No Malawi, o centro de Kapise que acolhe milhares de moçambicanos está isolado do resto do país devido as intensas chuvas.
A via de acesso a partir da sede do distrito de Mwanza está intransitável e o pior poderá acontecer se continuar a chover nos próximos dias.
O facto acontece numa altura em o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, ACNUR, tem vindo a pressionar o governo do Malawi para que os deslocados moçambicanos tenham estatuto de refugiado, num exercício que poderá culminar com a transferência destes de Kapise para Luwani.
Deste modo, Malawi e o ACNUR vão selar a sua estratégia de conceder o estatuto de refugiado aos deslocados moçambicanos, uma iniciativa contrária á vontade do governo moçambicano que defende o regresso destes às suas zonas de origem, onde reina um ambiente de paz e tranquilidade.
Alguns segmentos da sociedade malawiana, incluindo a imprensa questionam a forma como o governo de Peter Mutharika está a lidar com a questão dos moçambicanos dando azo a uma série de interpretações ou de interrogações à mistura, com alguma incoerência na abordagem do assunto.
Um colunista do Jornal Nation questiona, por exemplo, não compreender a pertinência da transferência dos moçambicanos de Kapise para Luwani, situado no interior do Malawi, numa altura em que o próprio país se debate com a falta de alimentos para cerca de três milhões de pessoas devido ao fenómeno El Niño.
Malawi está igualmente debaixo de sanções financeiras para o seu orçamento devido ao escândalo de corrupção. Alguns analistas acreditam que o país pode estar a tirar alguns dividendos com a permanência dos deslocados moçambicanos no seu território.
Escrevem alguns jornais malawianos que em nome da ajuda humanitária para os deslocados moçambicanos, Malawi pode estar a gerar uma forte dependência e também um grande negócio, uma vez que a ajuda nem sempre é dada sem interesses próprios.
Neste momento, o governo malawiano e o ACNUR tentam a todo custo conceder o estatuto de refugiado aos deslocados moçambicanos, o que para Adérito Matangala, especialista na matéria, considera uma violação flagrante ás convenções internacionais.
Algumas fontes admitem, porém, que a classe política no Malawi também pode estar dividida em torno da presença dos deslocados moçambicanos, com a maioria a defender o regresso destes a Moçambique.
RM Lilongwe – 25.03.2016