Primeiro ano da governação de Filipe Nyusi
- Académicos, políticos, estudantes e sociedade civil, no geral, analisaram o primeiro ano da governação de Filipe Nyusi e, apesar de existir ainda uma réstia de esperança, são consensuais no entendimento de que Nyusi prometeu muito, mas pouco implementa
O Centro de Integridade Pública (CIP), em parceria com o Observatório do Meio Rural (OMR) e Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE) organizaram, esta quartafeira, na cidade de Maputo, a segunda conferência subordinada ao tema “Economia e Governação – Desafios e Propostas”.
A tonalidade das discussões incidiu na perspectiva de se tentar dissecar em torno do primeiro ano do governo liderado por Filipe Jacinto Nyusi.
Com a sala de conferências das Telecomunicações de Moçambique completamente cheia, os presentes, recorrendo a exemplos comparativos concretos, concluíram e em coro disseram que não estavam satisfeitos com o primeiro ano de governação de Filipe Nyusi. Para esta conclusão recorreram, por exemplo, ao conteúdo que marcou a tonalidade discursiva da cerimónia de empossamento do Presidente da República.
No discurso de tomada de posse, segundo deram a conhecer os participantes, o Presidente da República deu grande esperança aos moçambicanos, tendo em conta o nebuloso momento económico e político que o país atravessava, com a criminalidade, o custo de vida e a tensão política e militar a atingir o apogeu. Mais do que combater energicamente estes fenómenos, Filipe Nyusi assegurou que, no seu governo, caberiam todos os moçambicanos, tendo em conta que as “boas ideias não têm qualquer cor partidária”.
Pouco mais de um ano depois, as críticas públicas se ouvem sobre as promessas supostamente não cumpridas por Filipe Nyusi. Este entendimento e reclamação foram retomados ontem, pelos participantes na 2ª conferência sobre economia e governação.
Há até entendimento de que o cenário piorou tendo, por exemplo, às supostas perseguições e assassinatos de membros da oposição, realidade que contraria o entendimento de partilha e discussão acesa de ideias diferentes.
A discussão sobre o primeiro ano de governação de Filipe Nyusi foi aberta pelo politólogo e director do Mecanismo de Apoio à Sociedade Civil (MASC),
João Pereira, que, no geral, classificou o actual momento político, social e económico como extremamente mau.
Para ele, actualmente se vive uma política de fechamento, do medo, do respeito ao chefe e governante, se esquecendo da obrigação de o dirigente e governante respeitarem igualmente o povo que os elegeu.
Pior ainda é que o debate público se circunscreve simplesmente ao poder político, onde os cidadãos são classificados e alinhados de acordo com os seus posicionamentos públicos.
“Queremos respeitar os dirigentes, mas queremos também ser respeitados.
Não se pode entrincheirar os moçambicanos à Renamo e à Frelimo”- disse João
Pereira.
Já na abordagem do tema sobre o impasse político neste primeiro ano de governação, o pesquisador, director do IESE, e docente universitário, Luís de Brito, colocando sete pontos para discussão, deu a entender que, no fim do dia, os moçambicanos devem cobrar responsabilidade e responsabilização ao governo do dia, apesar de a Renamo ser também um actor válido na existência e na busca de saídas para se sair do actual problema.
Aspectos chave tocados por Luís de Brito, no sentido de alinhavar possíveis razões por trás do que o académico chama de “guerra escondida”, incluem as promessas de Nyusi no acto de empossamento; os problemas que marcaram o processo eleitoral; a existência de um partido-Estado e ainda os aspectos envolventes da assinatura do Acordo Geral de Paz.
Já António Francisco, director de investigação do IESE, abordou o tema: “Estratégia de crescimento e Orçamento do Estado: desta vez é diferente?
A conclusão, em termos sintécticos, foi a de que não havia diferença nenhuma. A estratégia de crescimento continua a mesma e baseia-se na maximização do crescimentoeconómico com recurso às poupanças externas, daí, os consequentes e inevitáveis problemas criados por falta de um investimento sustentado na poupança interna.
João Mosca, professor universitário e director da OMR, também chegou à conclusão de que as políticas do sector da agricultura continuam as mesmíssimas, havendo necessidade de mudança de paradigma, caso o país queira efectivamente assegurar alimentos para as suas populações.
Mosca apresentou o tema: “Agricultura e desenvolvimento Rural. Em busca de um novo paradigma”.
MEDIA FAX – 24.03.2016