Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected] )
“A história ensina, mas não tem alunos”. Antonio Gramsci, filósofo italiano (1891-1937).
A história ensina, mas não tem alunos para aprender que a guerra é uma hecatombe. A guerrilha é como sarampo, ontem em Inhambane, Manica, Sofala e Zambézia, hoje em Tete, terra que acolheu o meu cordão umbilical. Ninguém, salvo engano, detém respostas seguras se a guerrilha da Renamo não vai alastrar-se por outras províncias do país. Um amigo meu, general angolano, disse-me que o guerrilheiro não choca: ataca e foge, por isso dificilmente se ganha uma guerrilha. Estes argumentos parecem ser suficientes para defender o rápido entendimento entre as partes em liça, para o restabelecimento da paz infinita no país.
Esta guerra, perpetrada pela Renamo, é desnecessária para o país. Além de ferir e matar pessoas inocentes, está a retrair o investimento estrangeiro e a partir a espinha dorsal, que dinamizaria o desenvolvimento do país. Adensam vozes críticas da nossa atmosfera académica que defendem, em uníssono, as acções belicistas da Renamo, quer polarizadas por tradicional ódio que nutrem pela Frelimo, e, quiçá, pela independência nacional, como advogam os ataques para forçar o governo da Frelimo a aceitar os caprichos da perdiz. Não sou psicólogo, mas o pouco que sei de psicologia permite-me concluir que estamos perante pessoas sem escrúpulo. E é pena que se tenha acabado com as rusgas sanitárias para o internamento compulsivo de alguns doentes mentais que pululam nas nossas academias.
Gente que se alegra quando as balas mortíferas da Renamo ferem, aterrorizam e matam civis inocente. Até é motivo de festança com comeretes e beberetes à tripa-forra quando elementos das Forças de Defesa e Segurança (FDS) morrem vítimas dos ataques cobardes da Renamo. Muitos carregam ao pescoço crucifixos católicos, demostrando indescritíveis manifestações da fé, mas a verdade é que possuem uma alma podre e assassina. Como pode alguém que consegue atravessar as fronteiras do analfabetismo e da ignorância crónica para apoiar uma carnificina? Eu nunca disse que a Renamo estava totalmente desprovida de razão na interpretação que ela faz sobre a governação da Frelimo, como também reconheci publicamente a bravura de Afonso Dhlakama na luta pela democracia no país. O que nunca concordei, porque sou temente a Deus, é a utilização de armas para impor apetites partidários de malandros. Para mim, a heroicidade de Dhlakama na luta pela democracia, reduz-se a ZERO neste conflito puramente fútil.
Dhlakama não compreende que está a ser enganado pela sua ala política. Terão que me convencer o contrário, com provas mais que demonstradas, para demover a minha certeza. É que o braço armado da Renamo tem vindo a ensaiar a implementação de uma “Renamo renovada”, quer pela senilidade do seu líder, quer pelos interesses económicos e financeiros que o alimenta. Não acompanha o líder no calvário, na famosa “parte incerta”, antes o empurram ao desfalecimento, para depois, feitos quizumbas esfomeadas, disputarem a liderança do partido. Os apóstolos de Dhlakama estão a traí-lo, mesmo quando parecem assumir uma posição ríspida no parlamento. A minha dúvida é saber se uma “Renamo renovada” e desarmada seria diferente da actual, que está sob a liderança de Dhlakama, porquanto a falta de destreza política povoa em muitas daquelas mentes armadas.
Na passada sexta-feira, 6, fui acordado com uma notícia que dizia: “A Renamo já mata em Tete”. Depois ouvi um pacóvio (que o rodapé de uma televisão privada atribui-lhe o estatuto social de “analista político”) afirmar que a Renamo tem de desdobrar-se para forçar o governo a negociar. Por outras palavras, aquele “analista de seis e meia” (para roubar uma expressão de uma leitora) defendia que, para criar plataformas de diálogo com o governo, a Renamo deve ferir e matar civis e militares. Não foram só 3 militares que morreram naquela emboscada, em Tete. É o sonho do país que se adia. Até quando? Tete é parte integrante do território nacional e as FDS têm o dever e a obrigação de manter a ordem e tranquilidade públicas. Infelizmente, esse pacóvio analista dizia, na sua intervenção, que o país não precisa das forças armadas. A este propósito, Nkulu, observador atento da vida política e social do país, escreveu: “Se uma família estiver coesa pode dispensar fechaduras em portas e janelas, porque a coesão é sinónimo de santidade interna e externa: amizade inviolável entre nós e com os nossos vizinhos. Desta forma, Moçambique passará a ser o único fornecedor de moradores ao paraíso! Desenganai-vos.” As FDS não existem para caçar a Renamo, nem para intimidar os países vizinhos. A sua existência serve para garantir e manter, sem qualquer condicionalismo, a integridade nacional. Posso não ter certeza absoluta, se as FDS conseguirão tão cedo quanto possível afastar os homens armados da Renamo da província de Tete, mas tenho plena convicção de que os tetenses jamais aceitarão a guerra. A alma de todos os regedores, incluindo a do meu progenitor, tudo farão para defender a província contra as pretensões belicistas da Renamo. ZICOMO (obrigado e um abraço nhúngue Lello, leitor assíduo destas minhas centelhas).
WAMPHULA FAX – 09.05.2016