Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected] )
Nós achamos mal. Nós hoje achamos que o político serve. Não se serve. O político que se serve é um homem que atraiçoa a nação a qual serve. Ou seja, o político não se serve, serve. Excerto de uma comunicação do Professor José Hermano Saraiva (1919-2012), historiador português.
Estou em viagem e no intervalo de uma das asinhas escalas, escrevi esta crónica, ciente de que a mesma pode estar minada de alguns erros ortográficos, polarizados pelos factores circunstanciais. Podem não ser muitos, mas, como diria o meu amigo e poeta Nkulu, em venenos não se trabalha com quantidade, basta apenas a existência de veneno, pelo seu poder mortífero. Os erros, uma vez cometidos, servem de instrumentos para os detractores destruírem a autoridade moral e científica de quem realmente trabalha para remendar as hecatombes da humanidade. Os excrementos humanos não se reciclam em alimentos, por isso, por mais que eu tente justificar o meu alibi, os erros permanecerão expostos. Cabe a um cada dos meus leitores reconhecer que os erros também são produto do trabalho, pois só “não erra quem nunca faz nada.”
Eu tenho algumas dúvidas. Não sei se a Frelimo vai ceder na partilha do poder, também não sei se a Renamo vai desarmar seus homens e mentes. A Frelimo precisa do poder para dominar; a Renamo precisa de seus homens armados para destruir a hegemonia da Frelimo. É possível o entendimento, desde que ambas as partes congelem os diferendos e olhem pelos superiores interesses do país. Sabemos que os conflitos político-militares não terminam nunca, gerem-se. Então, que se congele este conflito por algum tempo, até à recomposição do país. Não estou a ver uma solução mágica nos próximos tempos para congelar o conflito político-militar, ainda que o presidente Nyusi se esforce em ensaiar outras mezinhas, senão a partilha do poder com a oposição. Mais vale a partilha do poder (péssimo acordo) que travar o braço-de- ferro (sem acordo). O povo está a morrer. O presidente Joaquim Chissano conseguiu congelar o problema, sem nunca ter criado uma comissão da verdade e reconciliação, por entender que a palavra de honra gera garantias. Sim, mas em Homens sérios. Nelson Mandela, na África do Sul, também copiou o modelo de Chissano e conseguiu uniu os sul-africanos. Hosiah Chipanga, numa das suas lucubrações musicais, proferiu: Deus salve o capim, porque os touros estão a lutar. Antes de lutar, os touros comem o capim. Hoje os touros lutam e estragam o pasto. O povo é sacrificado por servir os políticos, e os políticos servem-se do povo.
Eu compreendo o presidente Nyusi, realmente não é fácil partilhar o poder com uma Renamo assassina que actua como o carvão: quando não mata, suja. Quando não usa palavras demolidoras, pauta pela via castrense. Eu compreendo que a Frelimo não aceite partilhar o poder com um líder que se comporta como catavento. Hoje anuncia a aurora da paz, amanhã municia seus homens para lançar ataques contra alvos civis e militares. Como confiar um cargo a pessoas que de dia estão no parlamento e de noite tornam-se arruaceiros? Aquilo que produzem de dia, no parlamento, é consumido de noite, na “parte incerta”. Como confiar em pessoas inconfiáveis? Que garantias pode dar pessoas “sem palavras”?
Não sou apologista da despartidarização da Renamo, como alguns advogam, porque isso iria aumentar os problemas do país. Em Moçambique as coisas estão maduras para os conflitos étnicos-tribais. Durante muito tempo as lideranças da Renamo foram semeando o tribalismo entre os moçambicanos. Armaram as mentes das pessoas, sobretudo das menos resilientes. Hoje os sinais de tribalismo são visíveis, basta olhar para a fileira militar da própria Renamo e o ódio que ela nutre pelo sul. Já que a via do golpe de Estado falhou, demonstrada através da tentativa de captura das localidades, dos distritos e das províncias, a Renamo tem logrado êxitos na campanha de angariação de mentes. Ela cresce rápido no campo, porque é aqui onde estão a maior parte dos “esquecidos” da sorte: os frustrados, os desempregados, enfim, os infelizes da vida. Esses vêem a Renamo como a salvação. Penso que o próximo encontro da Frelimo deve dedicar, a par de outras agendas, aos problemas da juventude. ZICOMO e um abraço nhúngue ao meu querido amigo, Marcolino Moco, entre outros motivos, pela publicação da “ANGOLA ESTADO-NAÇÃO OU ESTADO-ETNIA POLÍTICA?”.
WAMPHULA FAX – 22.05.2016