Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected] )
“É verdade que muitos eleitos não estão lá por mérito reconhecido, mas só por terem feito o tirocínio nas 'jotas' dos respectivos partidos” Pe. Manuel Maria Madureira da Silva.
E u não tiro meu chapéu para o governador de Tete pelas seguintes razões: é um governador politicamente fraco que faz retroceder o desenvolvimento da província. É um governador que insulta o seu próprio povo. Um povo em nome do qual fala e pelo qual faz tão pouco. Um governador nefelibata. O governador de Tete é um homem sortudo, mesmo depois de tanta aberração contra o seu próprio povo, ainda permanece no cargo. É dos mais afortunados governadores do país, por estar a governar uma das mais ricas províncias do país em termos de recursos minerais e energéticos. Paradoxalmente, Tete é uma das províncias mais pobres do país. Coitado da minha gente, não tem eira nem beira.
Estive em Tete em Novembro último e fiquei profundamente desiludido com o agachar da província do ponto de vista económico e social. A pobreza grassa por toda a parte. As pequenas e médias empresas fecham portas todos os dias por insolvência. O desemprego atingiu caudais elevados de que há memória. Dezenas de milhares de pessoas encontram-se a viver em situações precárias, sem água potável e sem uma ramada para albergar suas urnas carnais. O precioso líquido chega com restrições, o mesmo acontece com a energia eléctrica. As instituições públicas funcionam mal, caracterizado pelo péssimo atendimento e cobranças ilícitas. A prostituição prolífera e os responsáveis para mitigar o vírus da SIDA permanecem em estado dormente. A falta de estratégias de desenvolvimento faz com que zonas tradicionalmente agrícolas como Angónia, Tsangano, Macanga, Zumbo, Marávia, Mágoè, Changara, Zobué, tenham sido transformadas em locais desérticos. As vias de aceso parecem pistas de aterragem de bombas nucleares. Os reassentados pelas mineradoras são tratados como andrajosos. A ausência de políticas de incentivo ao turismo, somada à crise político-militar, faz de Tete um destino não recomendável. Se realmente o executivo prestasse tanta atenção ao turismo, outra sorte teria a província de Tete. Talvez estivesse hoje no pódio do desenvolvimento nacional e, quiçá, mundial. As populações vivem recebendo injecções de esperança de um futuro tardio. Em cinco anos, Tete andou devagar, devagarinho e parado. E continua firme nesse rumo da hecatombe.
A estes problemas juntam-se à falta de bancos em locais estratégicos, onde a população continua a enterrar dinheiro. É o metical que se perde, porque o governo provincial não é capaz de identificar prioridades. O executivo de Tete, perante esse cenário desolador, nada faz para inverter a situação. Gere-se querelas políticas em lugar da administração pública. Creio que o governador, apercebendo-se do fracasso do seu executivo, tenha optado em lançar farpas contra os seus governados. É da natureza humana esta sentença: somos paternalistas dos erros que cometemos e a melhor forma de defesa, reza o ditado popular, é o ataque. Ataque contra quem? Contra o seu próprio povo!!!
O jornal MULAMBI (editado na cidade de Tete) do dia 9 de Março de 2016 tem por título “Governador de Tete poderá ser julgado”. Em causa está o uso indevido de viaturas de Estado. Para ser mais exacto, transcrevo na ínte-gra o texto introdutório: “O governador da província de Tete, Paulo Auade, poderá sentar no banco dos réus, pois, está provado e ele próprio admite que usou bens do Estado para fins pessoais. Mais precisamente, mobilizou três viaturas e pessoal do Estado para acompanhar sua filha ao Zimbabwe, aonde foi continuar com os estudos.” A ser verdade esta informação, o governador está desafiante e nem dá mostras de arrepiar caminho.
Como natural de Tete e vergôntea de um dos guardiões dos valores culturais e institucionais da província, não tenho nenhuma predilecção por este governador. Sinto que o governador está a esforçar a correia para um motor gigante e potente como são Tete e a sua gente. A população está a definhar porque o timoneiro da província não consegue perceber que possui diante de si o capital humano, capaz de colocar a província a andar para frente. E enquanto os políticos não compreenderem que o futuro de qualquer lugar, Tete não é excepção, está na qualificação e bem-estar da sua população, infeliz será o governante que apostar como seu cavalo de batalha o poder. O poder além de efémero equipara-se a sabonete, dizia o meu amigo Nkulu. Sabonete, independentemente da marca, é sempre aromático, mas dura pouco tempo quando utilizado. É a geração de gente formada e capaz, ancorada ao legado de valentes homens libertadores deste país, que conduzirão a nação moçambicana a patamares elevados de desenvolvimento económico, político e social. REPITO: É a geração de gente formada capaz de catapultar o turismo de Tete. Capaz de transformar o rio Zambeze no rio do turismo, da prosperi-dade e do desenvolvimento económico. É a gente formada que rompe com a pobreza e põe o país na rota do progresso, com menos desigualdades e com mais justiça social. É a gente formada que sabe construir pontes e abrir portas ao diálogo, independentemente das diferenças que possam existir. É a gente formada (e não o poder político) que torna os países potencialmente ricos. Uma parte do país, senhor governador, está em Kapise a vegetar. É com aquela gente que o senhor governador deve contar para abrir machambas, para abrir caminhos, enfim, para construir o amanhã. É por estas e outras razões (não pessoais) que eu não tiro o meu chapéu para este governador. Tal como escrevi na semana passada, aqui no Wamphula Fax, termino enfatizando que com um governador como este, que insulta o seu povo, Tete não precisa de inimigos. Zicomo (obrigado e um abraço nhúngue).
WAMPHULA FAX – 14.03.2016