Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected] )
(UMA REFLEXÃO SOBRE O CONFLITO POLÍTICO-MILITAR EM MOÇAMBIQUE)
“Estou cansado e enjoado da guerra. A glória não é mais que a luz do luar. Somente aqueles que nunca deram um tiro, nem ouviram os gritos e os gemidos dos feridos, é que clamam por sangue, vingança e mais desolação. A guerra é o inferno.” William Tecumseh Sherman (1820 -1891) escritor norte-americano
Um breve intróito: Tenho sido duramente criticado nas análises que faço sobre o actual conflito político-militar entre o governo e a Renamo. Devo dizer que a efervescência da crítica é algo que nunca me incomodou, mas devem primar pelo espírito de imparcialidade e justiça. A crítica deve ser honesta e sincera, sem alcunha afrontosa e picardia. O que deveras me incomoda é a estupidez, quando de forma deliberada alguém desvia-se do debate de ideias para espingardear o seu próximo com o qual ele não perfilha, nem no carácter nem em pensamento. Aprendi e ainda aprendo com pessoas de uma grandíssima personalidade moral que na catequese da vida a verdade e a autenticidade geram ódio, mormente nas almas descompadecidas. Não sou o tipo de homem que, para agradar uma maioria de frustrados, hipoteca o seu carácter. Quem tem uma formação sólida e profunda, dizia o saudoso Professor José Hermano Saraiva, não pode negar ser quem é para passar a ser outra coisa. Pode-se não gostar de mim: Viriato Caetano Dias, mas respeitem as minha reflexões.
A Renamo, recorrendo ao seu braço armado está a ferir, a matar e a despojar os bens da população civil, enquanto a sua ala política, engravatada, leva uma vida faustosa: bebe e come à tripa-forra. Sobre esse paradoxo, tenho algumas questões a fazer ao leitor: se esses “engravatados” da Renamo nutrem um amor figadal por Afonso Dhlakama, porque é que eles não abandonam as suas mansões e vão viver em companhia do seu líder nas gélidas grutas da Gorongosa?
Porque é que esses dirigentes da perdiz não trocam os colchões medicinais e as poltronas de lã que acomodam suas urnas carnais por improvisos de bambe existentes nas bases da Renamo? Falam mal das Forcas de Defesa e Segurança. Esquecem-se que quando se deslocam em passeatas com suas famílias são acompanhados em viaturas protocolares de luxos, fortemente protegidos pelas FDS. Ademais, como funcionários públicos em mais do que uma sinecura, quem os protege são as FDS.
A esses defeitos, acrescentam-se outros agravantes: não consolam as vítimas civis dos ataques perpetrados pelo seu braço armado. Não repudiam a violência. Não marcham pela paz. Eu ia jurar que mais da metade desses “engravatados”, incluindo alguns leitores que me insulta pelas posições que tomo em defesa da razão, não conhecem e nunca sequer leram a epístola estatutária da Renamo. Dizem ser democratas. A pergunta que coloco é esta: ser democrata é pautar pelos discursos de paz ao mesmo tempo que se preparam acções belicistas para que a nação moçambicana se parta entre duas metades inimigas?
A Renamo pouco se interessa pelo poder político. Onde foi governo, em algumas autarquias, pouco fez para permanecer no poder. Um partido que se recusa a concorrer em pleitos eleitorais, como pode ser governo? Um partido que se recusa a entregar as armas, como pode ser amante da paz? Um partido que aglutina homens armados para desencadear acções de guerrilha contra o “zé-povinho”, não pode desejar o bem do povo. Portanto, não é a partilha de poder que está em causa. A Renamo quer ter acesso aos recursos naturais para poder nutrir financeira e militarmente os seus guerrilheiros.
Os seis governadores poderiam ser nomeados, mas isso não iria resolver o problema da Renamo. Que diferença faria para a Renamo o empossamento de 6 ou 60 dirigentes se o partido está fragmentado? Porém, a diferença seria maior e eficaz se o governo por um golpe de misericórdia decidisse doar à Renamo 8 ou 80 megaprojectos existentes em Moçambique. A probabilidade disso acontecer é nula. Seria o mesmo que, pode ser este o entendimento da Frelimo, entregar a chave do galinheiro ao lobo ou a chave do celeiro da maçaroca à perdiz.
Já escrevi uma dezena de vezes que o sucesso da Renamo não está no número de vítimas que os seus ataques provocam, mas sim – e fundamentalmente – na capacidade de dialogar e de interagir com o seu eleitorado. As lideranças da Renamo já não fazem o trabalho de campo (conquista ao eleitorado). Fazem exactamente o contrário: o trabalho de guerrilha. Para o efeito, usam as televisões e os jornais para promoverem suas acções belicistas. Isto fragiliza a própria Renamo, daí os desaires nos pleitos eleitorais. Em face do acima exposto, termino citando John F. Kennedy “As televisões podem mostrar quem deu o primeiro tiro, mas a história dirá quem ganhou a guerra.” ZICOMO (Obrigado).
P.S.: Em Moçambique existe a Comissão Nacional dos Direitos Humanos (CNDH). Mas há muitos moçambicanos que se interrogam qual seja o papel dessa instituição, numa altura em que o país está a ser dilacerado pelo conflito militar.
WAMPHULA FAX - 01.03.2016