Na manhã deste sábado, o jornal domingo contactou, a partir de Maputo, com várias fontes da linha de fronteira para aquilatar o nível de preocupação que constitui o movimento de refugiados que certa imprensa nacional e internacional, a partir de fontes moçambicanas, reiteradamente veicula, a respeito de cidadãos moçambicanos que demandam o vizinho Malawi, alegando que fogem do país do recrudescer da tensão político-militar naquela região.
Pedro Januário Atanásio, secretário permanente do distrito fronteiriço de Tsangano, disse que algumas pessoas confundem os contactos permanentes entre os dois lados de fronteira com algum movimento de deslocação por causa da alegada tensão militar.
A nossa linha de fronteira não é física, os contactos entre Malawi e Moçambique acontecem permanentemente. Há laços familiares dum e doutro lado, havendo casos em que determinados moçambicanos constituíram lares dum e doutro lado da fronteira e vice-versa explicou.
A experiência acumulada pelos tristes anos de guerra (16 anos de guerra de desestabilização movida pela Renamo), segundo a fonte, diz que para haver refugiados tem que existir uma séria instabilidade, crise de segurança interna, o que não se verifica por aqueles lados da província de Tete.
Desde que se registou aquele incidente de Chibaene, aqui em Tsangano, em que a Polícia, na sua patrulha normal, foi colhida de surpresa por uma emboscada de homens armados da Renamo, do que resultou uma troca de tiros, criando pânico nas aldeias, nada mais se sentiu e as populações regressaram pouco tempo depois às suas casas, diz o Secretario Permanente de Tsangano.
A fonte diz com precisão que as regiões de Chibaene e Thanga, em Tsangano e Monjo, no vizinho distrito de Moatize, estiveram durante esse tempo mergulhadas nesse clima de tensão, o que não se verifica actualmente.
Ainda no sábado, o domingo falou com Aizque Nkande Camanga, um antigo oficial da ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), que o jornal conhece ao longo dos anos, quando esteve ligado à crise de refugiados moçambicanos, no Malawi, Zimbabwe e Zâmbia e actuava a partir de Tete.
Aizque Camanga disse para se ter cautela na análise que se faz dos refugiados de que se fala no Malawi, partindo de Moçambique, pois na sua opinião trazem características que são meramente políticas que visam tirar daí um óbvio aproveitamento.
Para haver refugiados, por causa de instabilidade, começaria por um movimento interno de deslocados de qualquer coisa anómala, incluindo, a insegurança. Não temos relatos de haver deslocados de um lado ao outro à procura de segurança. Por exemplo, não temos pessoas que se deslocaram às vilas distritais ou a pé em estradas mais movimentadas ou esquadras policiais à procura de protecção. Na verdade, só depois de ensaiados esses movimentos é que aparece o fenómeno refugiados, como última alternativa, porque na verdade é difícil ser estrangeiro. Quanto mais refugiado, explicou Aizque Camanga.
Camanga diz que não é por acaso que as Nações Unidas tratam de forma especial o assunto dos refugiados, alegando que se trata de uma situação em que ao ser humano lhe esgotam as condições de viver no seu próprio país.
O administrador de Chifunde, Rui Manuel Nangore, por seu turno, falando ainda na manhã de sábado ao jornal revelou que acabava de fazer uma ronda completa a todos os postos administrativos, localidades e povoados, não tendo encontrado nenhum tipo de informação que indicasse a saída de pessoas para fora das suas habituais aldeias.
Uma das localidades, a de Polimo, alcança-se passando pelo interior do Malawi, por internamente haver uma ponte que torna impraticável o trânsito. Nangore esteve lá e traz a seguinte informação:
Lá no interior do Malawi, os colegas que me acompanharam, indicaram-me as instalações nas quais funcionava um centro de acolhimento de refugiados moçambicanos, já transformado em escola. Está funcionar uma escola naquilo que nos tempos de guerra dos 16 anos era centro de acomodação dos nossos compatriotas, disse.
Por outro lado, o domingo obteve uma informação do director provincial de Recursos Minerais, Grácio Cune, que acaba de regressar do distrito de Macanga, que disse nomeadamente que naquele ponto da província o que se verifica é que há pelo menos 16.000 cidadãos estrangeiros, maioritariamente malawianos à procura de oportunidades de emprego, na empresa de tabaco, a Mozambique Life Tabaco, entre efectivos e sazonais, outros feitos agricultores deste produto, que depois vendem-no àquela empresa.
Acredita-se, no entanto que no Malawi haja moçambicanos à procura de acolhimento. As fontes do jornal chamaram a atenção para o facto de que os moçambicanos, naquele país, são de grupos constituídos maioritariamente por mulheres e crianças, que se apresentam como fugindo da actuação das Forças de Defesa e Segurança, em Moçambique.
O recurso a esta justificação, no mínimo descabida para os entrevistados do domingo, visa objectivos puramente políticos e explicam porque é que se encontram mais mulheres e crianças. Onde estão os maridos?
Os maridos são homens armados da Renamo, que as fizeram atravessar a fronteira para ficarem à vontade no interior do país, temendo a perseguição a que estão sujeitos pelas FDS. Portanto, não são refugiados, são pessoas que programaram a travessia da fronteira por esse motivo, daí que a uma pequena pergunta da razão porque saíram de Moçambique correm logo para uma explicação que cabe apenas em quem pretende ganhar dividendos políticos. Desde quando é que as FDS perseguiram cidadãos em suas casas?, questionam.
FF
AIM – 31.01.2016
NOTA: Afinal andamos todos enganados. É só turismo entre Moçambique e o Malawi. E as mulheres e crianças no Malawi são turistas à espera que os “Renamos” acabem a sua” missão”. Já podemos dormir descansados.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE