eventos externos e internos e responder positivamente a eles. Destarte, o poder de tolerar é a habilidade de não nos perturbarmos com qualquer evento a nossa volta ou entre nós. É uma habilidade que vem com facilidade quando estamos no nosso trono interno, onde só observamos. Nós estamos envolvidos e desapegados ao mesmo tempo.
É essencial tolerar quando estamos completamente colocados com tais situações, e as pessoas ao nosso redor fazem e dizem coisas que estimulam pensamentos e emoções negativas.
Primeiro de tudo é necessário tolerarmos as nossas próprias reacções internas, que só é possível quando conscientemente nos desapegamos e desempregamos dos nossos pensamentos, e sentimentos que acompanham as nossas acções. Por isso, é necessário lembrar, que nós não somos os nossos pensamentos e sentimentos, nós é que os criamos.
O poder de ajustar
É a habilidade de expandir e aceitar a presença, de ideias e desejos de outros. Este poder é o maior desafio de hoje em Moçambique, isto é, ajustar-se de acordo com o momento e a circunstância tornando-se a corporificação de todas as soluções.
Destarte, a quele que sabe ajustar se é humilde mas não subserviente (ou que se presta às vontades de outrem servilmente), é digno e real nos seus modos e atitudes.
Você vê, saber ajustar significa não se deixar ferir pela fúria ou sentimentos dos outros, ainda assim, no seu coração existe sempre o sentimento de dar benefício a todos. Na verdade, esta virtude só é possível quando confiamos em nós próprios e consolidamos o auto-respeito. A alma não tem o hábito de se queixar de nada nem de ninguém para se defender de si próprio.
O poder de julgar
É a habilidade (virtude) de avaliar a quatidade das escolhas, decisões e acções em nós próprios. Na verdade, um julgamento real, autêntico e exacto tem três dimensões:
1) Nós julgamos ou avaliamos uma certa situação de modo a obter uma resposta correcta, que precisamos para nos expressar.
2) Nós não julgamos as pessoas mas sim as suas acções, talvez pela verdade ou qualidade, pela ética ou valor, porque nós somos eternos estudantes que constantemente procuramos aprender dos outros.
3) Mas não existe necessidade de julgarmos, porque partimos do ponto que qualquer pessoa é boa, mesmo que as suas acções demonstrem o contrário.
Destarte, nós julgamos a nós próprios, não com o objectivo de nos castigar mas simplesmente para avaliar e ver se o nosso pensamento e actos são consistentes e se são aceites pelos outros.
O poder de descriminar
É a virtude de distinguir e separar a verdade do falso. É a arte de visão. Ver o que é verdadeiro e o que é falso. Ver ou distinguir a verdade só é possível quando existe compreensão das leis e princípios que governam o curso da vida humana. É o reconhecimento destas leis sejam elas físicas ou espirituais, que restauram a visão e dão-nos a habilidade de descriminar.
O poder de enfrentar
É a virtude de confrontar e resolver obstáculos testes e desafios externos e internos. Aqui ao meditar (reflectir), um passo para dentro de nós é dado, que nos permite conhecer a nós próprios. Neste processo é possível vermos os nossos pensamentos, hábitos e crenças assim como o nosso talento e a beleza. Aprendemos a distinguir a verdade do falso, tendo forças para enfrentar os obstáculos que vem de dentro e de fora.
Obstáculos internos, são os velhos hábitos de conduta e comportamento, obtidos através de uma falsa compreensão e crenças erradas. Obstáculos externos, são aqueles que propositadamente estão no nosso caminho de mudança de modo a permanecermos os mesmos, isto é, não transmutarmos. Um teste para exemplificar esta situação seria passar por alguém, que ontem odiávamos e tínhamos medo e hoje sermos capazes de ver a sua beleza e qualidade que esteve profundamente escondida, responder a isso.
O poder de cooperar
É habilidade ou virtude, de dar a nossa atenção, tempo, experiência e sabedoria ao serviço de outros. Cooperar significa ter coração generoso, com amor, sempre pronto a dar a mão na hora da necessidade. Contudo, só quando sentimos que não estamos a competir com ninguém podemos ter o sentimento puro de cooperarmos com todos. Para isso, é necessário haver renúncia ao ego. Ser cooperativo significa ajudar os outros, não ser escravo de ninguém.
Cooperação real vem do espaço interno da atitude, sentimento, pensamento e visão, simplesmente vendo as boas qualidades (virtudes) de carácter de alguém e não as suas fraquezas é um acto de cooperação. Ao usarmos humildade moral e a proximidade de entre todos, haverá unidade nos relacionamentos e nos esforços e a cooperação acontece naturalmente.
A real cooperação só é possível quando existe confiança entre todos e liberdade de egoísmo e interesses calculados, ou seja, simplesmente baseado na generosidade pura. O verdadeiro método de dar e receber cooperação surge do respeito mútuo, do entusiamos e da motivação que somos capaz de criar naqueles a nossa volta, quer a nível individual ou colectivo.
Então, você vê, estes oito princípios são condições necessárias para vida boa, pacífica e civilizada. São elementos centrais da moralidade. Tudo o que podemos fazer é o uso deles. Se conseguirmos fazer isso, os assassinatos, os sequestros, os raptos, a ganância, o medo, a frustração, o cansaço, a decepção e a insatisfação, não se limitarão a acordar-nos para um drama especial e deixar-nos cegos de raiva. Como condição afastemo-nos da intolerância uma vez, nos impede de ver o sofrimento quotidiano de pessoas comuns.
Portanto, o drama pode acordar-nos, mas enquanto este sofrimento quotidiano de pessoas próximas e distante não fizer parte das nossas vidas, não haverá progresso moral no país.
n/b: A virtude surge como uma disposição habitual para agir bem, um traço de carácter duradouro, estado de alma que, por estar sob a determinação da razão, não se limita apenas a um sentimento do que é bom nem à capacidade de fazer uma boa escolha. A palavra grega virtude (arete) significa «excelência», «boa qualidade» pelo que, no âmbito da filosofia moral, a sua aplicação implica sempre a procura da perfeição. A excelência (arete), obtém-se através da procura do meio-termo, na medida em que o excesso ou o défice de virtude resulta no vício.
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