Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Agora em Moçambique para falar com o Governo, com a Renamo e o com o MDM a União Europeia vem “lavar roupa que contribuiu para sujar”.
O reconhecimento precoce e injustificado de resultados eleitorais ou uma posição de aceitação sistemática de mediocridade técnico-eleitoral assim como de todo o emaranhado judicial lesivo da democratização de Moçambique têm sido recorrentes por parte da União Europeia.
De “campeões da democracia” de facto se espera muito mais. Um tratamento paternalista que acaba vendendo uma democracia de segunda classe para Moçambique e outros países africanos está-se mostrando um instrumento de desestabilização e de promoção de violência política. Dizem que vêm observar eleições e que a sua presença dará credibilidade aos processos eleitorais, mas acabam por defraudar as expectativas, pois os seus relatórios não espelham a verdade. As suas declarações condicionam a vida política e lesam a vontade popular expressa pelos votos. Aconselham a que os opositores se calem e não reclamem, ao mesmo tempo que financiam o Orçamento Geral do Estado. Esta estabilidade comprada com fundos silencia a oposição e fortifica um regime habituado a falsificar resultados eleitorais.
Nesse sentido, a UE tem sido um parceiro externo parcial e nocivo para as aspirações de democracia que os moçambicanos querem e merecem.
De ex-colonizadores que conhecem a História de África e de países pretensamente democráticos, tem-se visto que se aliam a déspotas e até financiam regimes ditatoriais desde que seja do interesse daquilo que denominam os seus “interesses estratégicos”. Claro que quem determina e atribui categoria aos diversos interesses em jogo
No lugar de equidistância e pressão para que a separação dos poderes democráticos se consolide, trazem paliativos e declarações cosméticas entorpecentes.
Existe grande dependência de Moçambique em relação ao financiamento externo do seu OGE, e os europeus sabem de fonte limpa que um regime como o de Maputo está pronto a recorrer a outras fontes para funcionar e sobretudo para se manter no poder. O “amigo chinês” está atento e com dinheiro fresco para distribuir a quem tenha o que precisa. E Moçambique tem o que os chineses, indianos, americanos, brasileiros querem.
Portugal e União Europeia perderam ao longo dos anos a sua posição de principal financiador de Moçambique.
Moçambique não precisa de ingerência paternalista nos seus assuntos internos e muito menos de algo que afecte a sua soberania. Mas é facto de que algo deve ser feito para que a cooperação internacional cresça e consubstancie as proclamações frequentes de democracia apregoada.
A representante da EU em visita a Maputo traz alguma novidade? Vai ajudar as partes a engajarem-se de forma frutuosa num diálogo pacificador?
Alguém tem de travar a beligerância de forma efectiva, e isso requer algum sentido prático, musculatura e peso na arena internacional.
Os esforços internacionais estão sendo descoordenados, e isso parece do interesse dos que poderiam influenciar.
Existe razão para acreditar que cada passo é dado tendo em conta interesses particulares específicos. Ninguém quer prejudicar aquilo que é percebido como parte da agenda nacional por causa de um país periférico sem expressão no concerto das nações. Moçambique não está no Médio-Oriente, e o que aqui aconteça não vai alterar a balança do poder no mundo.
E como se pode depreender da postura e posicionamento dos políticos moçambicanos, teremos mais sessões ditas de diplomacia, que se resumirão em “conversa fiada”, sem consequências “por aí além”.
É momento de ver aplicados todos os instrumentos de pressão nas mãos das potências internacionais e de orgãos como a ONU.
A União Africana está perdendo relevância e estranhamente não consegue agir atempadamente em nenhuma das zonas de conflito no continente. Emite declarações posteriormente à eclosão da violência.
Marchas das igrejas e sociedade pela paz são manifestamente insuficientes e até patéticas, em alguns casos, quando se pode verificar que são encomendadas e patrocinadas pelos detentores do poder.
Os que se batem pela paz através de palavras são bem-vindos, mas deveriam estar na linha da frente contra a fraude organizada que recebeu vista grossa de observadores eleitorais africanos e europeus. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 26.02.2016