EM vários povoados da localidade de Nkondedzi, no distrito de Moatize, e de Chibaene, Thanga e outros, em Tsangano, na província de Tete, homens armados da Renamo beneficiavam do apoio e protecção de uma parte da população, segundo dados apurados pelo “Notícias”, na sua recente deslocação àquelas regiões do país.
São zonas que até há bem pouco tempo se achavam sob forte influência da Renamo, o que propiciou a instalação de homens armados pertencentes à esta organização política. A partir de então, a autoridade do Estado e a acção governativa tornaram-se fracas.
É que à margem do deslocamento da população, começou a observar-se a paralisação gradual das aulas em diferentes povoados e o comércio e a saúde exercidos de maneira titubeante.
Naturalmente que o Estado não podia assistir impávido e sereno à perturbação da ordem e tranquilidade públicas. Neste sentido, destacou para as zonas em alusão contingentes das Forças de Defesa e Segurança (FDS) para perseguirem os perturbadores da ordem pública, no caso os homens armados. Nesta perseguição, as FDS chegaram a desactivar, ou seja, a destruir um acampamento da Renamo no povoado de Monjo, tendo os homens armados fugido em debandada e se albergado, uns nas florestas e outros nas palhotas da população. E é a partir destas palhotas que efectuavam emboscadas e incursões contra as posições das FDS.
O “Notícias” soube então que face a este cenário, as Forças de Defesa e Segurança tiveram que reagir com acções contundentes contra os novos esconderijos dos homens armados e, em consequência, gerou-se nestes povoados muito pânico. Parte desta população, que albergava os portadores ilegais de armas de fogo, contestava a presença das Forças de Defesa e Segurança, alegando que antes coabitava com os homens armados.
Só que estes, já numa situação de desvantagem no teatro das operações, iniciam uma campanha de desinformação, incitando a população para deixar as suas residências para o vizinho Malawi, pois iniciariam acções militares contra as FDS. Esta campanha foi muito mais forte em Nkondedzi e Chiandame. É assim que a partir de Julho de 2015 se começa a registar a entrada de muitos moçambicanos no distrito fronteiriço de Mwanza, no Malawi, principalmente nos povoados de Kassuza, Kapise, Luwani, Makanani e Mpeni. Porém, os números não eram muito expressivos. A nossa Reportagem soube que na primeira vaga foram 701 pessoas, de entre as quais 76 de nacionalidade malawiana que regressavam ao seu país, fixando residências nos arredores da região de Kapise,
hoje transformado em centro de acolhimento daquela população.
A província de Tete faz fronteira com a República do Malawi, numa extensão de 610 quilómetros.
Refira-se que no período compreendido entre Outubro de 2015 e Janeiro de 2016, as confrontações militares entre as FDS e os homens armados da Renamo abrandaram mas, contrariamente ao que se podia esperar, passou a ocorrer um êxodo populacional considerável para aquele país.
A nível interno, porém, não se registava nenhum movimento acentuado da população à procura de segurança, por exemplo, nas sedes distritais ou junto às esquadras da Polícia ou ainda em outros lugares, digamos, relativamente seguros.
Logo, torna-se fácil perceber que a saída massiva da população para o vizinho Malawi e a consequente recusa em regressar ao país, conforme testemunhados no centro de acolhimento de Kapise, se enquadra numa ampla acção política da Renamo para a execução do seu plano subversivo.
Aliás, a Renamo esperava executar o seu plano a partir de 1 de Março corrente, o que não chegou a acontecer, dado que todos os seus homens armados pelo menos nas regiões aqui indicadas foram desbaratados. Alguns deles continuam fugitivos nas densas florestas, outros rumaram para Malawi e muitos outros ainda em parte incerta. Alguns acabaram detidos para responderem pelos seus actos. A verdade, porém, é que a acção destes homens, sobretudo em Nkodendzi e Monjo, reduziu-se a uma total insignificância, principalmente com a destruição dos seus esconderijos.
Soubemos também que as Forças de Defesa e Segurança continuam estacionadas naqueles povoados e intensificam as suas acções de perseguição aos homens armados com o simples intuito de devolver a ordem e tranquilidade públicas.
Do outro lado da fronteira, isto é em Kapise, onde muitos cidadãos buscam “refúgio”, o “Notícias” conversou com alguns deslocados, os quais disseram abertamente que jamais regressarão a Moçambique enquanto não houver alternância do poder político. Isto mostra claramente que os que assim pensam são alvo de instrumentalização política protagonizada pela Renamo, pois
a alternância política é feita nas urnas e não por decreto.
O chefe da localidade de Nkondedzi, Orlando Aviso Supinho, que por várias vezes escapou a actos protagonizados pela Renamo, disse-nos que uma parte da população, sobretudo a que se identifica com o partido no poder, abandonou o povoado temendo os raptos, assassinatos e outros desmandos protagonizados por homens confirmados como sendo da Renamo.
“Mas tudo está a ser feito no sentido de se trazer essa população a fim de dar continuidade aos seus trabalhos. Muitos deixaram os seus pertences e no Malawi vivem em condições de desastre humanitário”, afirmou Aviso Supinho.
NOTÍCIAS – 10.03.2016