Por Álvaro Carmo Vaz *
Começam a faltar-me palavras para falar de Moçambique. Penso em EMATUM, Proindicus, Base logística de Pemba, Renamo, Frelimo, Dhlakama, Guebuza, Chipande, governo, dívida, corrupção. Parece que estamos mergulhados num lodaçal, sinto-me sujo, contaminado, como se o ar se tivesse tornado pestífero. Faltam-me palavras, falta-me vontade de falar da minha terra.
Nos difíceis anos 80, naquele tempo em que faltava quase tudo mas não nos faltava a ideia de serviço público nem o sentido ético nem o ter vergonha na cara, dizíamos a brincar na noite do fim do ano: O novo ano vai ser melhor, pior que este que agora acaba é impossível. Depois descobríamos que era possível.
Agora, cada vez que pensamos que já batemos no fundo, que os nossos dirigentes não podem ter dado ainda mais um golpe, descobrimos que o fundo é ainda mais fundo, que nos deram mais um golpe.
Por causa disso, vamos ter mais desemprego, menos professores, menos saúde, mais desnutrição infantil, mais crianças sentadas no chão nas escolas.
Por causa disso, a nova geração vai crescer mais desesperançada e mais cínica.
Por causa disso, os milhões que já vivem mal vão passar a viver ainda pior, num sentimento de desespero que tantas vezes leva a formas violentamente irracionais de revolta, espada de Dâmocles a pairar sobre as nossas cabeças.
Por causa disso, vamos ficar completamente nas mãos de FMIs ou dos chineses ou da puta que os pariu a todos.
Por causa disso, a independência que custou tanto sangue, tantas mortes, tanta tortura, tantas vidas destruídas, vai ficar limitado àquilo que Samora Machel dizia que nunca devia ser o único resultado: um hino, uma bandeira e dirigentes nacionais.
E o mais doloroso de tudo isso é que este isso é da responsabilidade de homens da geração que lutou pela independência, que a proclamou há pouco mais de quarenta anos.
Sinto-me demasiado velho e cansado para lutar contra este futuro pior.
Limito-me a chorar.
* Engenheiro especialista em barragens e professor na Universidade Eduardo Mondlane
26.04.2016