Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected] )
“O azarado não tem outra medicina que não a esperança. ” – William Shakespeare É um facto indefectível que o mandato do presidente Filipe Nyusi começou de modo curvilíneo e labiríntico devido mormente a actual situação política e militar e a “canzoada” de dívidas do Estado, contraídas pelo governo de Armando Guebuza, mas pode terminar de forma recta e triunfante se souber aglutinar o pensamento e o labor de todos os moçambicanos. Custa-me acreditar na eficiência e eficácia de outro antidoto, para ultrapassar os dois “assados”, sem o premente envolvimento de todas as forças vivas da sociedade moçambicana. Quando um país está à beira de exaurir económica e financeiramente é mister que o governo desse país “acabe”, literal e momentaneamente com todas as formas de “oposição política”, criando, destarte, um governo de salvação e unidade nacional.
A consecução deste tipo de paradigma não significa necessariamente a inclusão de figuras da oposição, no governo, mas fundamentalmente estabelecer uma plataforma comum de diálogo e de gestão da coisa pública. É claro que tudo isto impõe algumas cedências, ou seja, para ser mais exacto, implica uma certa “humilhação” política do partido no poder, algo que, em Moçambique, aconteceu no governo de Joaquim Chissano. Sei que é duro dizer isto, até porque esta posição é contrária aos desígnios do governo, mas é a única forma viável e saudável para termos uma paz infinita no país.
Não sou especialista em economia, mas aprendi durante o estádio que permaneci no garimpo da vida académica que o reescalonamento da dívida pública não anula a dívida em si, nem silencia o roncar ensurdecedor do estômago vazio do povo, pelo contrário, aumenta os prazos de pagamento e dos juros estabelecidos, bem como o risco de inadimplência. Portanto, com o conflito político-militar em marcha, os riscos de endividamento e de inadimplência são cada vez maiores. O presidente Nyusi terá que fazer pactos estratégicos, inclusive com o “diabo”, para inverter o estado clínico – político, económico e social – do país.
Um olhar mais acurado à actual situação política-militar permite concluir que a actuação dos homens armados da Renamo afectam a dinâmica económica do país. Os relatos de empresários e até mesmo de “desenrascados da vida” que decretam insolvência por causa do conflito militar não são poucos, um pouco por todo o país. Hoje a batata reno é comprada nos mercados informais a preço de 500 meticais, contra os anteriores 200 meticais. O tomate e a cebola dispararam a preços astronómicos. O “elevador da desgraça” também fará subir em breve o preço do pão, da energia eléctrica, da água potável, etc. Quero deixar bem claro que um conflito militar pode até ser isolado/localizado, mas as suas consequências serão sempre globais. O tiro que mata em Santungira afecta o familiar que está em Changara, prejudica o comércio na Matola, fere a estrutura social em Caia, deixa órfãos em Muxúnguè, fecha escolas em Gorongosa, carcoma o desenvolvimento do país. Por mais isolado que seja o conflito, afecta todo o país. Já aqui escrevi amiúde que a dor de uma ferida não só tem efeitos no local, como abrange o corpo todo.
É o país inteiro que está a ser dilacerado por este conflito absurdo e injustificável. O líder máxima da Renamo, Afonso Dhlakama não mentiu quando disse que o presidente Nyusi não teria uma governação fácil, pois os resultados dessa ameaça surgem aos olhos de todos. Ao contrário do que algumas pessoas pensam, eu não vejo a actual crise económica e financeira como uma fatalidade. Dezenas de vezes escrevi, nestas minhas centelhas, que um abscesso quando surge no corpo humano deve ser retirado, sim, mas a sua existência é útil para a regeneração do nosso corpo e para a medição da nossa resistência perante a dor.
Temos que saber resistir a dor marchando para a frente, tal como no passado recente fizeram os nossos antepassados na conquista pela independência. O que pretendo, então, dizer com isso? A resposta assenta numa base comum: as dívidas contraídas pelo governo do presidente Armando Guebuza devem, sim, preocupar o actual executivo de Filipe Nyusi, mas não devem desfalecer a marcha da vitória.
Que este momento sirva, outrossim, de pretexto para encetar estratégias de combate ao despesismo. Por outro lado, é uma oportunidade para o presidente Nyusi materializar a sua política de desenvolvimento. Da nossa parte, como patrões, devemos testar a capacidade de resistência dos nossos dirigentes. (CONTINUA…).
WAMPHULA FAX – 25.04.2016